Marcélia Cartaxo brilha em Pacarrete, que estreia em Salvador

Primeiro longa do diretor Allan Deberton fala de arte, loucura e velhice

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  • Ana Pereira

Publicado em 26 de novembro de 2020 às 05:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Marcado pela sutileza e boas interpretações, o filme Pacarrete chega aos cinemas após uma longa e premiada estrada nos festivais do Brasil e exterior. No total, foram 39, como o de Gramado, de onde saiu consagrado no ano passado, com 8 Kikitos. Entre eles, os de melhor filme, direção para o estreante em longa-metragem Allan Deberton, e de atriz para Marcélia Cartaxo.

Pacarrete é também o nome da protagonista do filme, uma bailarina aposentada que retorna para a pequena cidade do Russas, no interior do Ceará. É lá que ela sonha em montar um grande balé, enquanto vive entre lembranças, anseios, dureza do dia a dia e a ridicularização coletiva. A história fala do papel da arte, de loucura e de como é difícil envelhecer no Brasil. O filme levou 12 anos para ser produzido é  inspirado numa conterrânea do diretor. 

“Fico pensando nas inadequações e em como é triste ter que gritar para ser ouvido, para ser respeitado. Quem assiste ao filme sai modificado, eu tenho certeza, pensando em alguém não muito distante... Pode ser uma vizinha, uma tia, ou um senhor excêntrico. Pacarrete pode ser um estado de espírito. É quando a gente vive quem a gente é”, afirma Deberton.

Transitando no limiar entre o choro e o riso (principalmente na primeira parte), Pacarrete tem na atuação de Marcélia Cartaxo um dos seus grandes trunfos. Sempre lembrada por sua atuação em A Hora da Estrela - que lhe rendeu o Urso de Prata em Berlim - a veterana atriz se entrega com muita verdade à esta senhora excêntrica, que conquista até o mais duro expectador.

Marcélia afirma que viver a bailarina foi um grande desafio, sobretudo pela exigência física. Para interpretá-la, a atriz teve aulas de voz e canto, aprendeu francês e fez aulas de ballet, com a supervisão do coreógrafo Fauller e da bailarina cearense Wilemara Barros. “A Pacarrete é muito culta, fala francês, toca piano e tem um corpo que fala o tempo todo”, pontua a atriz. 

O elenco principal ainda conta com as atrizes paraibanas Zezita Matos (das novelas Velho Chico e Amor de Mãe) e Soia Lira (Central do Brasil, Abril Despedaçado) e com o baiano João Miguel (O Céu de Suely, Estômago), numa participação muito certeira como alguém capaz de entender os anseios da bailarina. “Pacarrete é um acontecimento além-filme. É fazer justiça com uma mulher que pedia um palco e dizia, aos berros, que ainda iriam ouvir falar dela. Quando eu vejo a plateia em silêncio, sentindo o filme, tenho certeza que estão pensando na vida, no tempo que passa rápido e em alguém que passou e não tivemos a oportunidade de pedir desculpas”, reflete Allan.