Você vai torcer para a seleção brasileira nessa Copa? Foda-se...

Senta que lá vem...

Foda-se

Ingenuamente, eu achei que a discussão sobre torcer ou não para a seleção brasileira nessa Copa era só em um grupo em que faço parte no Whatsapp, mas percebi que é em todo o canto. Até filósofos estão palpitando sobre o assunto e, sendo assim, eu vou entrar também nessa jogada porque eu sou um rapaz latino-americano que também sabe se lamentar.

Ligo a TV, tá passando um jogo de tênis, uma luta de boxe, um jogo de ping-pong, NBA, curling, o que for, naturalmente, escolho um para torcer. O nome disso é empatia. Bate e pronto. Sendo assim, não posso (consigo) torcer por um time em que não sinto isso por nenhum jogador.

- Nem Neymar?

- Piore as coisas não.

Não tem a ver com as manifestações onde usaram a camisa amarela como uniforme oficial, nem com pato, greve, gasolina a R$5, violência em escala exponencial, nem com Bolsonaro, nem com Temer, nem com Jucá, nem com o Supremo com tudo. Pelo menos, não só com esses pequenos detalhes. Tem a ver, muito mais, com empatia.

Em 86, sofri muito. Sentia empatia por Zico, Careca, Josimar, Sócrates, Edinho, Alemão, Junior.

Em 90, sofri igual. Tinha Careca, Taffarel, Muller, Romário (no banco).

Em 94, comemorei muito. Tinha 16 anos.

Em 98, sofri ok. Já tinha 20. Assisti a final na casa de Tomás e Thales,com Spencer e Luis Pereira

Em 2002, comemorei ok. Saí pelas ruas gritando “é tetra” só pra ser corrigido com “é penta, porra”.

Em 2006, eu já não estava nem aí. Só torci no jogo contra a França pelo fato de eu estar em Buenos Aires e perceber que todos ali torciam contra o Brasil. Foi mais uma coisa de país do que de futebol.

Em 2010, foda-se.

Em 2014, foda-se. Fiquei perplexo e depois achei ótimo. Até que enfim esqueceram o pobre Barbosa.

Em 2018, a seleção tá jogando pra caralho? Foda-se.

Você vai torcer para a seleção brasileira? Foda-se.

Eu não vou torcer? Foda-se.

Ricardo Cury é escritor, músico e empresário

Texto originalmente publicado no Facebook