Vice disputado: PSDB e PT competem pelo empresário Josué Alencar

Empresário de Minas se tornou o vice-presidente dos sonhos dos partidos

Publicado em 24 de julho de 2018 às 08:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Guilherme Dardanhan/ALMG

O empresário Josué Alencar (PR-MG) conversou nesta segunda (23) com o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que comanda as negociações do PR junto ao centrão, e com o pré-candidato do PSDB na disputa pela Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB). O encontro também previsto com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), foi cancelado por problemas de agenda do petista.

Nos últimos dias, o empresário mineiro surgiu como o vice dos sonhos dos dois maiores partidos brasileiros. No caso do PT, a expectativa é convencer Alencar a disputar o governo de Minas, como vice. 

Quem acompanha as negociações diz que as conversas com o PSDB estariam mais adiantadas. O líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), disse à Agência Estado que o anúncio da participação de Josué na campanha de Alckmin pode ser feito na próxima quinta-feira, se o desfecho das negociações for positivo. Embora seja politicamente mais ligado a Lula do que ao PSDB, o empresário tem opiniões mais próximas às dos tucanos sobre como conduzir o país.

Josué, que foi batizado Gomes e passou a utilizar o Alencar em homenagem ao falecido pai, o ex-vice-presidente do Brasil José Alencar, deixou o MDB para se filiar ao PR a pedido de Lula. O líder petista sonhava em repetir com a família, dona da Coteminas, a dobradinha que o conduziu por dois mandatos à Presidência da República. Com a complicação da situação eleitoral do ex-presidente, Lula teria chegado a defender a indicação de Josué como candidato à Presidência, com o apoio do PT. Segundo informações publicadas na imprensa, a possibilidade não teria animado o empresário mineiro.

Centrão com Alckmin Alckmin fechou um acordo com o bloco formado por DEM, PP, PRB e Solidariedade, além do próprio PR, na semana passada. O conjunto de partidos indicou Josué. O empresário, no entanto, ainda não respondeu se aceita a indicação. 

Em viagem pelo exterior quando teve o nome indicado, o empresário agradeceu “a confiança que as lideranças depositaram” no nome dele. “Relembro o meu saudoso pai, que dizia que o importante na chapa é quem a encabeça. E acrescentava: ‘Vice não manda nada e deve evitar atrapalhar’”, afirmou em nota divulgada à imprensa na última sexta-feira.“De minha parte, creio firmemente que uma coligação deva estar baseada em programas e ideias que projetem os rumos a serem seguidos pelo Brasil. Recebi com responsabilidade essa possível indicação”, acrescentou.Sem afastar a possibilidade de aceitar o cargo, o mineiro informou que conversaria com os representantes do assunto a respeito do convite. 

“Se ele der o sim a Valdemar, ele vai comunicar a Pimentel e receber o convite do Alckmin. Se ele disser não, ele vai dizer a Alckmin que agradece o honroso convite, mas que, infelizmente, não aceita. Aceitando, a chapa está formada e será anunciada na quinta-feira”, disse ontem José Rocha, antes do encontro entre Josué e Alckmin. Até o fechamento desta edição não havia sido divulgado o resultado das conversas entre os dois. 

O parlamentar evitou falar o que o PR fará caso Josué recuse a indicação. Segundo ele, o nome do empresário é aceito por todos os partidos do bloco. “Josué dá à chapa uma estabilidade e uma confiança muito grande na área de investimento empresarial. Acho que o mercado reagiria positivamente logo no anúncio”, avaliou.

Planos petistas Em abril, quando se desfiliou do MDB para se filiar ao PR, os planos do PT mineiro eram de ter Josué Alencar como um provável vice na chapa do governador Fernando Pimentel à reeleição. O empresário chegou a ter o nome cotado para fazer a dobradinha com Pimentel nas eleições de 2014, mas acabou saindo como candidato ao Senado e foi derrotado na disputa. 

Da parte de Lula, o grande desejo era o de ter o jovem Alencar como o seu candidato a vice, numa tentativa de repetir a dobradinha vitoriosa entre o sindicalista e um empresário bem-sucedido, que o levou ao Palácio do Planalto, após três tentativas frustradas. 

Mas ao que o cenário vem indicando é o tucano Geraldo Alckmin quem sai na frente na disputa pela companhia de Josué Alencar na chapa. Pessoas próximas a ele disseram ser muito provável que ele aceite o convite do PSDB e leve para a campanha propostas na área econômica, principalmente aquelas voltadas para o fortalecimento da indústria brasileira. 

Influência de Valdemar Após a prisão de Lula, Valdemar Costa Neto, dono do PR, ponderou com Josué que seria loucura escorar-se num candidato que seria impedido pela Justiça de disputar o pleito. Uma semana antes da prisão do petista, Josué esteve com Lula, tratando de arranjos eleitorais.  Para Valdemar, acima de tudo, vale o pragmatismo. 

