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Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Há 50 anos, o primeiro presente especial para Iemanjá chegava ao Rio Vermelho, deixando ainda mais bonita a cena da saída dos barcos. Especial, explica o historiador Nelson Cadena, pelo segredo em sua preparação. Sempre orientado por uma ialorixá, o presente começa a ser feito meses antes por um artista plástico e só pode ser visto publicamente em sua chegada à Casa do Peso, às 5h do dia 2 de fevereiro. “Sempre são presentes de grande porte, alguns com três ou quatro metros”, completa.>
Durante mais de 20 anos coordenando a parte religiosa da festa, Mãe Aíce de Oxóssi já viu grandes presentes, como a tartaruga cabeçuda e uma concha gigante. Desde o ano passado fora da coordenação, ela não precisa mais manter o segredo e abriu suas portas para mostrar como prepara a oferenda de seu terreiro, o Odê Mirim, no Engenho Velho da Federação.(Foto: Almiro Lopes/CORREIO)>
Um grande balaio, enfeitado com panos brancos e azuis abriga tudo o que Iemanjá gosta: rosas, sabonetes, perfumes, pentes, joias e espelhos. “Muita gente vem aqui depositar seus presentes. Mesmo quem não é do terreiro, porque já está acostumado depois de todos esses anos”, revela Mãe Aíce. Ao lado da oferenda para a Rainha do Mar, um segundo balaio adornado com um pano amarelo guarda os presentes para Oxum.>
O Ilê Axé Odê Mirim, assim como outros terreiros, deposita sua oferenda para Oxum no Dique do Tororó, durante a madrugada do dia 2. “Toda vida, o primeiro presente é de Oxum, para depois o de Iemanjá”, explica Mãe Aíce. Mas antes dos presentes, tem festa. “Às 22h começa o xirê, o couro vai comer pra Iemanjá e Oxum ficarem satisfeitas”, promete.>
Embora alguns, como Mãe Aíce, cheguem hoje com seus presentes, o caramanchão já está aberto desde ontem. Aproveitando a movimentação mais tranquila, muitas pessoas foram adiantar a entrega de suas oferendas. Ontem, o público era formado, principalmente, por idosas que, entre o cheiro de flores e seiva de alfazema, faziam seus pedidos e agradecimentos.>
A aposentada Maria José Dutra, 71 anos, depositou num dos balaios um conjunto de brincos e colar que o filho trouxe da China. “Eu estava em dívida com ela, tinha que vir. Antes, eu era muito descrente, mas fiz um pedido e ela realizou”, conta.>
O pedido foi feito há muitos anos com uma rosa branca, após insistência de uma tia. Na prece, ela pediu à Iemanjá que lhe desse uma casa. “Duas semanas depois, meu marido chegou me dizendo que tinha conseguido financiar uma. Hoje, somos donos de três”, comemora ela, que é moradora de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.>
Num pequeno cesto redondo, o fotógrafo Anderson Benvenutto, 29, conseguiu reunir oferendas cheias de intenções. Flores, perfume, sabonete, maçã, lenço, miçangas e cartas. “A produção toda passou por minhas mãos. Eu mesmo fiz o lenço e peguei flores de jardim. É intuitivo e muito pessoal. Apesar de eu ser espírita kardecista, acredito muito nela porque já fiz um pedido e ela realizou. Por isso, estou aqui para agradecer”, explica.>