Victor Uchôa: A repetição do óbvio

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Publicado em 15 de abril de 2017 às 05:32

- Atualizado há um ano

Pode ser que eu esteja enganado, mas, até o domingo passado, o último Ba-Vi com torcida mista havia sido disputado em 2007. Foi naquele 6x5 para o Vitória na velha Fonte Nova, um jogo que até hoje lateja na memória de quem viu.Meses depois da partida, em novembro do mesmo ano, o descaso de “autoridades” que só estão soltas porque vivemos no Brasil matou sete pessoas. A Fonte Nova fechou, virou pó, ergueu-se um novo estádio no lugar e, para tristeza de todos os autênticos amantes do futebol, nunca mais tivemos um clássico com torcida mista.Nunca mais até o domingo passado, quando a zona central da arquibancada da Arena Fonte Nova foi ocupada por uma paleta de cores exemplar. Camisas tricolores e rubro-negras misturadas, amigos, familiares, jovens e velhos podendo ver a partida lado a lado com um torcedor adversário, provando que é possível. Foi bonito.Daí, menos de 24 horas após o apito final, soou o alarme: voltaram a tirar da gaveta a desprezível ideia da torcida única. O motivo: antes do Ba-Vi, uma horda de imbecis quebrou o pau na porta da Fonte Nova, provando mais uma vez que a idiotice e a incompetência adoram caminhar juntas.Por óbvio, a briga envolveu os mesmos de sempre: alguns integrantes de torcidas organizadas que, em bando, agem como bestas selvagens, tentando provar (para eles mesmos?) que são mais fortes que os oponentes - só provam que são uns bons idiotas.Por óbvio, frente à vasta oferta, a polícia prendeu alguns, inclusive líderes das tais organizadas, os mesmos que volta e meia participam de reuniões com policiais e promotores e fazem juras de paz e bom comportamento.Por óbvio, a polícia, o Ministério Público e a Justiça teriam todas as informações para manter os imbecis presos ou, no mínimo, garantir que eles não se aproximassem dos estádios em dia de clássico, mas nada de efetivo é levado a cabo.Por óbvio, se esses idiotas que brigam jogo após jogo não forem em cana, continuarão brigando em qualquer lugar, com ou sem torcida única. Basta lembrar que há pouco tempo os imbecis brigaram até durante uma partida de basquete em Cajazeiras – por acaso houve Ba-Vi em Cajazeiras e eu não fiquei sabendo?Por óbvio, quando um adolescente é assassinado com um tiro fora do perímetro do estádio e o suspeito já preso é reincidente em brigas de torcida, duas coisas ficam explícitas: uma é que o crime poderia acontecer em qualquer circunstância, não somente depois do clássico; a outra é que o homicida não deveria sequer estar no jogo.  Por óbvio, as brigas e mortes só serão evitadas com iniciativas concretas das polícias e da promotoria e com um poder judiciário que não tarde nem falhe. Aliás, se torcida única evitasse brigas e mortes, não teríamos tantos casos em estados como São Paulo e Minas Gerais, onde esse desatino já ganhou forma.Por óbvio, a predominante harmonia da torcida mista no domingo passado deveria ser uma prova de que os autênticos torcedores sabem exatamente como se faz pra torcer. Os que acham que torcer tem qualquer relação com violência, na verdade, são imbecis que não fazem a mais vaga ideia do que é ser torcedor.Por óbvio, são esses imbecis que devem ficar longe dos estádios. Com o paliativo advento da torcida única, os imbecis continuarão dando trabalho nos jogos, pois eles brigam até entre si. Por óbvio, vão brigar com os rivais numa rua qualquer, num dia qualquer – eles gostam é disso.  Por óbvio, esse texto não apresenta nenhuma novidade. Mas, pelo jeito, a incompetência não permite que se enxergue nem mesmo o óbvio.