Ypiranga deixa parte da sede com o estado e receberá CT reformado

Clube teve área de 10 mil m² desapropriada para construção de escola e, em contrapartida, terá melhorias na Vila Canária

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 07:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ypiranga/Divulgação

A sede do Ypiranga, localizada no bairro de Vila Canária, vai passar por uma grande obra. Uma parte das construções que hoje existem no terreno está sendo demolida e, em breve, abrigará uma escola. Mas isso não será o fim do clube, um dos mais tradicionais do futebol baiano, com 114 anos de história. Na verdade, acredita-se que é um recomeço.

“Em uma parceria com o governo do Estado, o Ypiranga teve cerca de 10 mil m² de sua área desapropriada para que a unidade escolar seja instalada. Em contrapartida, vamos ganhar um centro de treinamento novinho, todo reformado. O Ypiranga vai renascer”, explica o presidente do clube, Valdemar Filho.

A obra na Vila Canária, oficialmente Centro de Treinamento Deputado Galdino Leite, prevê implantação de campo com grama sintética - o atual é de terra - com iluminação em led; construção de acesso e bilheteria; recuperação da arquibancada; construção de alambrado, vestiários e salas de administração; pavimentação e nova rede pluvial.

A recuperação da infraestrutura esportiva do CT ficará a cargo da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), autarquia da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte. O projeto está em fase final de desenvolvimento pela área de engenharia da Sudesb e, em breve, será lançado o edital de licitação para a execução da obra. O investimento soma R$ 3,2 milhões.  O projeto do CT do Ypiranga após a reforma (Foto: Sudesb/Divulgação) “Essa mudança vai nos beneficiar. Nossa área vai encolher, mas vai ficar nova. Tudo estava muito destruído, em situação precária. Agora, teremos a estrutura recuperada”, comemora o vice-presidente do Conselho Deliberativo e ex-presidente do clube, Emerson Ferreti - o mesmo que, enquanto jogador, foi goleiro e ídolo do Bahia.Com a desapropriação dos 10 mil m² do terreno na Vila Canária, o CT do Ypiranga agora ocupará um espaço de 36 mil m². O plano é que fique pronto ainda em 2021.

Segundo Valdemar, além de ajudar com a reforma, a parceria com o governo também terá impacto positivo nas finanças do clube. “Diminuir nossa área vai reduzir os custos do IPTU, que hoje é de R$ 220 mil. Tínhamos uma casa enorme, mas sem condições de manter. As dívidas estavam acumulando e chegamos a ter tudo bloqueado. Mas já resolvemos a situação”, diz o dirigente.

Segundo conta o presidente do clube, a proposta da desapropriação partiu do governador Rui Costa por um motivo casual e inicialmente alheio ao futebol.

“Ele fez uma visita ao Colégio Estadual Filadélfia, que também fica na Vila Canária (o bairro, não o CT), por causa de uma estudante, Rebeca Uzêda, que se destacou no Enem. Quando chegou lá, ficou impressionado negativamente com a estrutura da escola. Visitou então nossa sede e pensou em construir um novo local de ensino aqui. Mas ficou sensibilizado com a história do Ypiranga e deu a contrapartida de restaurar nossa estrutura”, lembra Valdemar.

Unidade escolar O fato narrado pelo dirigente ypiranguense ocorreu em janeiro de 2019. Pouco mais de um ano depois, em março do ano passado, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) e o Esporte Clube Ypiranga assinaram um termo de acordo e compromisso referente à desapropriação dos 10 mil m² da área da agremiação. 

À época, o secretário estadual da Educação, Jerônimo Rodrigues, enalteceu e detalhou a parceria. “Esta iniciativa irá qualificar o espaço do clube, que ganhará uma escola de grande porte. Além disso, iremos fazer um termo de cooperação técnica para que os estudantes da escola, na atividade em tempo integral, possam fazer a prática de esporte em combinação com o clube. A comunidade do entorno poderá usar espaços da escola como biblioteca, auditório e quadra compartilhada. Para além dessa integração, que é importante, temos a preocupação com a aprendizagem dos estudantes daquela localidade”, comentou.

Já em 2021, no dia 12 de janeiro, o governo do estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), autorizou a ordem de serviço para a implantação da escola. A previsão é que a obra, com investimento na ordem de R$ 21 milhões, contemple cerca de 1,4 mil estudantes.As unidades de tempo integral, como a que será instalada na Vila Canária, oferecem estrutura para as aulas regulares em um turno, e reforço e atividades culturais e esportivas no outro turno. 

Na sede do Ypiranga, serão 9 mil m² de área construída, com 35 salas, três laboratórios, biblioteca e refeitório climatizados, além de auditório, quadra poliesportiva coberta, campo de futebol society e piscinas com vestiários.A escola na Vila Canária é um dos 60 prédios de grande porte prometidos pelo governo do Estado até 2022, na área educacional. Além de Salvador, as unidades serão implantadas nos municípios de Candeias, Lauro de Freitas, Dias D’Ávila, Salinas das Margaridas, Jaguaripe, Teixeira de Freitas, Itabuna, Ilhéus, Jucuruçu, Serra do Ramalho, Remanso, Casa Nova, Aramari e Araçás.

Meta da diretoria é disputar a segunda divisão este ano O Ypiranga era o time do coração de baianos ilustres, como Irmã Dulce (agora Santa Dulce dos Pobres, após ser canonizada), o escritor Jorge Amado e o capoeirista Mestre Pastinha - todos já falecidos e ícones nas áreas em que atuaram.Fundado em 1906, o aurinegro é o terceiro clube com mais títulos do Campeonato Baiano, atrás apenas de Bahia e Vitória. Ao todo, já foi campeão estadual 10 vezes (1917, 1918, 1920, 1921, 1925, 1928, 1929, 1932, 1939 e 1951). É o dobro de títulos do Galícia, por exemplo, outro clube de tradição na capital. O Ypiranga foi o time de massa em Salvador na primeira metade do século XX, status que perdeu para o Bahia, fundado em 1931.A equipe, porém, não disputa uma partida pela elite do Baianão desde 1999. Em 2010, depois de três anos ausente, competiu na segunda divisão estadual, já na gestão do ex-goleiro Emerson Ferreti, e teve rendimento ruim. Nos dois anos seguintes, chegou às semifinais, a última etapa antes do acesso na época, mas foi superado pelo Itabuna e pelo Jacuipense, respectivamente.

Em 2013, 2014, 2015 e 2016, o Ypiranga caiu na fase de grupos. Desde então, não jogou mais profissionalmente. O clube prepara o momento do retorno: a Série B do Campeonato Baiano, que está programada para acontecer entre 6 de junho e 25 de julho. “Nossa prioridade é essa, voltar a disputar o acesso em 2021”, garante o presidente Valdemar Filho.Para que o objetivo seja realizado, porém, ele pede o apoio dos torcedores. “A associação é muito importante. Pedimos que eles se associem ao clube, temos vários planos de sócios-torcedores. Também estamos produzindo camisas, que em breve estarão à venda. E ainda mobilizando nossos parceiros. Estamos trabalhando para voltar à elite do futebol baiano, mas precisamos de ajuda para colocar o projeto em prática”, apela.A diretoria visitou as obras de reforma do estádio municipal de Simões Filho, em outubro do ano passado, de olho na possibilidade do Mais Querido adotar a cidade da região metropolitana como mando de campo caso realmente dispute a segunda divisão.