‘Por vingança mesmo’, diz filho de PM que matou criança e idosa em Camaçari

Menino levou 13 tiros. 'Coisa do momento', diz autor; pai e outro PM são comparsas

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  • Eduardo Dias

Publicado em 5 de agosto de 2019 às 16:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Gilmar apontou participação de pai e outro policial em crime (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Autor confesso de um triplo homicídio, no mês passado, que vitimou um menino de apenas 5 anos, a avó da criança e um dos filhos dela, em Monte Gordo, localidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, Gilmar Soares da Gama, 30, disse ter cometido o crime por vingança e com ajuda de mais três pessoas, incluindo seu pai, PM da reversa, e um policial da ativa.

Ele foi apresentado pelo Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) e pela 33ª Delegacia (Monte Gordo) à imprensa, nesta segunda-feira (5), na sede da Polícia Civil, na Piedade, em Salvador, ocasião em que explicou que o ataque foi uma retaliação a Adrielson Santos Leal, que é parente das vítimas e possui mandado de prisão em aberto. Adriel Leal da Silva, 5, filho de Adrielson, foi baleado 13 vezes e, segundo a perícia, tinha 19 perfurações no corpo.

"Matamos por vingança mesmo, nos vingamos dele", disse Gilmar, se referindo à suposta participação de Adrielson no assassinato de seu irmão, Caio Soares, em 2011, e citando a participação, no crime em Monte Gordo, de seu pai, o policial militar aposentado Orlando Carvalho da Silva, 67, um outro PM da ativa, identificado apenas como Rodrigues, e Anthony Adrian dos Santos Gomes, 32, conhecido como Pitoco, que teria ligação com o tráfico de drogas em Itapuã. O PM da reserva Orlando Carvalho da Silva, pai de Gilmar, e o Anthony Adrian dos Santos Gomes são procurados (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) No dia 12 de julho, Renilda Arcanjo de Jesus, 63, seu filho, Arielson Santos Leal, 34, e o neto, Adriel, foram executados dentro de casa. Os assassinos procuravam Adrielson e, como não o encontraram, decidiram matar os parentes a tiros.

Patola, como Gilmar é conhecido, era dono de um lava-jato em Nova Brasília de Itapuã, bairro onde morava até o dia do crime. Ele estava foragido e só foi preso na última sexta-feira (2), em outra residência, que pertence ao seu pai, Orlando, na cidade de Serrinha, Centro Norte baiano.

Ao comentar o ataque por vingança, ele citou o crime cometido contra seu irmão, há oito anos."Ele (Adrielson) arrancou o pescoço do meu irmão, e até hoje não sabemos o motivo. Ele (Caio) só tinha 18 anos na época. Matamos por vingança mesmo, nos vingamos dele", declarou.'Coisa do momento' Gilmar contou ainda que tentou armar uma emboscada contra Adrielson, mas que não deu certo."Ele (Adrielson) encomendou um celular com um traficante para entregar numa casa, marcamos para encontrar ele, mas quando chegamos lá, ele não estava. Só estava o irmão, a mãe e o filho dele. Me arrependo de ter feito isso com a criança, mas foi coisa do momento. Não queríamos matar todos eles", declarou Gilmar.O autor também alega que não foi o único a fazer os disparos contra a família. "Eu não atirei neles sozinho. Eu queria descontar o que ele fez com meu irmão. Eu estava com meu pai, o outro policial e o Anthony também”, reforçou.

Segundo a delegada titular da 33ª Delegacia (Monte Gordo), Aymara Bandeira, Anthony, o Pitoco, havia feito uma ligação para Adrielson, pedindo que ele fosse para Arembepe buscar um celular e uma quantia de R$ 200, com a finalidade de que ele retornasse ao comando do tráfico de drogas na localidade da Baixa da Égua, no Km 17, em Itapuã, a mando de Orlando, a quem aponta ser líder de uma milícia no bairro.

Ainda segundo a delegada, como 'malandro experiente', Adrielson notou que se tratava de uma cilada, e não apareceu. Por conhecer Anthony, com quem foi criado junto no bairro, Arielson foi no lugar do irmão e foi arrebatado pelo grupo e levado até a casa onde o crime aconteceu.“As informações que temos do Serviço de Investigação (SI) é de que o Orlando é uma pessoa extremamente temida na localidade. Os moradores não quiseram dar nenhuma informação pelo fato dele ser ‘matador’, e não quiseram se envolver na situação”, disse.Outra criança escapou Uma outra criança, de 7 anos, por pouco não se tornou a quarta vítima do grupo. Ela estava na escola no momento do crime e foi levada pela polícia para cuidados de um responsável. As armas utilizadas no crime ainda não foram localizadas.

De acordo com a delegada Fernanda Porfírio, diretora do Depom, a prisão de um dos suspeitos é tratada como uma questão de honra para a corporação pelo fato de o crime envolver uma criança e ter sido um caso de muita comoção.

“O Adrielson era o alvo deles. Temos a autoria do crime destinada a essas três pessoas, inicialmente, os apontados já estão com os mandados de prisão e de busca e apreensão decretados pela justiça. Ficamos felizes por elucidar um crime dessa natureza, e com a repercussão que teve o caso, pois nos ajudou na prisão e identificação dos demais”, revelou a delegada.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.