Violinista baiano que passou pelo Neojiba é aceito em conservatório na Bélgica

Morador do Engenho Velho de Brotas, Uiler Moreira, 21, foi aprovado em teste e tenta arrecadar R$22 mil para morar em Bruxelas

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 27 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto: Nara Gentil/CORREIO

A teimosia, às vezes, é um dom que pode transformar as nossas vidas. Apesar da foto exalar harmonia entre um instrumentista e seu instrumento, nem sempre foi assim. “No início eu não gostava muito do violino. Achava o som agudo demais. Aí me arriscava a ir para o violoncelo”, diz o jovem violinista baiano Uiler Moreira, 21 anos. Mas ele insistiu. “De tanto tocar, passei a amar o som maravilhoso, quente e apaixonante do violino. É o instrumento que desperta minhas emoções de várias formas. Consigo me expressar muito melhor nele. O violino é onde tá a minha alma.”

Assim, tocando com alma, Uiler passou pelas principais orquestras da Bahia. De origem humilde, morador do Engenho Velho de Brotas, criado na comunidade do Dique do Tororó, de 2012 a 2017 participou do projeto social Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia). Também passou pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia (Osufba) e, atualmente, fazia participações na Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba).

Agora, está prestes a realizar um sonho. Foi aceito para estudar violino em uma das escolas mais respeitados do mundo, o Conservatório Real de Bruxelas, na Bélgica.

Normalmente, teria que ir à Europa tocar e passar pelo rigoroso teste previsto no edital anual do conservatório. Mas devido à pandemia, isso não foi possível neste ano. “Eles fizeram as audições on-line. Foi bem exaustivo e trabalhoso! Fiz diversos vídeos com várias músicas. Depois passei por uma entrevista para ver se eu conseguia me virar no inglês até aprender o francês ou o holandês, que são as línguas nativas do país.”

Uiler foi aprovado em uma escola que só recebe os melhores talentos.“Das pessoas que eu conheço, só um professor meu da Ufba estudou lá.”Não fosse um detalhe, Uiler já estaria de malas prontas aguardando apenas um voo que o levasse a Bruxelas. Mas falta o dinheiro para passagens e para se manter por um tempo até as coisas se estabilizarem. De origem humilde, Uiler havia reservado o ano de 2020 para juntar dinheiro. Com a pandemia, em vez de juntar, só gastou.

Por isso, está divulgando duas contas bancárias para tentar arrecadar R$ 22 mil referentes aos custos com  o visto (cerca de R$ 3.000), passagens aéreas (em média R$ 4.000), estadia, alimentação e transporte no período de 3 meses (R$ 12 mil), além de documentações e taxas do conservatório (R$ 3.000).

Uiler iniciou os estudos na música aos 9 anos de idade, quando começou a ter aulas na Escola Adventista, em 2009. Passou por testes físicos para saber em qual instrumento se encaixava melhor. Era o violino. O som que inicialmente não o agradava passou a capturá-lo. “Eu realmente me apaixonei”.

O talento diferenciado de Uiler impressionava. Tanto que a irmã do seu professor que sequer o conhecia lhe deu de presente um violino quando o viu tocando pela primeira vez em uma visita à escola. “Ela viu minha empolgação!”. Depois, o padrinho lhe deu um segundo violino, que era mais profissional. 

 Carreira Em 2012, o professor sugeriu que fizesse audição para fazer parte do projeto Neojiba. Foi no Neojiba que Uiler deslanchou.“Foi graças ao Neojiba que eu tive certeza que não conseguiria viver sem música”.No projeto social, teve contato com artistas como Martha Argerich, Midori Goto e Maxim Vengerov. “Alguns do melhores músicos do mundo”.

O Neojiba lhe deu maturidade, senso de coletividade e a possibilidade de realizar coisas que sua condição socioeconômica não permitiria.  “Fiz turnê internacional e toquei em países como Suiça, Itália e Inglaterra. Foi essa turnê que me fez conhecer uma visão artística e cultural diferente da minha, introduzindo em mim o sonho de estudar na Europa”.

Em 2016, ingressou no curso de bacharelado em violino na Ufba. A classe do professor doutor Alexandre Casado foi uma das mais importantes para sua trajetória. “Além de me capacitar artisticamente, me inspira ainda hoje a ser um ser humano melhor a cada dia”. Uiler teve a possibilidade de participar como bolsista de alguns dos festivais de música mais importantes do Brasil.“Obtive também algumas conquistas como 1º lugar no 1º Concurso de Violino da Casa da Música de Porto Alegre - RS, 2º lugar no 1º Concurso Jovens Solistas da Orquestra Criança Cidadã em Recife - PE e 1º lugar no Concursos Solistas da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia”, enumera.Nesse período, tinha o auxílio-moradia da Ufba. “Assim eu podia ajudar financeiramente em casa”, lembra Uiler, que mora sozinho com a mãe e tem outros dois irmãos por parte de pai.

No final de 2019, realizou um recital de formatura. “Toda arte envolve anos e anos de estudo e aprimoramento, com o violino não é diferente”, ensina. Ultimamente, Uiler vinha tocando como convidado da Osba. De repente, tudo parou na vida do músico por conta do coronavírus. Menos o sonho dele. Por isso, fez o teste para o conservatório de Bruxelas. “Está tudo certo para eu ir. Só preciso mesmo do dinheiro. Espero conseguir”.

Para ajudar, use as seguintes contas bancárias:

- Bradesco - 237

Agência: 0662 Díg: 9  

Conta Poupança: 1012323 Díg: 2

- Nubank - 260

Agência: 0001

Conta: 2770667 Díg: 5