'Zona de perigo': pedestres denunciam risco onde passageiro foi baleado no Canela

Vítima levou tiro no rosto em ponto de ônibus em tentativa de assalto nesta terça (23)

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  • Tailane Muniz

Publicado em 24 de abril de 2019 às 12:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

A tentativa de assalto que terminou com um homem baleado no rosto, no início da manhã desta terça-feira (23), em um ponto de ônibus do bairro do Canela, em Salvador, não surpreendeu quem frequenta o local. Nesta quarta-feira (24), o equipamento amanheceu com cartazes que denunciam que o lugar é uma "zona de perigo".

De acordo com estudantes e moradores, o tempo de esperar o coletivo, ali, na Rua Padre Feijó, entre os bairros da Graça, Canela e Federação, é sempre um momento de tensão. Segundo alerta os cartazes, os roubos são registrados com regularidade: "dia sim, dia não".

Estudante de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Railan Santana, 21 anos, que pega ônibus no mesmo ponto há quase três anos, disse que ficou surpreso ao ver as imagens de Luís Daniel Carvalho Souza, 41, todo ensanguentado, logo após sofrer o ataque.  O estudante Railan Santana contou que ficou surpreso com violência de assalto (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A vítima, que mora na Graça e estava a caminho do trabalho, foi socorrida pela Polícia Militar até o Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece internada. Nada foi levado do rapaz."O assalto não foi uma surpresa, mas a violência utilizada me surpreendeu, sim", disse o estudante, que aguardava no ponto, na manhã desta quarta.Railan contou à reportagem que o histórico de assaltos é tão grande, que o Buzufba (coletivo que transporta os estudantes da Ufba) só para no local até determinado horário. "Os motoristas não param aqui, porque, em geral, já fica deserto à tarde. Minha sorte é que estudo de manhã, quando o movimento de estudantes é um pouco maior", comentou, ao dizer que nunca presenciou um assalto. Homem baleado segue internado no HGE (Foto: Reprodução) À noite, por exemplo, quem estuda na Ufba tem que se dirigir até uma parada anterior, ou à próxima, já na entrada de acesso ao Campo Grande. Railan também acrescentou que, nos grupos de WhatsApp de alunos da universidade, é comum ver relatos de pessoas que foram vítimas de ladrões na região.

Rota de Fuga Localizado em frente à creche da Ufba e à Escola Mundo Novo, o ponto de ônibus pode ser acessado por duas escadarias que também dão acesso à Avenida Centenário - o que, para os frequentadores, facilita a fuga de bandidos. 

Coincidência ou não, foi por onde fugiu o bandido que atacou Luís Daniel. De acordo com os militares que deram socorro à vítima, o ladrão, que estava sozinho, fugiu pela escada da lateral esquerda ao ponto, por volta de 6h50. O crime é investigado pela 1ª Delegacia (Barris). Por meio da assessoria, a Polícia Civil informou que ainda não tem informações sobre o bandido.

A aposentada Cláudia Andrade, 42, mora no local há 30 anos e acredita que "é rápido e fácil roubar e fugir pelas escadas". Segundo ela, a situação de risco aumenta quando chega a tarde. Para Cláudia, local facilita fuga para bandidos (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) "Quando o sol se põe, pronto, é hora de ligar o alerta. Isso aqui é histórico, sempre foi assim. Não há uma regularidade de policiais, não tem segurança nenhuma, hoje está assim pelo que aconteceu ontem", disse ela, em referência aos dois PMs que, esta manhã, estavam posicionados próximo ao ponto."A gente aqui tem que chamar por Deus, porque Salvador está muito parecida com o Rio de Janeiro, onde trabalhadores e pessoas de bem são mortos diariamente sem qualquer intervenção do Estado", reiterou.

Policiamento Em nota enviada à reportagem, a Polícia Militar informou, no entanto, que o policiamento no bairro do Canela é realizado de forma “ostensiva e preventiva, em regime de 24 horas” por militares do 18º Batalhão (Centro Histórico), que “emprega viaturas na área, sob sua responsabilidade, além de outras localidades”.

A PM também afirmou que rondas e abordagens são reforçadas. “Atuam a Companhia Independente de Policiamento Ostensivo (CIPT), Rondas Especiais (Rondesp), Bahia de Todos os Santos (BTS) e do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) da unidade, além de guarnições da 41ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Federação) e 11ª CIPM (Barra), que atuam na região limítrofe às três Unidades”. Dois policiais faziam a ronda na região nesta quarta-feira (24) (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “A PM realiza o trabalho preventivo e repressivo de forma ostensiva durante 24 horas em toda cidade. Cada unidade é responsável por uma determinada região e conta com o apoio de especializadas. Faz parte do trabalho preventivo as abordagens em pontos de ônibus e passarelas realizadas por policiais militares. O policiamento é empregado conforme o fluxo de pessoas e com base nas ocorrências registradas”, conclui a nota.

Sem se identificar, uma pedestre salientou, no entanto, que é incomum ver polícia no local. Natural, segundo ela, é a incidência de roubos. “Trabalho aqui há mais de um ano e ouço histórias com frequência. É sempre um risco enorme ficar aqui esperando". A mulher, que chegou a ver Luís Daniel ser socorrido, contou que a alternativa que encontra quando o local fica deserto é embarcar em qualquer coletivo e saltar num ponto onde não se sinta a mercê de bandidos.