ARTIGO

O Nordeste não dorme

As desigualdades econômicas, educacionais e de infraestruturas são graves e se refletem na baixa composição orgânica do capital

Publicado em 9 de maio de 2024 às 05:00

Essa expressão, geralmente atribuída à inquieta cotidianidade das cidades ou regiões de grande dinamismo econômico e social, não se assemelha à inquietação da vida no Nordeste brasileiro. Aqui, a luta é mais intensa para garantir vida digna econômica e socialmente.

Em grande medida pelas adversidades naturais aparentes, todas elas passíveis de soluções técnicas dependentes de vontade política. Somam-se as desigualdades econômicas que se mantêm estabilizadas há quase 70 anos! Aprofundando as desigualdades sociais.

Em 1959, os dados do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste coordenado por Celso Furtado, davam conta que o PIB regional representava 13,6% do PIB nacional e a renda média era a metade da renda média nacional. Em 2022, o PIB do Nordeste foi de 13,6% do PIB nacional e a renda “per capita”, de todos os estados nordestinos, manteve-se, durante o período 1958-2022, na metade da renda “per capita” nacional.

As desigualdades econômicas, educacionais e de infraestruturas são graves e se refletem na baixa composição orgânica do capital, decorrente da baixa capacidade de investimentos públicos e privados na região. O resultado desse círculo acumulativo se expressa nos dados do IBGE, na Síntese de Indicadores Sociais-2022, que informam que 51% da população do Nordeste está em situação de pobreza, e da Pesquisa de Orçamentos Familiares, que afirma estar concentrada nessa região 47,9% da pobreza no Brasil.

A região Sul, com um território 2% maior que o da Bahia e cerca de 1/3 do território nordestino, abriga 29,9 milhões de habitantes, dos quais, 8 milhões são trabalhadores formais e 1,4 milhão de famílias vivem do Bolsa Família, representando 14% da população.

O Nordeste, com seus 54,6 milhões de habitantes, tem apenas 7 milhões de trabalhadores formais e 9,5 milhões de famílias no Bolsa Família, correspondendo a 52% da população. A Bahia, sozinha, registra 2,8 milhões de famílias no BF, o dobro da região Sul, representando cerca de 60% da população do estado. Por falta de compreensão da atuação e do jogo das forças políticas e econômicas, parte da sociedade nordestina espera dos governantes dos estados a solução desses problemas e os culpam pela impossibilidade de superá-los, abrindo espaço para as promessas e a demagogia. Não será possível superá-los sem uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional que nada tem a ver com o chamado Fundo de Desenvolvimento Regional previsto na Reforma Tributária.

Há muito a dizer, mas finalizo lembrando que, em 1956, o pernambucano Josué de Castro publicava “Geografia da Fome”; um profundo estudo sociológico a respeito da fome no Brasil e expressou a frase que chocou o País: “Metade dos brasileiros não dorme porque tem fome; a outra metade não dorme porque tem medo de quem está com fome”.

Assim sendo, o Nordeste não dorme!