Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2017 às 04:52
- Atualizado há um ano
Há uns bons anos, não sei exatamente quantos, a cidade mineira de Varginha ganhou fama nacional porque, atestavam alguns moradores, por lá teria aparecido um ser extraterrestre.Tal fato nunca foi comprovado, mas talvez explique o que leva um dirigente do Boa Esporte, time de Varginha, a contratar o goleiro Bruno Fernandes.Pode até parecer, mas não há nenhuma piada no parágrafo acima, e sim uma constatação. A esta altura da vida e dos acontecimentos, o cartola que toma uma atitude como essa e ainda arrota que fez um grande negócio, definitivamente, só pode viver em outro mundo.Aqui, não interessa se Bruno ainda tem preparo e agilidade para fazer grandes defesas. Interessa que, num tempo e num país em que as mulheres ainda sofrem para conseguir respeito e reconhecimento, o goleiro é um símbolo do machismo levado ao ponto mais alto (ou mais profundo, na verdade).Bruno foi condenado por comandar uma trama que resultou no intencional assassinato da sua ex-namorada, Eliza Samúdio, cujo corpo jamais foi encontrado. Mas por que Bruno resolveu matar Eliza? Simplesmente porque não queria assumir a paternidade de uma criança e pagar a pensão devida, retrato perfeito da lógica do patriarcado, inclusive do ponto de vista financeiro.Não há nenhuma novidade no fato de que muitos homens, aqui e alhures, fogem do seu dever de pai (mesmo quando colocam o sobrenome num registro) e deixam toda a carga da criação nas costas das mulheres. Pior: ainda acham que estão certos. Bruno, para além desta vala comum, calçou as luvas da onipotência e assim, como quem bate um tiro de meta, resolveu matar.Agora, ele diz que já pagou pelos seus erros e que, veja só, foi Deus quem lhe deu a oportunidade de “recomeçar”. Alguém precisa avisar a Bruno que, na verdade, ele ainda não pagou pelos seus erros. Ele só deixou a prisão porque, condenado em primeira instância, até hoje não passou pelo julgamento em segunda instância. Como tem dinheiro para bancar bons advogados, deixou a cadeia, mesmo que temporariamente.Alguém precisa avisar a Bruno também que Deus (independentemente do Deus em que ele acredita) não tem absolutamente nada a ver com a infame lentidão da Justiça brasileira, única responsável pelo goleiro agora estar treinando em Varginha.Parece-me que, se estivesse realmente arrependido, Bruno, no mínimo, pediria desculpas. Mas, em sua entrevista de apresentação no Boa Esporte, o que ele fez foi rechaçar todos os questionamentos sobre a morte de Eliza.Além disso, vale lembrar que, bem antes de o desaparecimento de Eliza Samúdio ganhar as notícias, Bruno nos presenteou com um brilhante raciocínio: “Em um relacionamento, às vezes é preciso uma discussão, ou até mesmo algo mais sério. Quem nunca brigou ou até saiu na mão com a mulher?”, disse ele, referindo-se a um desentendimento conjugal do então colega de Flamengo, Adriano. Quer mais uma prova de que estamos caminhando rumo ao passado? Moradoras de Varginha organizaram um protesto contra a chegada do goleiro e o que aconteceu? Foram ameaçadas por torcedores (?) tirados a machões.É provável que existam mulheres trabalhando no Boa Esporte. Fico imaginando como elas se sentirão cada vez que passarem por Bruno. Será que vão lembrar que uma mulher foi assassinada e esquartejada simplesmente porque aquele jogador não queria assumir um filho?Por óbvio, não posso falar com propriedade, mas deve ser mesmo duro ser mulher num lugar como o Brasil. Afinal, se até o presidente da República acha que as mulheres é que são as responsáveis por cuidar dos filhos e só entendem de economia porque vão ao supermercado, é evidente que o horizonte está nublado. E que a escalação do Boa Esporte está podre.