Nós seguimos com uma mansidão bovina de causar inveja a monges budistas

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  • Da Redação

Publicado em 19 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O ano nem bem começou e nós brasileiros nos vimos, de novo, diante de uma das maiores e mais tristes tragédias ambientais já ocorridas em escala mundial. O rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, resultou em centenas de mortos e desaparecidos, até hoje, incontáveis. Registre-se, em tempo, que esse acidente plenamente evitável contou com a ampla cumplicidade do Poder Público.

Anos antes, em 2015, a tragédia de Mariana, de semelhantes e letais proporções e provocada pela mesma empresa, serviu para ratificar o descaso dos órgãos de controle e fiscalização com esses empreendimentos ultrapassados e noviços à sociedade.  O Brasil não é um país sério, pois, se sério fosse, o presidente dessa bilionária empresa estaria hoje preso e sequer compareceria à Câmara dos Deputados para propalar, cinicamente, que a mineradora é uma “joia” e não deveria ser condenada.

Mas não nos referimos apenas às barragens que rotineiramente desabam em solo brasileiro e provocam comoção popular. O que dizer do incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que transformou em pó um dos marcos de preservação da nossa identidade histórica e nacional? De doer! Como doloroso foi assistir ao recente incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinamento do mais popular clube de futebol brasileiro. Uma verdadeira arapuca montada para assassinar jovens talentos do desporto brasileiro e fulminar dezenas de famílias com a carbonização de seus filhos amados.

As balas perdidas no Rio de Janeiro e país afora já não são novidades. Não só não surpreendem como nos forçam a aceitar uma realidade bélica cotidiana sem precedentes, cujos números superam conflitos militares. Vivemos uma guerra civil com o amplo fortalecimento do crime organizado e de milícias, essas últimas, esquadrões da morte que possuem, a olhos nus, representantes nas diversas esferas de governo. O crime organizado cresce mais do que a China Vermelha! E cresce à revelia de um governo que prometeu, sob a batuta de um mandatário “pra lá” de polêmico, restabelecer a segurança do povo.

A complacência dos Poderes Executivo e Judiciário contribui para esse cenário de horror na segurança pública, notadamente quando reforçam, permissivamente, o fenômeno da impunidade. A impunidade brasileira é imbatível, de modo que causa ojeriza a soltura de presos condenados e a vergonhosa adoção de pesos e medidas distintas para figuras do pântano político, enlameadas até o colarinho.

Nos acostumamos, também, com um apartheid social diário e constantes embates de gênero, raça e cor. O aumento absurdo do feminicídio, crime praticado contra a vida da mulher, é algo jamais visto (ou noticiado) como agora. O caso da vereadora Marielle Franco representa uma vergonha nacional.  A propósito, “cadê o Amarildo”, combativamente cantado por Caetano Veloso? O pedreiro desapareceu após ser levado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, em junho de 2013.

As sucessivas crises econômicas e o avanço epidêmico da corrupção revelam a manifesta ineficiência do Estado para criar e estabelecer políticas públicas de promoção social. Vemos uma educação pública sofrível e um sistema de saúde calamitoso, onde crianças e idosos agonizam nos corredores dos hospitais.

E nós, brasileiros? Bem, nós seguimos com uma mansidão bovina de causar inveja a monges budistas, acreditando que Deus é brasileiro e quem ajuda é Senhor do Bonfim.

Hermano Adolfo Gottschall Souto Neto é advogado e empresário.

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