Zico: Um bom filho da p...

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  • Darino Sena

Publicado em 3 de outubro de 2017 às 09:48

- Atualizado há um ano

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Quando você perdeu o pênalti em 1986, eu tinha 5 anos. E ouvi meu pai te chamar de filho da p... E você virou um filho da p... pra mim também. Aí eu cresci e descobri sua história.

O amor pelo futebol que veio de berço. As horas de condução com o pai pra chegar à Gávea. A dedicação de uma família inteira em nome de um sonho. O sonho do seu pai realizado no simples fato de ver o filho entrar em campo com uma camisa das duas cores do coração dele.

O empenho pra “encorpar”. As dores. O sacrifício pra voltar depois de tantas lesões. Mais dores. Não saber se ia sequer voltar a andar. Ter que ser carregado no colo. A sacanagem política que te tirou da Olimpíada. A perda do amigo Geraldo. Ser o maior craque da melhor Seleção que o mundo não viu ser campeã do mundo. Ter jogado no sacrifício na Copa seguinte e só ser lembrado pelo pênalti perdido sem as plenas condições físicas.

Não foi nada fácil ser Zico. Mas você conseguiu. Nos gols de fora da área, de cabeça, no oportunismo, nos dribles, nos passes, nas arrancadas, nas cobranças de escanteio, pênalti e falta. Pelo Brasil, na Itália, no Japão e, sobretudo, no Flamengo. Uma instituição que, antes de você, era um clube. E que você transformou numa Nação. A maior Nação exclusivamente de futebol do planeta. Você tem noção do que você é?  

O Flamengo deve muito a você. O futebol brasileiro, ainda mais. O que seria do Maracanã que não um eterno mausoléu de 1950 se você não tivesse aparecido pra exorcizar todos os nossos fantasmas de lá? Você trouxe de volta para o imaginário coletivo nacional o prazer de olhar pro Maracanã. Curou o maior dos nossos traumas.

Teríamos ganhado o tetra e o penta se várias gerações não tivessem se inspirado em você? Ronaldo que o diga... O que seria da camisa 10, no Brasil, se não surgisse alguém com tanta competência e talento pra empunhá-la e honrá-la depois de Pelé? O 10 teria sobrevivido forte e imponente como símbolo do futebol arte no nosso país até hoje?! Não.

Mas Zico não ganhou a Copa, nem como coordenador. Pobre Copa... É, Zico. De filho da p..., você não tem nada. Mas, perdoe meu pai. Agiu por impulso e por rancor. Ele torce pro Fluminense. Sofreu muito na sua mão. Digo, nos seus pés... Desculpe também por ter ido na onda da injustiça. Como amante do futebol, agora, eu só tenho mais duas coisas pra te dizer: muito obrigado.

Inveja Escrevi o texto acima para o livro Simplesmente Zico, da jornalista Priscila Ulbrich. É uma coletânea sobre o Galinho. Compartilho como protesto.

Cansei da pobreza do nosso futebol. Dos times que não querem a bola. Dos covardes, que fizeram da final da Copa do Brasil uma chatice. De um Brasileirão que tem mais da metade lutando pra não cair – a “materialização do nivelado por baixo”, segundo o jornalista André Rizek.

Cansado dos cartolas que, por política, aceitam um calendário com estaduais esdrúxulos, que espremem as competições mais importantes e tiram-lhes o brilho. Como jogar bem sem tempo pra treinar, se recuperar e criar um padrão? Cansado de jogadores e técnicos que aceitam tudo isso.

Sinto inveja de uma época que não vivi. Em que tínhamos grandes times e craques. Nosso futebol era bem jogado e referência. O tempo do Flamengo de Zico.

Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras.