Assine

Primeiro automóvel do Brasil foi atração no Carnaval de Salvador


 

Carro do engenheiro Henrique Lanat fazia parte do desfile de corsos no Centro da cidade

Publicado em 13/02/2021 às 07:00:00
Atualizado em 08/05/2023 às 08:09:05
. Crédito: .

Lanat, em exposição no Museu de Ciência e Tecnologia, em Pituaçu, em 1988 (Foto: Oduvaldo da Silva/Arquivo CORREIO) O automóvel mais antigo do Brasil, um Clement Panhard & Levassor, chegou à Bahia no dia 2 de fevereiro de 1901, há 120 anos. Pertencia ao engenheiro e comerciante Henrique Lanat e também foi um personagem do Carnaval de Salvador. Sim, o carro era o personagem. O automóvel, que permanece conservado, inclusive, fazia parte dos desfiles pelas ruas do Centro da cidade no início do século passado.

Lanat era um entusiasta dos desfiles de corsos - carros enfeitados - e a arrumação do carro dele para a folia de cada ano era aguardada pelo público. Uma reportagem publicada pela Revista Bahia Ilustrada sobre o Carnaval de Salvador de 1919 fala um pouco sobre a fama do automóvel."Sempre que está ás portas da cidade do Salvador a alegria de Momo, uma curiosidade preconiza as sorprêsas das , e dos carros, os mascarados e as allegorias. E essa curiosidade é tanto maior quanto se pensa no que apresentará de novo o sr. Henrique Lanat, que costuma, nos carnavais bahianos, attrair para seu automóvel, como numa extraordinaria fascinação, as attençoes todas por suas orginalissimas excellencias*", diz um trecho.Outros jornais da época apontam que Lanat não só colocava o próprio carro na rua, como alugava automóveis para os desfiles. O dele, claro, costumava ser mais atrativo. Naquele ano, mesmo com o impacto da crise provocada pela Primeira Guerra, o comerciante colocou "um recamo de phantasia e de luzes, com um apparato singular, que deslumbrou*". Lanat e outros automóveis participavam dos desfiles de corsos no Carnaval de Salvador (Foto: Revista Bahia Ilustrada, 1919/Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional) Fora do Carnaval, o carro também atraía atenções. O historiador Daniel Rebouças conta que o dono, Henrique Lanat, circulava com o automóvel apenas pela região do Garcia."Ele importou um carro de um cavalo só, não subia ladeira nem nada. Ele rodava com o carro só no Garcia", conta.O modelo, com estrutura de madeira armada e um motor quase horizontal, de dois cilindros e já com volante, foi importado da França. É, possivelmente, o exemplar de número 475, fabricado em 1900, embora o modelo fosse de 1889.

Em 1949, quase 50 anos após ter chegado a Salvador, o veículo, apelidado de Lanat, participou de um desfile do IV Centenário de Salvador. Ainda hoje permanece na Bahia. Primeiro, ficou exposto no Museu de Ciência e Tecnologia, no Parque de Pituaçu, como mostrou reportagem do CORREIO em novembro de 1988. Ele estava lá ao lado de um ônibus espacial, o convés de um barco, as turbinas e um avião e uma locomotiva. O carro ficou em exposição no Museu de Ciência e Tecnologia, em Pituaçu; CORREIO mostrou em 1988 (Foto: Sonia/Arquivo CORREIO) Atualmente, faz parte do acervo do Museu da Misericórdia, que pertence à Santa Casa de Misericórdia. O carro foi doado pela família ao Museu em 2007 para atender a um desejo da viúva de Henrique Lanat, dona Maria Rosa, de que o carro nunca deixasse a Bahia.

Os netos do casal, vestidos com roupas em referência ao início do século passado, fizeram o último trajeto do carro, entre a Câmara de Vereadores e o Museu da Misericórdia, na cerimônia de doação.

*Grafia da época