Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Perla Ribeiro
Agência Brasil
Publicado em 9 de agosto de 2025 às 19:03
O corpo do cantor e compositor Arlindo Cruz, 66 anos, está sendo velado na quadra da escola de samba Império Serrano, sua escola de coração. O corpo do sambista foi colocado no centro da quadra. A família pede que as pessoas que forem ao velório usem roupas claras, principalmente de cor branca. O velório será um gurufim, ritual de origem africana, trazido ao Brasil por povos escravizados, e que se manifesta em velórios festivos, marcados pela música, dança, comida e bebida. O objetivo é celebrar a vida de quem partiu e amenizar a dor da perda, transformando o luto em homenagem e alegria. A bateria da escola também se apresentará durante o velório.>
A palavra gurufim tem origem no idioma quimbundo, falado em Angola, e significa adeus ou despedida. Nas culturas de matrizes afro-brasileiros, especialmente no candomblé e na umbanda, o gurufim assume um significado mais profundo de ritual, envolvendo o encaminhamento da alma.>
Nos lares brasileiros, principalmente no Rio de Janeiro, os velórios antigos eram velados em casa, no centro da sala. O corpo só ia para o cemitério na hora do enterro. Então, essa cerimônia aproximava todos os moradores da rua e do entorno das comunidades. As pessoas ficavam conversando, tomando café, comendo e bebendo. Durante toda a noite e madrugada, se revezando no velório. >
O velório é aberto ao público e se estenderá até as 10h, da manhã deste domingo (10). Logo no início da tarde, as primeiras coroas de flores a chegar, foram da Beija-Flor de Nilópolis e da presidência da República, com os dizeres: “Homenagem ao talento, poesia e generosidade do sambista perfeito. Solidariedade à família, amigos e fãs. Presidente Lula e Janja”.>
O enterro está programado para este domingo (10) às 11h, no cemitério Jardim da Saudade, na Sulacap, zona oeste da cidade. Antes de deixar a quadra, haverá uma cerimônia restrita, apenas para familiares e amigos. O artista morreu nesta sexta-feira (8), em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Desde 2017, ele enfrentava sequelas de um acidente vascular cerebral (AVC).>
Legado>
Arlindo Cruz deixou um legado de mais de 700 músicas. Uma parte importante da história de Arlindo passa pelo tradicional bloco carnavalesco Cacique de Ramos, onde frequentou rodas de samba e tocou ao lado de outro grandes nomes do gênero. Nas redes sociais, o Cacique de Ramos emitiu uma nota em que diz ter registrado, “com profundo respeito”, a partida de Arlindo Cruz: “Sua trajetória permanece inscrita na história do samba e na memória da nossa instituição, como autor e intérprete que, com talento singular, integrou capítulos essenciais da nossa caminhada.”>
A escola de samba carioca Império Serrano também teve papel de destaque na carreira de Arlindo. Ele compôs 12 sambas-enredo para os desfiles na avenida. E foi homenageado pela agremiação com um enredo em 2023 (foto). “O Império Serrano lamenta, com imenso pesar e profunda dor, o falecimento de Arlindo Cruz, aos 66 anos, um dos maiores nomes da história do samba e filho ilustre da nossa coroa imperial”, disse a nota da escola.>