Outro show do A-ha em Salvador teve chuva, apagão e atraso em 1991. Relembre

Um dos 'hits' da apresentação no antigo Centro de Convenções foi a desanimação da garotada

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  • Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2022 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shirley Stolze/Arquivo CORREIO

Se você foi à Arena Fonte Nova na noite dessa sexta-feira (15) para curtir o A-ha, matando saudades, provavelmente essa nostalgia não tenha nada a ver com a outra apresentação do trio norueguês em território baiano, há 31 anos. 

A esperada apresentação, no auge do grupo, e que, segundo as expectativas locais, “colocaria Salvador definitivamente no circuito de shows internacionais”, foi considerada um fiasco por muitos, com direito a chuva, violência policial e até queda de energia - tanto a da rede pública, quanto a do próprio público, que não chegou nem perto de lotar o estacionamento do antigo Centro de Convenções.

A malograda passagem de Morten Harket, Pal Waaktar, Mags por Salvador, em 5 de junho de 1991, foi relatada pelo repórter Eduardo Bastos, na edição do Correio da Bahia de 7 de junho de 1991, e teve como título ‘Com a frieza de um videoclip’. Na linha de apoio, a sentença um tanto mal humorada: “Falta de energia e chuva atrapalharam A-HA, sem maiores emoções”. Foto: Shirley Stolze/Arquivo CORREIO Chuva e vazio A expectativa de um toró na hora do show, naquela noite de quase inverno, provavelmente tenha afastado parte do público, que era formado em sua maioria por adolescentes. Mas outros fatores também influenciaram a adesão abaixo do esperado. “Ameaça de chuva, show no meio de semana, em pleno período letivo, e preço de ingresso que, embora justo, era inacessível pra quem se debate contra uma das mais angustiantes crises da economia brasileira”, citava o repórter.

Apesar disso, comentava Bastos, “o espectador que foi ao Centro de Convenções preparado para acotovelar-se entre uma legião de fãs histéricas e exaltadas, não pôde conter a surpresa ao deparar-se com o público teen mínimo, aglomerado entre a torre de controle de som e luz, e o palco”.

O clarão no meio da multidão, claro, era visível. “Atrás da torre, o espaço era suficiente para se disputar, com tranquilidade, uma partida de futebol com direito a torcida e o policiamento ostensivo. Os policiais, aliás, foram de sumo valor para que a área não ficasse tão despovoada”.  Foto: Shirley Stolze/Arquivo CORREIO Repórter que cobre Cultura no CORREIO atualmente - diria até um sucessor de Bastos no trato ferino de boa parte das pautas -, Roberto Midlej estava lá como espectador, porém dada a tenra idade na época, não lembra perfeitamente da "Eu não gostava da banda, ao ponto de ir para o show, só que Salvador, 1991, se hoje ainda é uma província, imagina isso há 30 anos. A cidade parou, né?”, lembra o colega, que tinha 15 aninhos na época. “Eu lembro que eu e um amigo queríamos chegar cedo, e aí a gente não almoçou em casa, não fez lanche. Entramos, já tinha uma galera, e a gente queria um lugar mais perto do palco. Aí encheu essa parte e a gente decidiu não sair para não perder o lugar. Meninos, né? E aí veio fome, sede, parecia que o show não ia começar nunca, e quando começou eu já tava cansado”, recorda.

Outro que tem lembranças não muito agradáveis do show é o professor Jackson Santana, que também contava 15 aninhos na ocasião. “Eu morava perto, na Boca do Rio, e fui andando, mas já na cara e na coragem com a expectativa da chuva. E ela veio, mas não entrou água em meu chope, não, até porque eu não podia beber na época”, brinca ele, que das poucas coisas que lembra foi de ter cantado Take on Me a plenos pulmões. “Acho que foi a música que mais agitou a galera. Turma foi à loucura mesmo”.

Sem energia A chuva chegou antes de ‘Take on Me’, ainda no início do show, que começou atrasado porque, simplesmente, houve um blecaute em toda a região.“São Pedro, a mais temível ameaça ao esperado show do A-ha, acabou colaborando de última hora. Foi a súbita ausência de energia elétrica envolvendo a área e circunvizinhanças numa inexplicável escuridão que tirou o brilho do espetáculo”, crava o repórter. “Este fator, aliado a um público surpreendentemente reduzido para quem prognosticava uma lotação de 30 mil pessoas, foi determinante para que a performance dos noruegueses Morten Harket, Pal Waaktar, Mags e músicos coadjuvantes não rendesse o que dela esperavam seus admiradores adolescentes”, avalia o repórter, sugerindo que o público não passasse de 10 mil. Há registros posteriores que indicam 18 mil pessoas na plateia.

Com o show principal marcado para 21h, às 18h30 o sistema elétrico já ensaiava uma pane, e acabou por cumprir essa promessa ainda antes das 19h. A energia só veio voltar quase na hora da banda entrar no palco. “Por volta das 21h a luz voltou, mas só para iniciar uma sucessão de idas e vindas que só fez aguçar as dúvidas quanto à efetivação do espetáculo. Eram aproximadamente 10h da noite quando a energia voltou dando sinais de que desta vez seria para valer”, cita Bastos em um trecho.

A produção ainda se desculpou, mas os escandinavos só começaram a brincadeira perto das 23h. “Às 22h40 as luzes se apagaram, desta vez para que somente as coloridas do palco ficassem acesas e o show começasse. Todavia, quando o A-ha subiu ao palco, sob os apupos da malta púbere, e iniciou as primeiras sequências de Loosing You, a decepção foi total. O som soou sem potência e a iluminação não foi utilizada em sua plenitude”. Foto: Shirley Stolze/Arquivo CORREIO Os dois telões, que haviam sido anunciados como um atrativo a mais ao espetáculo, não funcionavam. A explicação estava no fato de a equipe técnica resolver poupar energia, a fim de evitar uma nova pane. 

“Somente lá para o meio do espetáculo é que sentiu firmeza e aumentou consideravelmente a dosagem de som e de luz”, cita Bastos, dando conta das cerca de 1h35 de apresentação - incluindo-se o prolongado bis. ‘Cry wolf’, ‘Touchy’, ‘Early Morning’, ‘Hunting High and Low’ e ‘Crying in the Rain’ foram alguns dos demais clássicos executados. 

“O espetáculo se ofereceu aos olhos e ouvidos do público com a frieza de um videoclipe, tal a carência de fleuma e a absoluta falta de improviso em que se desenvolvia. (...) A plateia correspondia de forma mais bem comportada possível. Dançava sem se exceder, cantava sem muita ênfase, nem convicção, e economizava de forma surpreendente a descarga de histeria que todos esperavam”. A galera só voltou a ficar ligada no funil da saída, “comprimido pelos cacetes indóceis dos policiais militares”.