Wilson das Neves será enterrado na manhã desta segunda-feira (28)

Sambista que morreu de câncer, no sábado, é lembrado por amigos por seu carisma, sua versatilidade e capacidade de inovação

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  • Laura Fernades

Publicado em 28 de agosto de 2017 às 06:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

Carismático, alegre e “rabugento às vezes” – lembram os amigos com carinho –, o sambista carioca Wilson das Neves morreu na noite de sábado (26) e deixou a cena da música brasileira para “tocar suas baquetas do outro lado”, como disse a mensagem publicado no Facebook do artista. Um dos bateristas mais requisitados do país, o baluarte estava internado em um hospital na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, quando morreu em decorrência de um câncer, aos 81 anos.

“Ser humano incrível, engraçadíssimo, elegante, bem-humorado, rabugento muitas vezes (risos), mas muito inteligente e muito querido. É uma perda lamentável”, disse o produtor Geraldinho Magalhães, 50, que foi empresário do instrumentista, compositor e cantor durante dez anos e produziu seus dois últimos discos. Um deles, Se me Chamar, ô Sorte (2013), recebeu seis indicações ao Prêmio da Música Brasileira.

Geraldinho estava entre os amigos, parentes e admiradores que compareceram ao velório do artista ontem de tarde, realizado na quadra da escola de samba Império Serrano. O artista, que será sepultado nesta segunda-feira (28), às 10h, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, no Rio, era conhecido pela paixão por sua escola de samba, que decretou luto oficial de três dias, e também pela expressão de alegria “ô sorte!”.

“Acabo de sair do palco, e receber a notícia sobre meu amado Wilson das Neves... Tantas histórias juntos. Discos. Segredos. E uma gratidão infinita. Que faça uma tranquila passagem, meu querido. Que sua música seja celebrada sempre. Recebi flores hoje no show, e essa especialmente dedico à você, meu compadre. Boa viagem! Meu carinho e sentimento à família. Amor pra sempre”, postou a cantora Elza Soares em seu Facebook.

Parceiro e padrinho de um dos filhos de Elza, Das Neves gravou o clássico álbum Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves (1968), revisitado pelos dois em 2015. Referência do samba e da MPB, o artista era baterista da banda de Chico Buarque há mais de 30 anos, apesar de não ter participado do recém-lançado álbum Caravanas. O cantor carioca, inclusive, foi um dos primeiros a prestar homenagem ao amigo com uma foto dos dois no palco, publicada no Instagram com a legenda “Mestre Wilson das Neves”.

“Nosso profundo sentimento com a passagem de Wilson das Neves, um dos mais importantes músicos brasileiros. Nosso carinho para a família desse grande mestre”, também lamentou o sambista Zeca Pagodinho, que contou com Das Neves no seu disco O Quintal do Pagodinho (2001). “Puxa, vida! Esse cara era uma maravilha. Que tristeza!”, lamentou Caetano Veloso, um dos artistas que Das Neves acompanhou ao longo dos seus 60 anos de carreira.

Veja repercussão da morte do sambista Wilson das Neves

Reinvenção Em sua trajetória, o sambista gravou com mais de 750 artistas como Roberto Carlos, Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986) e Elis Regina (1945-1982), se destacando também entre cantores internacionais como os americanos Sarah Vaughan (1924-1990) e Sean Lennon, filho de John Lennon (1940-1980).

“Ele foi o músico que melhor sintetizou o samba na bateria, que não era instrumento de samba, era instrumento de jazz, rock, bolero. Quem transpôs o samba para o instrumento foi ele, de um jeito muito particular, muito delicado”, destacou Geraldinho Magalhães, que também trabalhou com Das Neves na Orquestra Imperial.

Como compositor, o sambista criou cerca de 80 músicas com Paulo César Pinheiro, como O Samba é Meu Dom, e com artistas como Martinho da Vila, Moacyr Luz e Aldir Blanc. Somente a partir dos anos 1990 foi que decidiu virar cantor. “Ele se reinventou perto dos 70 anos e arriscou tudo na carreira de cantor. Desafiou o destino e poderia ter dado errado. Mas deu supercerto”, continou Geraldinho.

Além disso, o empresário destacou que o sambista sempre dialogou com seu tempo, incluindo parcerias com cantores da nova geração como Emicida, BNegão, Marcelo D2 e Nina Becker. “Ele interagiu com muitas praias, era muito versátil”, pontuou. Então, como disse a mensagem postada no perfil oficial no Facebook, “ficaremos com as boas lembranças. Salve nosso Mestre! Salve Wilson Das Neves!”.