Victor Uchôa: Crônica de um homem de sorte

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Neto é um sortudo. Está de férias bem agora, com o Carnaval se avizinhando e as festas se espalhando feito impingem pela capital baiana. Enquanto muitos amigos são obrigados a trabalhar de virote após a Melhor Segunda-feira do Mundo, ele dorme até mais tarde, evitando que sua terça seja a pior do mundo, como dizem.  Desperta quase no tilintar dos pratos, come sem pressa, estica um pouco mais as pernas e, lá pelas 15h, vai ao Porto da Barra se entregar ao mar da Baía. Outra opção é correr um pouco pela orla, ali pelo Jardim de Alá. “É pra queimar o álcool”, anuncia.Neto é um esportista amador. Então, nas férias, dedica boa parte do tempo livre para o futevôlei com os amigos, para o salãozinho na praia e, claro, para o baba de lei nas noites de quinta, podendo até alongar um pouco mais a resenha no posto, já que, lembremos, tem o privilégio de dormir tranquilo na manhã seguinte.Some a esta estafante rotina de um rapaz em folga permanente de 30 dias a lambreta dobrada num bar da Pituba, os macios mergulhos na Rua K, os longos almoços com o pai aposentado (cervejinha gelada acompanhando o bife acebolado, ó que beleza!), o petisco com a jovem do Tinder e sabe-se lá quantas séries do Netflix.Neto gosta de futebol. E, como Neto é um sortudo, calhou de a fase mata-mata da Champions começar logo durante suas férias. Ele nem precisa dar migué no serviço, fechando a tela do jogo no susto quando o supervisor entra na sala.Nosso protagonista viu as partidas dessa semana em casa, corpo quase na horizontal - só não deitou de vez pra não engasgar com a cerveja -, long neck numa mão, controle remoto na outra, dedicação exclusiva ao jogo do Barça na terça e revezamento entre as duas partidas da quarta.Neto ficou besta com o atropelo que o Barcelona levou do PSG. Tomou quatro e podia tomar mais. Messi, Neymar e Suárez não viram nem a cor da bola, enquanto o argentino Di María bagunçou para o time francês. Estupefato, Neto não parava de comentar no grupo do zap.No dia seguinte, começou vendo o jogo do Real Madrid. “Golaaaço!”, mandou dizer quando o Napoli abriu o placar. Afirmou que os italianos engoliam os espanhóis taticamente, mas mudou de ideia quando Benzema empatou para o Real e o time de Zidane começou a apertar o torniquete.Entre um lance e outro em Madri, Neto mudava pra Munique. “Vei, que porra é essa? Parece profissional contra menino”, comentou, se referindo ao assombroso baile que o Bayern impunha ao Arsenal.Neto é Vitória. Por isso, largou a Champions de quarta-feira no meio das partidas. Chegando no Barradão, soube pelo rádio que o Real metia três no Napoli e o Bayern empurrava cinco no Arsenal.No estádio, sentou no mesmo lugar de sempre, encontrando a turma vezeira. Dali, viu o Vitória fazer um gol atrás do outro no esforçado Flamengo de Guanambi. Quando Dátolo meteu um olímpico, Neto não se conteve e mandou uns seis áudios para os amigos. Ao ver o quinto gol no Barradão, anotou no zap: “Times que golearam na rodada: PSG, Bayern e Vitória. Mesmo nível!!!”.Alguns rubro-negros responderam com a carinha que chora de tanto rir. Outros meteram uns legais. Um encheu a tela de bolinhas vermelhas e pretas. Um Baêa mandou uma carinha que solta fumaça pelas ventas. Outro intercalou os risos com o legal pra baixo. No fim, todos riram.Neto, já sabemos, é um rapaz sortudo. Ele só volta ao batente na segunda-feira depois do Carnaval.Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.