YouTube anuncia mudanças na monetização e na produção de conteúdo infantil

Novidades passam a valer em janeiro; canais de pequenos produtores serão os mais afetados

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 05:50

- Atualizado há um ano

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Se você esteve atento às notícias nas últimas semanas, deve ter ouvido falar de Felipe Neto, um dos principais youtubers do país, que ganhou um destaque ainda maior nos últimos dias depois de comprar milhares de livros com temática LGBT na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em resposta  à tentativa de censura imposta pelo prefeito Marcelo Crivella. Para se defender das mentiras que circularam a seu respeito depois da ação, Felipe Neto resolveu gravar um vídeo explicando o que vem fazendo na internet há quase dez anos. Sim, uma década. “Pais e mães que estão me assistindo, eu preciso que vocês entendam uma coisa em definitivo. O meu canal não é um canal de conteúdo infantil! E quando eu digo infantil, eu tô dizendo 'para a tenra infância'. Esse é o Luccas Neto, esse é o meu irmão, que faz vídeos fantasiado de príncipe, contando uma historinha, com músicas. Isso é conteúdo infantil! O meu conteúdo para todas as idades. Serve para criança de 10 ano e serve para um adulto de 90”, diz o youtuber no vídeo de 24 minutos. Com um total milhões de inscritos em seus canais individuais, eles decidiram unir forças e lançar o perfil Irmãos Neto, em agosto de 2017. Na época, os dois somavam 20 milhões de inscritos, hoje, juntos, ultrapassam os 60 milhões (Foto: Divulgação) A publicação, feita cinco dias atrás, é um recado direcionado aos recém-chegados no canal, mas especialmente aos pais e mães, como fica claro no trecho acima. O recorte tem uma razão: Felipe Neto é um dos youtubers brasileiros mais influentes entre o público infantojuvenil - junto com seu irmão Luccas Neto. E assim devem continuar, mesmo frente às mudanças anunciadas pelo YouTube no último dia 4. Novas regras De acordo com a empresa, a alteração visa proteger as crianças e sua privacidade. A mudança, no entanto, só aconteceu depois de a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) multar o Google em US$ 170 milhões por entender que o YouTube violava leis de proteção à privacidade das crianças, ao lucrar com a entrega de anúncios para esse público.  Com as novas regras, que começam a valer em janeiro, a plataforma garante que vai limitar a coleta e o uso de dados em vídeos feitos para crianças apenas ao necessário para apoiar a operação do serviço. Também deixará de veicular anúncios personalizados inteiramente sobre esse conteúdo, e bloqueará recursos como comentários e notificações. Uma das dificuldades, no entanto, é limitar o que é conteúdo infantil e o que não é.

Para identificar o conteúdo criado para crianças, será solicitado dos criadores que informe quando o conteúdo se enquadrar nessa categoria, e também será utilizado o aprendizado de máquina para encontrar vídeos que visam claramente o público jovem, por exemplo, aqueles que têm ênfase em crianças personagens, temas, brinquedos ou jogos. Segundo Felipe Neto, o YouTube já garantiu que seu canal não será afetado pela mudança.

Hoje a maior parte das crianças segue acessando não o YouTube Kids, mas o YouTube convencional, que pode coletar dados como geolocalização, número do celular e identificação do dispositivo. Por isso, a empresa tem intensificado a campanha de conscientização, especialmente junto aos adultos.O que vem aí O YouTube supriu uma lacuna deixada pela TV, que por muito tempo foi a principal forma de entretenimento familiar, com especial interesse das crianças pela vasta programação infantil disponível nas TVs aberta e por assinatura. O protagonismo da pltaforma frente a esse setor na última década ainda foi capaz de estimular a produção de vídeos pelas próprias crianças.  A empresa diz que desde o início o site foi voltado para maiores de 13 anos. No entanto, o boom conteúdo da família, estimulado pela própria plataforma, sempre atraiu um público abaixo da idade recomendada. A pergunta que fica agora é se e o que muda em relação aos conteúdos infantis produzidos até então - algo que aconteceu também quando a visualização de likes no Instagram foi banida.  Para o pesquisador Wanderley Teixeira, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Ufba, assim como no Instagram, a mudança deve afetar youtubers menores e que não se pepararam para o novo cenário, algo que já era vislumbrado há um certo tempo.  Tanto assim, que os próprios Felipe e Luccas Neto disseram que para eles o impacto na receita não deve ser grande, mesmo classificando o dia do anúncio como um dos mais icônicos da história do YouTube. ”É o fim de uma era, onde muita coisa vai mudar daqui pra frente na plataforma e no conteúdo infantil no mundo inteiro. O Luccas Neto seguirá em 2020 sendo o maior influenciador e criador de conteúdo infantil do Brasil. Foi feito um trabalho ao longo de muito tempo p monetizar o conteúdo do Luccas através de filmes, séries, licenciamento, dentre outras novidades que virão”, escreveu Felipe no Twitter. Ainda segundo Teixeira, é justamente esse cenário que amortece a “perda” para alguns realizadores de vídeo com a saída do recurso adsense. No entanto, ele prevê uma possível retração no nicho, sobretudo no que diz respeito ao surgimento de novos canais e a manutenção dos já existentes e que são mantidos por atores que tinham uma tímida visibilidade. “O YouTube traz consigo um modelo de negócio altamente competitivo, visado por marcas, explorado por atores de diversas origens. Conforme a plataforma foi sendo usada dessa forma, surgiram conflitos de interesse, como a questão dos direitos de usos de imagens que é polêmica até hoje. Assim, me parece natural que a regulação de conteúdo infantil surja diante desses usos”, avalia.

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