Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 12 de janeiro de 2023 às 05:30
O Monumento da Cidade de Salvador ou Fonte da Rampa do Mercado, como é conhecido, foi devolvido à Praça Cayru, no Comércio, ontem, durante um ato realizado pelo prefeito Bruno Reis. A obra do artista Mário Cravo Júnior sofreu um incêndio em 2019, e retorna ao lugar de origem quatro anos depois. >
Idêntica ao monumento original em tamanho e aparência, se diferencia apenas pela adição de uma proteção anti chamas à fibra de vidro que o compõe. Ao todo, foram investidos R$ 4 milhões na nova construção, que conta com fonte luminosa na cor azul ao seu redor. >
Para dar ritmo a celebração pelo retorno de um dos mais importantes cartões postais da capital baiana, o grupo percussivo Swing do Pelô marcou presença, com direito a fogos de artifícios. Ao lado de outras autoridades, o prefeito destacou a importância da nova construção. >
"É um dos principais símbolos da nossa cultura e da nossa arte. Sem sombra de dúvidas representa um marco para a história da Bahia. Então é muita felicidade entregar este monumento um dia antes da volta da festa do Senhor do Bonfim", destacou o Bruno Reis. >
Um impasse entre a prefeitura e alguns membros da família de Mário Cravo, no entanto, quase impediu a reinauguração do espaço. Simbolizando a resolução do problema e como um representante da figura do artista, o filho dele, Otávio Cravo, também esteve presente na inauguração. >
"Pude ajudar na obra junto com todo o time da Desal [Companhia de Desenvolvimento Urbano] e quero agradecer a Fernando Guerreiro, por todo apoio e ao nosso prefeito, Bruno Reis, que levou a cabo muito importante para a cidade", agradeceu. Além dele, três bisnetas do artistas prestigiaram o evento.>
A obra foi reconstruída pela Desal, com o apoio da Fundação Gregório de Matos (FGM). Para o diretor da FGM, Fernando Guerreiro, esse é o retorno de um monumento quase natural entre a paisagem da cidade. "Foi abraçado pela população e pelos turistas. Já virou um marco para Salvador, mais que um monumento, é quase um monumento natural", definiu Guerreiro. >
Construída em 1970, o incêndio que causou a destruição do monumento ocorreu em 21 de dezembro de 2019. O que representa um hiato de quatro anos em sua história, que completa 53 anos em 2023. Na ocasião trágica, o fogo se alastrou rapidamente, consumindo toda a fibra de vidro que formava a peça, restando apenas as estruturas de metal que a sustentavam.>
Além do fogo alto, muita fumaça se alastrou pela Praça Cayru, no Comércio, onde ficava localizada a obra original. O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-Ba) esteve no local, mas, segundo testemunhas, o fogo apagou antes mesmo da ação, depois de destruir a fibra.>
A causa do incêndio estava sendo investigada pela Polícia Civil (PC-Ba). Questionado pela reportagem, o órgão informou que a causa do incêndio seria definida pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), mas não houve retorno até o fechamento desta matéria. Na época, o diretor da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro, chegou a sugerir uma fogueira acesa por usuários de drogas, destacando que a situação era corriqueira. >
A escultura era uma das mais conhecidas de Mário Cravo Júnior e um dos principais cartões-postais da capital baiana. À época, o então prefeito de Salvador, ACM Neto, prometeu reconstruir a obra, mas um impasse entre a prefeitura e alguns membros da família do artista responsável pelo monumento atrasou a nova construção em pelo menos 7 meses. >
À princípio, a família havia se comprometido a disponibilizar o projeto para a reconstrução sem cobrar pelos direitos autorais. No entanto, dois membros não foram favoráveis ao acordo. Um deles, Ivan Cravo, entrou com uma notificação extra-judicial em janeiro de 2020, pedindo R$ 1 milhão pelos direitos autorais da obra do pai.>
“Eu estava à frente das tratativas com a prefeitura e com a Fundação Gregório de Matos (FGM) para refazer a obra. Os herdeiros de Mário Cravo tinham dado carta branca para a reconstrução e o retorno da obra o quanto antes às características feitas pelo autor, mas meu irmão Ivan e meu sobrinho Christian não assinaram o documento permitindo a obra”, contou, na época, Otávio Cravo, outro filho do artista. >
Diante do impasse, o ex-prefeito chegou a cogitar a substituição do monumento por outra obra. “Só não começamos a reconstruir porque houve um desalinhamento de posições entre a prefeitura e a família de Mário Cravo. Meu desejo é que o monumento seja reconstruído exatamente como era [...] Mas não vou aceitar pedidos absurdos”, afirmou Neto>
A medida não foi necessária graças a um parecer da Procuradoria Geral do Município (PGM), favorável à prefeitura. A decisão concedeu aval para a construção sem a necessidade do pagamento por direito autoral, por considerar o solicitação ilegal, em outubro de 2020. No final do mesmo ano o processo de licitação foi aberto. A vencedora foi a empresa RC Restauração e Construções. >
Memória Além da devolução da obra de Mário Cravo à Praça Cayru, a prefeitura realizou a entrega do Monumento em Memória às Vítimas da Covid-19 e em Homenagem aos Profissionais da Saúde, na Praça Cayru, em frente ao Terminal Marítimo de Salvador. >
A escultura em tom marrom e elementos dourados foi a última obra esculpida pelo artista Tatti Moreno, falecido em julho do ano passado, aos 77 anos. Além da homenagem às vítimas da Covid e aos profissionais da saúde, a inauguração também marca a celebração da genialidade do escultor. >
"Era um desejo da prefeitura realizar um monumento que pudesse ficar registrado na nossa história, para servir de inspiração e, acima de tudo, para dar força e coragem para que a cidade seguir avançando, enfrentando suas adversidades e fatalmente outros momentos difíceis que podem ocorrer em sua história", disse o prefeito Bruno Reis. >
Foi no início de um dos momentos mais difíceis, como a pandemia, que o condutor socorrista, Vanderson Cardoso, entrou para a equipe do Samu, no final de 2019. Ao ver a escultura inaugurada, seu sentimento é de gratidão por ter contribuído para amenizar as adversidades provocadas pela crise sanitária. >
"Quem está aqui hoje sobreviveu a uma guerra, então essa homenagem nos deixa felicíssimos", afirmou o socorrista. Em ressonância, o secretário municipal de Saúde, Décio Martins, concordou. "Não podemos deixar de homenagear as 8 mil vítimas que faleceram na nossa capital, então é de uma sensibilidade ímpar a construção desse monumento", destacou. >
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela >