Violência obstétrica existe e acontece cotidianamente

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Publicado em 19 de maio de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Um breve relato: a mãe pariu, a neopediatra pediu para levar o bebê em menos de dois minutos após o nascimento. A mãe olhou pra doula e, ainda atordoada, negou. A neo disse: “ele pode ficar taquipneico devido ao frio da sala”. Detalhe: o bebê estava pele a pele no colo da mãe, coberto por um pano. A mãe pediu para o bebê ficar um pouco mais. O pai reforçou ao ver a cara do obstetra que foi parecida com a da doula. Depois de um tempo, o bebê mamou por uns 30 minutos. Outro detalhe: bebê taquipneico não consegue mamar. 

Então, quando a recém-parida estava sozinha, pediram o bebê para as avaliações. Ao invés de seguirem o plano de parto, que solicitava que tudo fosse feito no colo ou na mesma sala onde a mãe estava, levaram o bebê para o berçário. Resultado: devido ao frio do berçário, o bebê ficou taquipneico e foi levado pra UTI, onde permaneceu por dois dias. Mas, antes, aquela neopediatra veio dizer à mãe – deitada na maca, depois das 16h de trabalho de parto - que aquele quadro tinha acontecido porque ela negou a entrega do bebê no momento inicial pós-nascimento. Naquele momento a mãe percebeu que estava sofrendo uma violência.   

Essa história foi contata aos prantos por essa mãe, que sentia culpa pelo fato do bebê ter ficado na UTI, afinal ela negou aquela entrega. A marca da violência é imensa no momento de vulnerabilidade em que o pós-parto imediato se configura. Essa mesma mãe disse sentir vergonha de reclamar por esse tipo de situação, porque existem casos piores do que o dela. Sim, infelizmente, mas o dela não foi menos violento. 

Não encarar o termo “Violência Obstétrica” é uma dificuldade para quem a comete. E para quem recebe a violação também. Não é fácil para a vítima se reconhecer vítima, visto que muitos eventos violentos são institucionalizados, outros protocolados, como a episiotomia. Temos uma revolução científica, trazendo à medicina novas referências de assistência com base em evidências e quem se recusa a acompanhar a mudança simplesmente escolhe o lado da obsolescência. Estamos caminhando para frente.

Esse passo para trás que o Ministério da Saúde deu não vai mudar o rumo das coisas. Mundialmente falando, inclusive, temos avanços na direção do combate às práticas abusivas. O termo é juridicamente aceito. O próprio Ministério Público fez sua manifestação e deu o prazo (15 dias) ao MS para seguir as recomendações do documento da OMS que reconhece a ocorrência de violência obstétrica, em seus diversos níveis (físico, verbal, institucional), independente da intencionalidade do profissional. 

Junto à corrente global, o termo “Violência Obstétrica” deve ser mantido e campanhas de conscientização espalhadas. Essa mãe da história passa bem, pois sabe que pode reverter o sentimento de culpa em ação.

Maiana Kokila é coach para Concepção, Gestação, Parto e Pós-parto. Educadora Perinatal, Doula, professora de Yoga para Gestantes, criadora da Mami Zen Massagem, ministra cursos no Brasil e exterior. (www.maianakokila.com)

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