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UFRB inaugura laboratório que fará até 150 testes padrão ouro por dia de covid-19


 

Espaço vai atender ao público da universidade e cidades da região onde a instituição está presente

  • Daniel Aloísio

Publicado em 05/04/2021 às 21:07:00
Atualizado em 22/05/2023 às 20:58:14
. Crédito: UFRB/ Divulgação

Intensificar a testagem da população para identificar casos de covid-19 e promover o isolamento dos contaminados é um caminho epidemiológico recomendado por cientistas no combate ao vírus. E a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) vai passar a contribuir nesse processo com o lançamento do Laboratório de Diagnóstico Molecular da covid-19, espaço que pretende realizar por dia até 150 testes RT-qPCR, também chamado de RT-PCR em tempo real. Esse é o tipo de diagnóstico considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como padrão ouro, isto é, um teste de referência para o diagnóstico da doença.  

Inaugurado nesta segunda-feira (5), o espaço foi montado no Centro de Ciências da Saúde (CCS), que fica em Santo Antônio de Jesus, a quase 200 quilômetros de distância de Salvador. Trata-se do primeiro local de toda a região do Recôncavo autorizado pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) a realizar testes do tipo PCR. O diagnóstico é feito com análise de amostras coletadas com um swab (um cotonete longo e estéril) na região nasal e faríngea (a região da garganta logo atrás do nariz e da boca).  

O público atendido será da própria universidade e de cidades da região. Atualmente, a UFRB está presente em Amargosa, Cachoeira, Cruz das Almas, Feira de Santana, São Félix e Santo Amaro, além da própria Santo Antônio de Jesus. O professor doutor em Doenças Infecciosas, Fernando Vicentini, que é o coordenador do laboratório, explicou que ainda não foi definida a logística de envio das amostras das cidades para o local e que isso está sendo negociado.  “Há uma imposição por parte do Laboratório Central (Lacen) para que, uma vez que tenhamos um contrato com uma unidade de coleta, que nós atendamos 100% das amostras geradas. Isso pode ser um problema, pois nos municípios que só tem uma unidade de coleta, nós teríamos que assumir todas as amostras da cidade. E nós não trabalharemos sábados, domingos e feriados e os municípios precisam desse retorno. Então, estamos negociando com as prefeituras para que eles abram uma segunda unidade de coleta que seja específica para uma relação com o nosso espaço”, explicou.  O objetivo, portanto, não é assumir toda a testagem da região, mas contribuir na aceleração do processo de diagnóstico da covid-19 através de um método mais seguro e confiável que é o RT-qPCR em tempo real. “O Lacen continua dando suporte a todos os municípios indistintamente. Porém, nós acreditamos que, por sermos um laboratório pequeno, nós iremos atender a uma demanda mais qualificada”.   

Segundo a Sesab, além do Lacen, a Bahia tem 20 laboratórios públicos e privados autorizados a realizar testes RT-PCR e RT-qPCR. Embora possam, nem todos oferecem a segunda opção. “É uma questão de nomenclatura. O ‘q’ usado na sigla é de quantitativo. O que nos mostra na sigla que é um PCR em tempo real é o ‘q’. Todos os laboratórios que fazem padrão ouro fazem na verdade o RT-qPCR, mesmo que omitam o ‘q’ na maioria das vezes”, disse Vicentini. 

Vigilância Além de testes, no laboratório da UFRB será possível fazer estudos de vigilância genômica e epidemiologia molecular concomitantemente. “À medida que nós fomos detectando casos positivos, vamos executar algumas técnicas para detecção das variantes já conhecidas e outras técnicas para acompanhamento do surgimento de outras variantes na região”, explicou o coordenador.  

Para a construção do local, houve um investimento direto de R$ 1,5 milhão. Há também recursos de projetos de pesquisas sendo aplicados no espaço, o que dá a expectativa de que, no final do ano, o dinheiro investido seja bem maior. “A montagem desse espaço foi em grande parte financiada pelo recurso captado no Ministério da Educação (MEC). Apresentamos um Plano de Ações para Combate ao covid e conseguimos captar R$ 1,8 milhão, o que possibilitou fortalecer ações e desenvolver outras necessidades, como essa”, contou o reitor da UFRB, Fábio Josué Souza dos Santos.  

No laboratório irão atuar mais de 20 pessoas, entre técnicos da universidade, professores e alunos da pós-graduação. “São pessoas que foram treinadas e já estão vacinadas”, disse o pesquisador Hermes Pedreira, vice coordenador do espaço. “Nós não atenderemos ao público externo e sim as amostras encaminhadas pelos serviços e secretarias de Saúde. O material será enviado em condições de segurança e térmica num prazo de até 48h. Vamos fazer um processamento que atenda todos os protocolos de biossegurança”, garantiu. A expectativa do grupo é que os resultados dos testes sejam entregues em até 72h.  

Ter um laboratório do tipo dentro de uma universidade pode contribuir no monitoramento dos casos de covid-19 num eventual retorno das aulas presenciais. “O laboratório não vai permitir o retorno, pois o que depende da volta às aulas são questões epidemiológicas. Mas uma vez que a universidade decida pelo retorno, não tenho dúvidas que o laboratório será usado para monitoramento dos casos”, aposta o coordenador do espaço. Além da UFRB, as universidades Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, Federal do Oeste da Bahia (Ufob), em Barreiras, Federal da Bahia (Ufba) e Senai Cimatec, em Salvador, possuem laboratórios do tipo.   

Lacen quer aumentar capacidade de testagem

Operando na capacidade máxima de análise de 5 mil amostras por dia, o Lacen-BA também está se organizando para aumentar a capacidade de testagem com a aquisição de novos equipamentos. Já houve a instalação de três novos termocicladores, máquina utilizada para detectar a covid-19 na técnica de biologia molecular do tipo RT-PCR. Com isso, o local já dobrou a velocidade de análise. Atualmente, a unidade realizou mais de 950 mil exames desde o início da pandemia e deve chegar a 1 milhão nos próximos 15 dias. 

De acordo com o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, “foram investidos mais de R$ 20 milhões nos últimos anos no Lacen e a unidade agora é referência nacional em testes do tipo RT-PCR e sequenciamento genético de amostras da Bahia e de outros cinco estados (Sergipe, Alagoas, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte)”, afirmou. 

A diretora geral do Lacen, Arabela Leal, explica que outros equipamentos chegarão em breve para qualificar o trabalho. “Estamos em processo de aquisição de mais três extratores e dois pipetadores robotizados que vão ampliar ainda mais a nossa capacidade de realizar RT-PCR, bem como outro equipamento de sequenciamento genético”, ressaltou. 

O sequenciamento genético de amostras da covid-19 pelo Lacen é fundamental para conhecer as rotas de transmissão do vírus, a diversidade e pode auxiliar o desenvolvimento de vacinas e medicamentos para o tratamento da doença. 

Ainda de acordo com Arabela Leal, desde o início da operação, em fevereiro deste ano, a Bahia já sequenciou 176 amostras. “As variantes de maior atenção estão relacionadas as cepas do Reino Unido (B.1.1.7) e de Manaus (P1), que são consideradas mais contagiosas. Juntas, elas foram detectadas nos municípios de Amargosa, Anguera, Brumado, Cipó, Cruz das Almas, Feira de Santana, Guanambi, Ilhéus, Itabuna, Itapetinga, Irecê, João Dourado, Lauro de Freitas, Luís Eduardo Magalhães, Mutuípe, Salvador, Santa Luz, São Sebastião do Passé e Serra Preta”, destaca.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.