Vítima cita provocações de PM que baleou quatro na Barra: 'posso matar qualquer hora'

TJ-BA decretou prisão preventiva; disparos foram em festa da vitória de Bolsonaro

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  • Tailane Muniz

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 19:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Luan Santos/CORREIO

Tiros ocorreram a menos de 1km do Farol da Barra, onde bolsonaristas celebravam vitória nas urnas (Foto: Luan Santos/CORREIO) O soldado da Polícia Militar Manoel Landulfo Sampaio Salvador, 36 anos, preso em flagrante depois de atirar em quatro pessoas na noite desse domingo (28), durante as comemorações pela vitória de Jair Bolsonaro no bairro da Barra, em Salvador, teve a prisão em flagrante convertida para preventiva na tarde desta segunda-feira (29).

O CORREIO conversou com uma ambulante que acabou baleada, e ela diz que o policial "invocou" com três rapazes que estavam na festa e passou a provocá-los, passando a agir como uma pessoa "maluca e desequilibrada" e também afirmou que, após atingir as pessoas, ele continuou atirando a esmo (leia mais abaixo).

O militar, que alega ter atirado de forma acidental, foi ouvido em audiência de custódia na Central de Flagrantes, na Avenida ACM, e já foi transferido para o Complexo Penitenciário da Mata Escura, onde deve aguardar o julgamento. Manoel vai responder por tentativa de homicídio qualificado, além de lesões corporais.A decisão foi assinada pelo juiz Eduardo Augusto Leopoldino Santana, que descreveu, no texto do parecer, que "Manoel aparenta, considerando o atentado, não ter apreço pela vida humana".O texto do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) narra que o ataque, ocorrido na Rua do Gavazza, foi consequência de uma confusão entre o policial e outra pessoa, que estava acompanhada. À Polícia Civil, ainda de acordo com o TJ-BA, três vítimas disseram que o PM atirou à queima-roupa no rapaz que seria seu alvo. 

Baleados, a ambulante que trabalhava no local, e outra vítima, Daniel Duarte Weber, 25, chegaram ao HGE depois de serem socorridos por uma viatura da 11ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Barra), por volta das 23h30.

As outras duas pessoas, levadas para o Hospital Português, não foram identificadas. O CORREIO procurou a unidade particular, que disse que não poderia fornecer informações concretas sem os nomes dos feridos. A ambulante teve alta ainda na noite de domingo.

À reportagem, a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares (Aspra-BA) afirmou que está assessorando o policial e informou que os tiros aconteceram durante uma briga. Segundo o diretor de esportes da Aspra, Lazaro Alexandre, o policial contou que não teve a intenção de atirar. “Ele disse que tentaram pegar a arma dele durante a briga e, na confusão, ela disparou”, afirmou.

'Chuva de tiros' A ambulante baleada por Manoel que, por medo, preferiu não se identificar, contou que o policial não estava fardado, e que estava acompanhado de amigos.

A mulher, que trabalha nas regiões do Porto e Farol da Barra há cerca de cinco anos, já estava preparada para ir embora quando, por volta de 22h30, notou a discussão entre o PM e outro rapaz."Ele [PM] invocou com os três rapazes. Disse que eles estavam olhando estranho para ele e começou a falar de um jeito descontrolado. Estava irado. Os amigos dele tentavam contornar ele, mas não adiantou. Ele ficou mesmo procurando, caçando o problema", disse a ambulante.Cerca de cinco minutos depois do início do desentendimento entre o militar e os rapazes, houve a "chuva de tiros"."Ele já tinha ameaçado. Pegava a arma da cintura e guardava, berrando: 'sou policial e posso matar qualquer hora que não vai dar em nada'. Até que o rapaz foi tirar satisfação com ele, foi quando ele atirou", relatou a ambulante, acrescentando que a vítima foi atingida a uma distância curta.Embora já tivesse atingido a primeira vítima, Manoel continuou atirando "para varias direções", segundo a mulher baleada, até que decidiu fugir. 

"Foi uma correria horrível, todo mundo se jogando. Eu nem notei que tinha sido baleada, mas depois que vi o rapaz cair, senti uma coisa queimando e olhei pra minha perna, que já sangrava muito", acrescentou.

Para a vítima, que trabalha vendendo doces na região, "a Justiça tem que ser feita". A reportagem entrou em contato com o advogado de defesa do acusado, Dinoemerson Tiago Nascimento, mas ele afirmou que não tem autorização do cliente para comentar o assunto.