Vídeo mostra carro seguindo Marielle Franco momentos antes do crime

Vereadora e o motorista, Anderson Gomes, foram assassinados na última quarta-feira (14), no Rio

Publicado em 17 de março de 2018 às 11:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

O circuito de câmeras de segurança na Rua dos Inválidos, na Lapa, onde saiu o carro que levava a vereadora Marielle Franco (PSOL), registrou imagens momentos antes do crime. É possível ver no vídeo a parlamentar, a assessora dela e o motorista entrando no veículo e, em seguida, um carro suspeito seguindo o automóvel. Marielle e o condutor, Anderson Gomes, foram assassinados na última quarta-feira (14). Assista abaixo.   De acordo com informações do G1, o carro é apontado como sendo um dos atiradores, como apontam as investigações da polícia. O veículo ficou estacionado esperando a vereadora por quase duas horas. Menos de 4 km depois do local do vídeo, Anderson e Marielle foram mortos a tiros.

Roubo de munições Munições como as que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes - balas de calibre 9 milímetros da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) - são o retrato do que está nas mãos de criminosos no Rio: produzidas no Brasil e de uso restrito.

Estudo do Instituto Sou da Paz sobre apreensões das polícias fluminenses de 2014 a 2017 mostrou que 27,4% eram de 9 mm e, no ano passado, 70% das munições eram consideradas de uso exclusivo de forças de segurança, como a Polícia Federal e as Forças Armadas. Marielle foi assassinada na noite de quarta-feira, 14, após reunião com grupo de mulheres negras na Lapa, na região central do Rio (Foto: Reprodução/Facebook) Na sexta, o Instituto voltou a reforçar a importância da melhoria de mecanismos que permitam a rastreabilidade da munição para contribuição a investigações criminais. Gerente da área de Sistemas de Justiça do Sou da Paz, Bruno Langeani lembrou que a obrigatoriedade de marcação dos lotes nos estojos adquiridos por forças de segurança pública foi firmada pelo Estatuto do Desarmamento, promulgado em 2003. "O que foi obtido com o estatuto foi um avanço brutal porque antes havia uma resistência", disse.

Esse tipo de rastreio já havia sido usado, por exemplo, para obter provas contra os policiais que acabaram condenados no caso da juíza Patrícia Acioli, morta em agosto de 2011.  Os três calibres que aparecem em maiores volumes na análise das apreensões no Rio foram 9 milímetros (calibre restrito de pistolas e submetralhadoras), 7,62mm (calibre restrito encontrado principalmente em fuzis) e calibre .38 (calibre permitido predominante em revólveres).  Na soma dos quatro anos em que as apreensões foram analisadas, o predomínio das munições restritas sobre as de calibre permitido para compra por civil autorizado, por exemplo, é 64% ante 36%. Nacional Nos números de 2014, único ano em que foi possível observar a marca do material, notou-se que 42% das apreensões se referiam a balas da CBC, em 28% não podia ser identificado e em 7% dos casos vinha do México ou Estados Unidos. 

No total, as polícias tiraram de circulação no período 548.777 munições, o equivalente a 430 balas por dia ou uma para cada 30 habitantes do Estado. 

"Enquanto todos ficam falando que (a munição) vem do Paraguai, notamos um elo importante entre o mercado legal e ilegal dentro do País. E, em um momento que a intervenção é liderada por um general, é importante lembrar que a atribuição primeira de fiscalização de armas e munições no País é do Exército", disse Langeani. Para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, a informação sobre o lote da munição no caso Marielle deve ser tratada com cuidado. "Ter acesso à munição no Brasil é ilegal, então ela só pode ter vindo de um clube de tiro ou das polícias. O dado por si só não é conclusivo e necessita de mais apuração. O crime vai tentar conseguir munições que um dia foram legais e essa não é uma área extremamente controlada, como deveria ser." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Balas do caso Marielle foram roubadas dos Correios, diz ministro O ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, confirmou que as munições utilizadas no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), na última quarta-feira (14), foram roubadas de um carregamento da Polícia Federal. Segundo o ministro, informações que chegaram a ele dão conta de que a munição foi subtraída da sede dos Correios na Paraíba "anos atrás". Raul Jungmann falou sobre munições (Foto: Jane de Araújo/Agência Senado) "A Polícia Federal já abriu mais de 50 inquéritos por conta dessa munição desviada. Então eu acredito que essas cápsulas encontradas na cena do crime foram efetivamente roubadas. Também tem a ver com a chacina de Osasco, já se sabe”, disse, referindo-se à morte de 17 pessoas pela Polícia Militar de São Paulo, ocorrida em 2015.

De acordo com Jungmann, o carregamento das balas foi dividido em três partes: uma parte ficou em Brasília, a segunda foi roubada dos Correios no estado nordestino e outra, segundo informações preliminares, teria sido desviada por um escrivão da Superintendência da PF no Rio de Janeiro.

O ministro disse que a corporação destacou "o melhor especialista em impressões digitais e DNA" para avaliar o material das cápsulas encontradas no local onde Marielle e o motorista do carro em que ela estava foram mortos.

Sem adiantar detalhes das investigações, ele informou que, além da colaboração da PF na identificação de quem manuseou as munições, o restante do inquérito sobre o crime está sendo conduzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Crime Na última quarta-feira, a vereadora Marielle Franco foi executada com quatro tiros na cabeça, quando ia para casa no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, retornando de um evento ligado ao movimento negro, na Lapa. A parlamentar viajava no banco de trás do carro, quando criminosos emparelharam um veículo com o carro da vítima e dispararam nove vezes. O motorista do veículo, Anderson Gomes também morreu. Uma assessora que também estava no carro sobreviveu ao ataque.

Raul Jungmann conversou com a imprensa após fazer uma visita à sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Segundo ele, a intervenção federal na segurança do estado do Rio, decretada há um mês pelo presidente Michel Temer, "não faz mágica, mas está no caminho certo".

Ao ser perguntado se o crime pode abalar a intervenção federal, ele respondeu: “Se esse crime, e isso é uma hipótese, foi cometido no sentido de confrontar a intervenção, é preciso dizer duas coisas: se isso está acontecendo é porque intervenção está no caminho certo. A intervenção está levando exatamente o crime a reagir contra o que vem dando certo, que está sendo feito e vai continuar sendo feito. Em segundo lugar, isso não nos abala. É uma tragédia que nós gostaríamos que nunca acontecesse, mas isso só nos dá mais força e determinação para prosseguir adiante”, afirmou.