Vítima relata ter sido estuprada, baleada e jogada em rio por João de Deus

Um dos tiros arrancou dentes da vítima; morte de alemã e taxista também teriam sido a mando de médium

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  • Da Redação

Publicado em 25 de março de 2019 às 08:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo

Uma mulher acusa o médium João de Deus de estupro e tentativa de assassinato, quando era adolescente, na década de 1970. Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que também relata dois assassinatos que teriam ocorrido a mando do médium, a vítima afirmou ter sobrevivido ao ataque, no qual ainda levou três tiros e acabou jogada num rio. 

De acordo com ela, o crime ocorreu há 46 anos, quando ela tinha 17 anos de idade. A mulher que acusa o médium relatou ter ido à Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus realizava seus atendimentos e cirurgias espirituais, com uma tia doente. 

Na época, ela conta, João de Deus a levou de carro até uma ponte para, segundo afirmou, fazer "uma limpeza espiritual". Quando estavam no local, o médium tirou a roupa da então adolescente e também ficou nu.

“Eu falei: ‘Não, me deixa, eu vou casar. Não faz isso, não’. Quando ele praticou o ato sexual comigo, eu comecei a ter uma hemorragia muito forte”, lembrou a  mulher.

Como a situação fugiu do controle, o médium tentou matá-la atingindo sua cabeça. “Eu acredito que tenha sido uma pedrada. Eu pegava no cabelo, o sangue descia todo. Depois ele disparou a arma”, mencionou a vítima, que ainda tem uma das balas alojadas no pescoço.

Ela conta que fugiu para o Nordeste, e que não levou o caso à Justiça. Só resolveu falar agora após tomar conhecimento das muitas denúncias contra João de Deus. 

Segundo o jornal O Globo, a tentativa de homicídio que ela relata teria acontecido em 1973 e, portanto, o crime já prescreveu.

Outras mortes Em outro processo, de 1982, no qual o médium foi absolvido por falta de provas, ele é acusado de ser o mandante da morte de um taxista. Em depoimento ao MP e à Polícia Civil, uma testemunha afirmou que João de Deus teria encomendado o assassinato por achar que sua mulher estaria tendo um caso com a vítima.

O "Fantástico" cita ainda o assassinato de uma alemã em 2006 que, segundo testemunhas, teria sido morta a mando do médium por ameaçar destruir a reputação dele. A testemunha também só prestou depoimento à polícia após a onda de denúncias contra João de Deus. O processo, no entanto, já havia sido arquivado em 2016.

“Foi uma morte em consequência da ameaça que ela havia feito de divulgar que a casa Dom Inácio é uma farsa”, relatou uma nova testemunha, em entrevista ao programa.

João de Deus estava preso desde dezembro e, na última sexta-feira, foi transferido para o Instituto de Neurologia de Goiânia, para receber atendimento médico. Segundo o pedido da defesa do réu, acolhido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele está debilitado e necessita de cuidados especiais.

Há ainda relatos de tráfico de drogas e de material radioativo. Em 1985, João de Deus foi detido com outras três pessoas enquanto tentava transportar ilegalmente uma tonelada de autunita. Na ocasião, ele respondeu em liberdade e, posteriormente, também foi absolvido. Três anos depois, em 1988, em depoimento, um traficante acusou João de Deus de participar de tráfico de cocaína. Essa denúncia não chegou a ser investigada à época.

Outros crimes O "Fantástico" também tratou de outros casos pelos quais o médium já havia sido denunciado, entre eles o de ter sido o mandante de dois assassinatos, de tráfico de cocaína e de material radioativo (autunita, mineral que contém urânio). Os casos ou foram arquivados ou terminaram com a absolvição do médium. Para o Ministério Público, as denúncias indicam que o médium contava com uma rede de proteção formada por autoridades de Abadiânia, incluindo policiais e delegados.

Ainda ao "Fantástico", o advogado do médium, Alberto Toron, afirmou que as acusações não são acompanhadas de provas. Ele criticou ainda o Ministério Público por, segundo ele, não dar acesso aos depoimentos dos que acusam João de Deus. Com informações do jornal O Globo.