Virote criativo: participantes do Hackathon+Salvador viram a noite em busca de soluções para o Centro Histórico

Imersos em seus projetos, os 50 participantes da maratona de inovação não pouparam esforços para bolar soluções para alguns dos principais problemas de uma das regiões mais nobres e, infelizmente, esquecidas da capital baiana

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  • Saulo Miguez

Publicado em 16 de julho de 2017 às 12:23

- Atualizado há um ano

A Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, foi ocupada por zumbis, ou melhor, ciberzumbis. Diferente dos mortos-vivos das séries norte-americanas, as criaturas que invadiram o Centro Histórico no último final de semana não fazem mal, não são esquisitas e se alimentam apenas de boas ideias, energético, pizza e muito café.

Imersos em seus projetos, os 50 participantes do Hackaton+Salvador não pouparam esforços para bolar soluções para alguns dos principais problemas de uma das regiões mais nobres e, infelizmente, esquecidas da capital baiana. Incansáveis, ou quase isso, as equipes atravessaram a madrugada com as mãos na massa, os dedos nas teclas e o pensamento focado em transformar o espaço soteropolitano.Participantes viram a noite defendendo ideias para o Centro Histórico de Salvador(Foto: Saulo Miguez)Para sobreviver às mais de 30 horas de maratona, foi indispensável o uso de alguns artifícios. Para se ter uma ideia, até a décima hora de evento, a galera já havia consumido mais de 30 garrafas de café. Latas e latas de energético, barras de cereal, biscoitos, maçãs, dentre outras fontes energéticas também ajudaram a manter as baterias carregadas.

Iniciado na arte de ver o dia nascer enquanto trabalha em equipe, o estudante de design da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Sérgio Campos, 24 anos, conta como se equipou gastronomicamente para passar mais de 30 horas buscando soluções que ajudem a fomentar a economia e dinamizar a cultura do Centro Histórico. "Trouxe meu kit básico: barra de cereal e energético. Mas vim contando com a pizza", disse.Os hackers também vieram prontos para tirar aquele cochilo, ainda que a maioria deles relute em pregar os olhos. O empreendedor Mateus Carvalho, 24, arrumou um espaço na mochila, entre cabos e o computador, para guardar o travesseiro e o colchonete. "Vim preparado para virar a noite, mas vamos ver até que horas o sono não vai conseguir me pegar".Em meio ao debate teve uma pausa para os participantes se alongarem(Foto: Saulo Miguez)Ao longo do percurso dos mochileiros virtuais, a todo momento um ou outro encontrava um cantinho entre uma mesa e outra para deitar sobre uma almofada, pufe, ou qualquer coisa parecida e trabalhar como se estivesse na sala de casa. Também pudera! Ninguém é de ferro e muitas ideias fluem melhor na horizontal. Que o digam Newton, a maçã e a Teoria da Gravitação Universal.Bagunça organizada

Passear pelo mundo de ideias que fervilham em cada ilha, ou mesa, das equipes do Hackaton é se deparar com o paradoxo de que a organização provêm do caos. Tal qual o pensamento, que nem sempre vem ordenado, os projetos que aspiram organizar o Centro Histórico se espalham em papeis coloridos, rabiscos, esboços, rascunhos... um forasteiro dificilmente se localizava com facilidade naquele arquipélago criativo.Na quarta validação de ideias, esse era o cenário de uma das mesas que trabalhava no eixo Vida Empreendedora. “Bagunça? Agora já está de boa. Se viesse aqui há uma hora aí sim você veria o caos”, explica a assistente social Tamila dos Santos, 26.  (Foto: Saulo Miguez)A pluralidade de ideias, que se refletia na aparente bagunça, era um espelho da diversidade que circulou pela Faculdade de Medicina naquele final de semana. Ao redor da mesa citada acima, por exemplo, estavam, além de Tamila, a estudante de economia Izye Santos, 22, a design Laíse Santana, também de 22, o administrador André Gustavo Barbosa, 46, e o estudante de programação Vinícius Dias, 20.Para o professor da Ufba Genaro Costa, um dos mentores presentes no Hackaton, nesse tipo de evento a interdisciplinaridade é fundamental para que as soluções buscadas sejam completas. “Quando a gente junta profissionais de uma única área, eles tendem a ter uma visão enviesada da coisa. Aqui a gente tem uma riqueza de conhecimentos, cada um na sua área, que se complementam”, definiu Genaro. 

Hora da PizzaDe repente, um cheiro peculiar tomou conta do salão onde as mentes frenéticas planejam sugestões de futuro para o Centro Histórico. Caixas de papelão, com design igualmente peculiar, postas sobre uma mesa exalam o aroma capaz de desviar a atenção dos hackers dos códigos e croquis que brilham nas telas dos computadores.

Duzentas e quarenta fatias de pizza são servidas para matar a fome dos desenvolvedores e dar um gás para eles seguirem em frente, uma vez que o cansaço já começa a dar sinais de que não tardará chegar. “Agora eu só durmo amanhã de tarde”, brincou Igor Iron, 24, enquanto devorava uma fatia de pizza de lombinho. Baterias carregadas, todos os sentidos novamente se voltam para os trabalhos.Energia!O cansaço mental dos participantes foi amenizado de uma forma diferente. Ao invés de uma soneca ou minutos de meditação, os hackers foram submetidos a uma pocket aula de educação física. Os desenvolvedores, que até então só haviam se levantado para abastecer o copo de café, fizeram sessões de polichinelo, corrida estacionada, agachamento e boxe. “Movimenta esse corpo, meu povo!”, convocava o personal trainer Renato Figueiredo, que puxou o treino.

Não se sabe ao certo se pelo efeito da aula ou se para não perder o prazo para entregar o produto, fato é que após o momento fitness as equipes se acenderam ainda mais. Na prática, isso se refletiu na redução de integrantes no eixo horizontal do salão.A luta contra o sono, no entanto, se acirrou conforme as horas foram passando. Surgiram os primeiros bocejos, olhos já ameaçavam se fechar, enfim a galera estava visivelmente chegando no limite. O estoque de café e energético, no entanto, ainda é grande e, mais do que isso, a vontade daquelas pessoas em usar seus conhecimentos em prol de algo que realmente acreditam, as motivam a seguir em frente.As lâmpadas, signos das boas ideias e símbolo dos troféus do Hackaton+Salvador, criados pelo artista plástico Ed Vasco, que levaram aquelas pessoas até ali, teimam em se manterem acesas iluminando os sonhos dos ciberzumbis e o futuro, ou pelo menos uma parcela dele, do Centro Histórico de Salvador. 

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