Viva o universo mítico de ancestralidade e resistência de Mestre Didi

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Cesar Romero
  • Cesar Romero

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Peça do acervo de Mestre Didi (foto/divulgação)

Na Capela do Solar do Unhão, no Museu de Arte Moderna da Bahia, a exposição Mestre Didi – Ancestralidade e Resistência, ficando em cartaz até 19 de novembro.

Seus trabalhos escultóricos são inspirados na natureza, em relações simbólicas e míticas.

A espiritualidade e o entorno cultural onde nasceu e viveu trouxeram-lhe uma poética visual endógena. Essência e raiz. Os mitos coletivos se enovelam, se ligam e se enroscam, buscando um ritmo de memória, um lugar-testamento.

Os trabalhos de Mestre Didi, de longeva trajetória, trazem carga avoenga, somatório de informações que lhe foram passadas pelos mais antigos na prática nagô.

Suas esculturas de grande leveza trazem intrínsecas a força arquetípica e simbólica de uma África remota. Uma visão teológica e mítica de seus antepassados. Ocupam os espaços com nervuras de palmeira, couro rendado colorido, búzios, contas, barbantes e palha da costa, trabalhados em associações e minúcias.

Surgem formas originais, sinuosas, agrupadas por braçadeiras de couro, que investem em diferentes direções. Lanças em sua verticalidade apontam o infinito, curvas serpenteiam, se enroscam em movimentos e sinuosidades. Espacialidade mágica, sutil, convicta.

Reorganização de códigos viscerais. Transfigurações no aqui – e – agora de “flashs” arcaicos, reorganizados no espaço, volutas, retas e curvas onde se inserem serpentes, pássaros, peixes, camaleões, garças, pombos, insetos, gaivotas, plantas, árvores, búzios, ninho e o que mais couber de sua iconografia.

A disposição das formas nas três coordenadas da escultura se dá em elegância, leveza e elaborado fazer.

As remotas memórias, aquelas atávicas, levaram o artista ao autoconhecimento e, assim fidelizado, produz uma outra realidade notável: esculturas.

Coerência da infância à maturidade. Disciplina. Seu voto de silêncio, um juramento religioso, um desapego, trouxe à luz suas esculturas, que encantam pela “fala” plástico-visual.

Apesar de toda carga mítica, as esculturas de Mestre Didi são autônomas. Valem por sua invenção, por sua realeza explicita.

Mestre Didi foi sumo sacerdote do culto aos ancestrais Egungun e estudioso da língua iorubá. Recebeu vários títulos e cargos sacerdotais da hierarquia religiosa de origem africana. Em 1975, recebeu a mais alta hierarquia sacerdotal Alapini no culto aos ancestrais Egun. O universo mítico de Mestre Didi vem de suas tradições como Assogba, sacerdote supremo do culto à terra. Ele produziu o que viveu e viveu sempre em suas tradições endógenas.

Mestre Didi tinha voto de silêncio, por seu cargo religioso, e parece que isso o fez maior ainda em sua fala visual.