'Voltar é um presente', diz Criolo sobre show em Salvador nesta sexta

Rapper paulista apresenta turnê Boca de Lobo, inédita na cidade

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  • Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Em pouco mais de dois anos, Criolo pisou no palco da Concha Acústica ao menos quatro vezes - seja em shows próprios, participações ou festivais.  A frequência do rapper paulista em um dos principais palcos da cidade é reveladora da íntima relação que ele nutre com Salvador.

"Desde a primeira vez que eu fui aí eu voltei outra pessoa. É impossível a pessoa voltar a mesma depois de receber a energia dessa terra maravilhosa”, comenta o cantor, que volta hoje à Concha, com a turnê inédita Boca de Lobo.  “Voltar é um presente”, descreve. Tanto assim que Salvador foi uma das primeiras cidades anunciadas na turnê, que estreou em dezembro em Porto Alegre e este ano percorre todo o país. Boca de Lobo é referência à música homônima lançada em outubro, exatamente uma semana antes das eleições presidenciais. O trabalho, que surgiu acompanhado de um superclipe com ares cinematográficos, denuncia o caos social e político do Brasil recente. Para Criolo, um registro do que os brasileiros não querem para o futuro.

“Essa música e esse clipe são muito especiais e traçam uma linha do tempo, relembrando às pessoas tanta coisa ruim que passamos nos últimos anos e que não queremos mais viver. É um grande desabafo, um grande grito por socorro, um pedido para que as pessoas possam entrar em comunhão, se tolerar mais, para que possam criar um ambiente mais saudável para as futuras gerações”, explica, ao clamar que “não queremos viver em uma sociedade racista, machista, xenofóbica, que oprime e esmaga as pessoas”.Superprodução Dirigido por Denis Cisma, o clipe de Boca de Lobo foi filmado no centro de São Paulo, e toma a maior capital do país como metonímia de um Brasil destruído pela corrupção. Em pouco mais de cinco minutos, o vídeo mostra o povo sofrendo com um caos destruindo a cidade. Ratos gigantes saem de bueiros, cobras percorrem as ruas da cidade, mosquito Aedes Aegypti sobrevoa prédios, porcos se refestelam na lama da cidade mineira de Mariana, morcegos e tucanos sobrevoam Brasília. Assim, a megaprodução associa partidos e figurões da política brasileira a escândalos e ao descaso com a população.  

No single inédito, produzido por Daniel Ganjaman e Nave, Criolo rima sobre as dificuldades enfrentadas pelo povo pobre. “A indústria da desgraça pro governo é um bom negócio. Vende mais remédio, vende mais consórcio, vende até a mãe dependendo do negócio”, dispara em um dos versos.  Além do crime ambiental de Mariana, também são citados o incêndio do Museu Nacional e o caso Rafael Braga, negro de bairro pobre do Rio de Janeiro que em 2013 foi preso durante uma manifestação portando uma garrafa de Pinho Sol e condenado a 11 anos de prisão. Também aparece Marielle Franco, morta a tiros no Rio de Janeiro, enquanto Criolo canta que “no Brasil quem tem opinião morre”. E a advogada Janaína Paschoal, descompensada, enquanto gira uma camisa alucinadamente. (Foto: Reprodução) Apesar do momento polarizado, Criolo retornou ao rap - depois de um disco dedicado ao samba - para narrar as circunstâncias atuais de maneira propositiva e não só pela reação crítica. “ Nós temos um poder de criação e superação tão grande e lindo que faz toda diferença. A música vem sim como uma energia, assim como diversas manifestações artísticas.  A gente percebe em todo o Brasil movimentos para apontar o que está errado, mas também para apontar caminhos. Isso é muito forte, intenso e verdadeiro. Eu acredito, do fundo do meu coração, que a sociedade precisa escutar o que os jovens estão falando porque eles têm a chave para o diálogo, que poderá conduzir nossa sociedade para um ambiente muito mais saudável, feliz, alegre e justo”, deseja.Palco No show, além de apresentar o lançamento que dá nome à turnê, Criolo resgata músicas que não entravam no repertório dos seus últimos shows. “Estou cantando músicas que não cantava há um tempão, nem mesmo na tour do Ainda Há Tempo, que ficou um tempão rodando. Estou matando a saudade de muitas delas, o que está sendo muito especial”, adianta. O setlist de Boca de Lobo é composto por músicas de todos os álbuns, mas todas elas contam com novos arranjos que misturam bases eletrônicas a instrumentos orgânicos, um caminho que dialoga diretamente com a linguagem musical do rapper ao longo de seus trabalhos.  Com uma formação completamente nova, Criolo continua acompanhado de seu parceiro de longa data, DJ DanDan, e de três produtores multiinstrumentistas: Bruno Buarque, Dudinha e Daniel Ganjaman.

Serviço: Concha Acústica do TCA (Campo Grande), hoje, às 19h. Ingressos: R$ 80| R$ 40 (pista); R$ 150 | R$ 75 (camarote). Vendas na bilheteria do TCA, nos sacs dos shoppings Barra e Bela Vista e no site ingressorapido.com