ACM: a expressão da baianidade na política

Leo Prates é vereador e presidente da Câmara Municipal de Salvador

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  • Leo Prates

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 10:57

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No último dia 4, a Bahia celebrou os 90 anos de nascimento de uma grande personalidade de nossa história. Antonio Carlos Magalhães nos legou o exemplo do amor incondicional por sua terra. E, com a força desse amor, ele foi capaz de realizar grandes transformações na vida de seu povo.

O amor pela Bahia alimentou a sua paixão pela política, porque sabia ele que nela, na política, estavam os meios de transformar a realidade de sua terra. E como a Bahia mudou depois de ACM. Ninguém menos do que Jorge Amado, outro ardoroso filho e amante da Bahia, atestou isso.

No livro Bahia de Todos os Santos, conta Amado sobre dois bilhetes que escrevera para ACM:

“... Eu o sabia político audacioso e hábil, parlamentar atuante e polêmico, mas não lhe conhecia qualidades de administrador. Assim, quando o designaram prefeito da cidade, acolhi a notícia sem entusiasmo. Na ocasião viajei para demorada estadia na Europa. Ao voltar assombrou-me a transformação de Salvador: a execução de um plano urbanístico audacioso, rasgando avenidas, criando bairros, dando nova dimensão à cidade. É o inédito respeito à riqueza arquitetônica, histórica e artística que vinha sendo liquidada no correr do tempo. O político revelara-se administrador invulgar. Escrevi-lhe, então, um bilhete de felicitações: ‘Sou  seu adversário político, mas não sou cego’. Há uma cidade de Salvador de antes da administração de Antonio Carlos, outra de depois”.

Jorge Amado, no segundo bilhete, faz elogios ao primeiro mandato de governador de ACM, destacando a construção do novo Centro Administrativo e a valorização dos artistas baianos:

“O administrador que dotou a Bahia de esgotos estendeu os limites da cidade e a modernizou, soube respeitar e preservar o patrimônio herdado dos antepassados e o ampliou somando-lhe a criação dos artistas contemporâneos. Não contente, fez de Dorival Caymmi comendador do povo. Eis por que escrevi dois bilhetes de felicitações a Antonio Carlos Magalhães, apesar de ser seu adversário político, mas sendo seu velho companheiro no amor à cidade de Salvador da Bahia de Todos os Santos”.

O registro de Jorge Amado trata da carreira de ACM até o seu primeiro mandato de governador. Depois ele ainda foi ministro, outras duas vezes governador e senador. E nos legou: polo petroquímico, reforma do Pelourinho, Linha Verde, Ford e muitas outras realizações, marcadas pelo sentimento da baianidade.

Baianidade essa que se traduz na própria figura de ACM. Afinal o sentimento de amor à terra em que se nasce é natural, mas a baianidade extrapola essa condição. A identidade que dela brota não se restringe apenas aos baianos nativos.

Tantos de outras partes do Brasil e do mundo também compartilham desse sentimento provinciano e universal. O argentino Caribé e o francês Pierre Verger chegaram aqui, encantados pelos contos e cantos de Jorge Amado e Dorival Caymmi, e viraram baianos.

Amado e Caymmi traduziram a baianidade na literatura e na música, Antonio Carlos Magalhães foi a expressão dela na política. Para mim, o exemplo de ACM significa que participar da política é lutar pela Bahia e defender os valores universais do humanismo tão presentes na vida cordial e simples do povo baiano.

E quando o nosso país vive a pior crise de sua história, na qual a covardia é aclamada como prudência e a falsidade é tratada por esperteza, mais do que nunca precisamos nos inspirar na bravura, destemor e paixão do Cabeça Branca pela política para encarar as novas e verdadeiras transformações tão necessárias e inadiáveis ao Brasil e à Bahia.