Vestido de palito de picolé

Por Rafael Valente*

  • D
  • Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2018 às 17:20

- Atualizado há um ano

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Imagine um desfile de moda de altíssimo nível com tudo que se tem direito, criatividade, difusão de cultura e surge na passarela uma top model usando um lindo vestido feito inteiramente com palitos de picolé reutilizados, conceito proposto para a estação de uma estilista de referência reconhecida como grande ativista ambiental?

A partir desse desfile, quantas pessoas vão sair por aí vestidas com palitos de picolé? Praticamente nenhuma. Qual a viabilidade econômica desse vestido? Negativa. Qual escala industrial? Artesanal. Qual impacto ambiental? Emocional.

Existem diversas outras práticas de sustentabilidade que são como esse vestido, conceituais e que possuem impacto emocional, mas muito pouco ou quase nenhum impacto ambiental. Não desmereço essas práticas e as respeito, vejo um papel de conscientização nelas, entretanto, se realmente queremos um mundo sustentável, precisamos de soluções com escala, viabilidade e alto impacto.

Por muito tempo essas práticas de sustentabilidade com vestido de palito de picolé foram as de maior destaque, pois eram originais e emocionais, porém, de baixíssimo impacto ambiental. De certa maneira, a imagem da sustentabilidade perdeu um pouco a sua credibilidade e, finalmente, isso tem mudado. Ultimamente, ocorre mais interesse por informações mais quantitativas do impacto ambiental real.

A energia solar é um exemplo de solução com escala e impacto ambiental: caiu 90% o seu custo nos últimos 10 anos, e a tarifa de energia elétrica aumentou 51% nos últimos quatro anos. Com a união desses fatores, investir em energia solar já possui rentabilidade quatro vezes maior que a poupança e payback de quatro anos. E o ciclo é virtuoso, a escala aumenta a viabilidade econômica. Isso é causar impacto!

Assim como esse exemplo, temos as lâmpadas LED, os vasos com duplo acionamento, o ar condicionado VRF. E se engana quem pensa que essas práticas de grande impacto só são desenvolvidas no exterior, o LEDMa (Laboratório de Ensaios em Durabilidade dos Materiais da UFBA - www.ledmaufba.com.br), coordenado pelo professor Daniel Veras, tem desenvolvido materiais fantásticos a partir de resíduos e nanotecnologia. Uma das últimas inovações foi uma argamassa autolimpante que captura CO2 da atmosfera. Se 65% dos edifícios de Salvador fossem revestidos com esse material, a cidade neutralizava todo o CO2 gerado.

Nós, do Grupo CIVIL, buscamos inovações desenvolvidas por talentos baianos. Acreditamos muito no potencial transformador do nosso povo e, por este motivo, que em parceria com a Prefeitura de Salvador, lançamos o edital Cidade Sustentável [goo.gl/MWutAh] para encontrar Startups que tratem dos seguintes temas: Construções Sustentáveis; Urbanismos integrado; Saneamento Ambiental; Monitoramento e Licenciamento Ambiental; Energias renováveis e Mobilidade Urbana. As inscrições estão abertas até o dia 12/08/2018. Enfim, espero avaliar ideias viáveis e que possam ter escala para causarmos impacto global.

*Rafael Valente, é engenheiro civil, vice-presidente do Grupo Civil (civil.com.br) e diretor de sustentabilidade da ADEMI. [email protected]