Mineiro, Josué vive em São Paulo, onde gerencia um império da indústria têxtil, com fábricas no Brasil, Argentina, Estados Unidos e Canadá.

No último dia 16, em conversa entre Josué e Valdemar, o empresário colocou-se à disposição para ser vice de quem o centrão indicasse. Quinta-feira, com o desfecho da novela, coube a Josué dizer, em nota, que recebia “com responsabilidade” a indicação para ser vice.

Em 2014, o empresário foi derrotado por Antonio Anastasia (PSDB) na disputa para o Senado, mas não fez feio: teve 3,6 milhões de eleitores, equivalente a 20% dos votos válidos. 

A experiência de quatro anos atrás fez com que o PR pensasse até mesmo em lançá-lo como cabeça de chapa. Após sugestão do presidente do Democratas, ACM Neto, o PR contratou uma pesquisa qualitativa para testar a viabilidade eleitoral de Josué como candidato ao Planalto. O levantamento foi feito em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.

O resultado, segundo informações do jornal O Globo, foi decepcionante. Como não se trata de um levantamento quantitativo, o estudo é focado na análise de pontos positivos e negativos, segundo a visão de eleitores entrevistados. Com os dados, o plano foi abortado: chegou-se à conclusão  do “total desconhecimento, tanto do nome quanto da fisionomia” de Josué.

Expectativa sobre Janaína diminui Um dia após a convenção em que o PSL oficializou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência, a expectativa de que a advogada Janaína Paschoal aceite a vaga de vice na chapa refluiu. Após uma palestra no Clube de Aeronáutica, no Rio, o presidenciável afirmou, ontem, que as chances de que ela tope a missão são de 50%.

A partir do fim da semana passada, a campanha passou a planejar um possível anúncio da parceria entre Bolsonaro e Janaína no domingo, na convenção. A advogada, no entanto, tem alegado questões familiares e ainda não se decidiu sobre o assunto. Ela não deu um prazo para a resposta e, enquanto o comando do PSL aguarda, outras possibilidades são estudadas.“Ela tem questões familiares, dois filhos que parece que não podem sair de São Paulo neste momento. Hoje, (a chance de aceitar) é de 50%”, afirmou Bolsonaro.No domingo, após a convenção, o presidente nacional do partido, Gustavo Bebianno, havia demonstrado confiança e citado o patamar de 95% para as chances de uma chapa com Bolsonaro e Janaína. No entanto, o presidenciável afirmou que o partido abriu conversas com outros nomes. 

Os dois novos cotados são o empresário Luciano Bivar, presidente licenciado do PSL, e o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG). Bolsonaro citou ainda a possibilidade de um militar da ativa integrar a chapa, mas sem citar nomes.

Janaína  reafirmou, ontem, que precisa de mais tempo para decidir se aceita o convite. A advogada, que ficou conhecida nacionalmente por ser uma das autoras do pedido de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, disse que discorda da frase de Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José de Alencar e cotado como vice do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), de que um vice “não manda nada”.  “Definitivamente, não concordo com Josué de Alencar quando diz que vice não manda nada e ajuda quando não atrapalha”, disse.

Jucá enquadra Marun por rede social O presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR), precisou usar uma rede social, ontem, para enquadrar o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), que distribuiu mensagem a parlamentares do partido com propostas de governo para o candidato Henrique Meirelles. 

Entre as iniciativas estão a criação de uma corte que se sobreponha ao STF (Supremo Tribunal Federal), a anistia ao caixa dois cometido em campanhas eleitorais passadas e a cobrança de um valor mínimo para o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).

Jucá afirmou que as opiniões de Marun não representam o posicionamento oficial da legenda e são de “cunho pessoal”. No domingo,  Marun enviou um texto a lideranças propondo as medidas polêmicas. Além disso, Marun afirmou que o governo vetou o apoio do Centrão a Ciro Gomes (PDT), chamando o presidenciável pedetista de “débil mental”. Após a mensagem ser revelada, Marun divulgou uma nota afirmando que não teria usado a expressão se  soubesse que se tornaria pública.

Twitter  No Twitter, Jucá desautorizou Marun ao dizer que os posicionamentos defendidos pelo ministro não são do partido. “O ministro Marun é um membro ilustre do nosso partido, mas as suas posições são de cunho pessoal e não representam o posicionamento do MDB. A nossa proposta para as eleições é clara”, escreveu o senador. O presidente da legenda reforçou que os documentos ‘Ponte para o Futuro’, elaborado em 2015, e ‘Travessia Social’, de 2016, definem as bases de propostas do partido e, no período eleitoral, o pré-candidato à Presidência Henrique Meirelles é o porta-voz dos posicionamentos do MDB.

Rodrigo Meneses e agências