Viagens longas aumentam o risco de trombose

Dica é se movimentar, pelo menos, a cada duas horas

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 31 de dezembro de 2017 às 07:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

Aos 25 anos, é normal sentir dores nas pernas após uma noite na balada ou depois de praticar esportes intensamente. No entanto, no caso de Ravena Carvalho, o motivo da dor em uma perna era outro. A dentista, hoje com 28 anos, sofreu uma trombose em 2014, durante um vôo de Salvador para Miami, nos Estados Unidos. Isso ocorre porque, durante uma viagem longa, o sangue fica muito tempo represado nas veias da perna. A recomendação é evitar bebida alcóolica e aumentar a ingestão de água (Foto: Arquivo CORREIO) O médico neurologista Maurício Hoshino, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que é justamente a contração da musculatura das pernas que faz o sangue ser bombeado de volta para o coração. Quando isso não acontece, aumenta a probabilidade de a pessoa desenvolver uma trombose.

“Eu tive uma dor esporádica e pontual na perna. Passei 15 dias viajando, quando retornei vi que a perna tinha ficado roxa no local da dor. Procurei um angiologista, que identificou a trombose após um exame”, lembra a jovem. Viagens acima de 2h apresentam risco (Foto: Arquivo CORREIO) Recentemente, Susana Vieira também teve uma Trombose Venosa Profunda (TVP) constatada na perna após uma viagem para Miami. A atriz ficou cinco dias internada em um centro de tratamento intensivo no Rio de Janeiro. “Depois de um susto horrível, graças à Deus estou de volta à minha casa”, anunciou a atriz no Instagram logo após o incidente.

Segundo especialistas, dor, inchaço em uma perna, alteração nas veias, vermelhidão ou arroxeamento no local são indicativos de trombose venosa. Eles explicam ainda que o problema é causado quando um trombo, ou coágulo, se forma no sistema circulatório, dificultando a circulação do sangue na região.

“A trombose venosa profunda, se não for tratada, pode levar ao aparecimento de varizes e úlceras. Se o coágulo se solta e chega ao sistema nervoso central ou ao pulmão pode levar à morte”, explica o cirurgião vascular Ítalo Andrade. (Arte CORREIO) Prevenção Para quem vai fazer viagens com mais de 2h de duração, é recomendado que bebidas alcóolicas sejam evitadas e que se ingira muita água “Hidratação é muito importante para evitar a formação de coágulos”, afirma Ítalo Andrade.

Além disso, é importante se movimentar pelo menos a cada duas horas - se possível, levantar da poltrona do ônibus ou do avião e dar uma volta no corredor. Mas mesmo sentado é possível se exercitar: basta movimentar os pés em movimentos circulares ou para cima e para baixo repetidamente.

Pessoas que têm histórico familiar positivo ou que já tiveram trombose devem ter cuidados redobrados antes de viajar “É indicado que essas pessoas procurem previamente um médico especialista para que ele receite anticoagulantes profiláticos que devem ser utilizados duas horas antes de embarcar. Elas também devem usar meias de compressão em todo o trajeto e se movimentar no mínimo a cada duas horas”, explica o cirurgião Ítalo Andrade.

Ravena passou a tomar esses cuidados depois da viagem para Miami em que sofreu uma trombose. “Hoje eu viajo com meia de alta compressão e sempre vou medicada. Também faço uma caminhada de meia em meia hora. Quando não posso levantar, movimento meus pés para frente e para trás como se estivesse costurando em uma máquina” explica ela, que não teve mais problemas desde então. Quem tem histórico de trombose na família precisa redobrar os cuidados (Foto: Arquivo CORREIO) Riscos Algumas pessoas têm maior propensão a terem um fluxo sanguíneo mais lento ou sangue mais espesso, fatores que aumentam o risco de desenvolver trombose. Dentre elas, os fumantes, sedentários, mulheres grávidas, portadores de doenças que predispõem ao problema, como câncer, e colesterol alto. 

O problema é, em geral, tratado com anticoagulantes específicos, que impedem o aumento do trombo e aceleram sua reabsorção pelo organismo, e outros cuidados profiláticos. “Algumas pessoas precisam ser internadas para receber a medicação e outras precisam de procedimentos mais invasivos, como colocação de catéter para aspirar o coágulo”, explica o especialista Ítalo Andrade.

Pelo fato dos sintomas não serem debilitadores, muitas pessoas levam dias para procurar um médico. O neurologista Maurício Hoshino explica que trombose é grave e que requer cuidado: “O maior problema em demorar de iniciar o tratamento é o risco do coágulo aumentar e migrar para o pulmão, o que pode desencadear uma embolia pulmonar. Nesse caso, se o sangue não consegue mais ser oxigenado a pessoa pode ter parada cardíaca súbita”, ressalta o médico.

Além de morte súbita, a trombose pode ainda aumentar o risco da pessoa ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC) “Uma em cada 10 pessoas têm um problema congênito que permite que o trombo se desloque das pernas para o fluxo sanguíneo cerebral, provocando AVC. Quando essa pessoa tem um coágulo, já pode ter um AVC repentino e ir à óbito”, explica o neurologista.

Hormônio é outro fator de risco para a doença 

O uso de anticoncepcionais pode aumentar o risco de trombose em até seis vezes. A informação é do neurologista Maurício Hoshino que alerta que qualquer tratamento hormonal aumenta o risco de desenvolvimento de trombose. “A interferência hormonal pode deixar o sangue mais grosso”.

Quem bem sabe disso é Alice Reis, 26. “Todas as mulheres da minha família tiveram trombose. Minha mãe teve seis vezes. Minha prima mais velha teve embolia pulmonar em decorrência do deslocamento de um trombo logo após a gravidez, e perdeu 80% da função do pulmão. Minha prima mais nova teve trombose, também na perna, associada a uso de anticoncepcional”, conta.

Além do histórico familiar, os médicos recomendam que ela não use anticoncepcionais por conta de sua propensão a ter trombose. “Fiz um exame genético que mostrou que eu tenho mais chances de ter trombose se eu engravidar”.

Já a dentista Ravena Carvalho, 28, conta que não tinha histórico familiar de trombose. Mas um exame detalhado detectou que ela tinha uma alteração genética que a torna propensa a desenvolveroproblema. “Além disso, eu usava anticoncepcional. Agora não posso mais fazer utilização alguma de hormônio”, conta.

Segundo o cirurgião vascular Ítalo Andrade não precisa ter pânico com relação ao uso de contraceptivo hormonal. “O queépreciso é fazer uma avaliação do paciente - se a mulher tem parentes de primeiro grau que tenham trombose ou se ela própria já teve, deve-se fazer exame para detecção de trombofilia. Se o resultado for positivo, ela não pode usar anticoncepcional via oral nem injetável”, esclarece.

Os exames que apontam risco de trombose são indicados em casos específicos. “Se a pessoa tem histórico familiar ou não tiver nenhum fator de risco e apresentar o problema, como quando aparece em uma criança, é indicado que se faça exames para detecção de trombofilia, como pesquisas genéticas”, explica a hematologista Tatiane Martins.