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Carol Neves
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 12:25
O governo federal publicou um decreto que redefine as normas do vale-refeição e vale-alimentação, impondo um limite de 3,6% nas taxas cobradas de restaurantes, padarias e supermercados pelas empresas emissoras dos cartões de benefícios. A medida, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira (11), integra a atualização do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e pretende reduzir custos e estimular a concorrência no setor. >
De acordo com o Ministério do Trabalho, a iniciativa não altera diretamente as regras para trabalhadores ou empregadores, mas deve aliviar as despesas de comerciantes que recebem pagamentos via vale. “A grande reclamação de restaurantes, padarias e supermercados é que as taxas praticadas estavam abusivas”, afirmou o ministro Luiz Marinho, acrescentando que a mudança “deverá levar à redução de preços na ponta”.>
Atualmente, segundo pesquisa Ipsos-Ipec, a taxa média cobrada é de 5,19%, superior à dos cartões de crédito (3,22%) e débito (2%).>
Novas regras para o setor>
O decreto estabelece que as empresas de benefícios terão até 15 dias para repassar o valor das vendas aos estabelecimentos - hoje, o prazo varia conforme a operadora, chegando a cerca de 30 dias. Também foi fixado um teto de 2% para a tarifa de intercâmbio, cobrada pelas bandeiras, sem permissão para cobranças adicionais.>
As operadoras terão 90 dias para se adequar às novas normas. Em até 360 dias, todos os cartões de vale-refeição e alimentação deverão funcionar em qualquer maquininha, independentemente da bandeira — o que o governo chama de interoperabilidade plena.>
Objetivo é conter custos e ampliar competição>
O decreto surge em meio à preocupação com o aumento dos preços dos alimentos, que levou Lula a discutir com o setor supermercadista alternativas para conter a inflação. Durante essas conversas, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, apontou “abusos” no mercado de cartões e defendeu a limitação das taxas, afirmando que a redução será repassada ao consumidor final, segundo reportagem de O Globo.>
O setor movimenta mais de R$ 150 bilhões por ano, dominado por quatro grandes operadoras - Alelo, VR, Ticket e Pluxee - que concentram cerca de 80% do mercado.>
Segundo o ministro Marinho, o novo limite e a maior competição devem beneficiar tanto os estabelecimentos quanto os consumidores, mesmo que ainda não haja estimativa oficial do impacto nos preços.>
Mudanças de modelo e disputa entre empresas>
Atualmente, as principais companhias do setor operam sob um “arranjo fechado”, em que controlam toda a cadeia, do contrato com o empregador até o credenciamento dos estabelecimentos. Já as novas entrantes, como iFood, Caju e Flash, atuam em modelo aberto, com bandeiras como Visa e Mastercard.>
Com o decreto, o arranjo aberto passa a ser a regra para grandes operadoras, abrindo espaço para maior competição e interoperabilidade.>
O governo chegou a considerar um prazo de apenas dois dias úteis para liquidação dos pagamentos, mas recuou diante da resistência das empresas e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que alegaram inviabilidade operacional para o setor público.>
A cerimônia de assinatura ocorreu no Palácio da Alvorada, em formato reservado, com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e do ministro Luiz Marinho (Trabalho).>
Portabilidade ficou fora do texto>
Uma das mudanças mais esperadas, a portabilidade do vale-refeição e alimentação, que permitiria ao trabalhador escolher a operadora, ficou de fora do decreto.>
A Zetta, associação que representa empresas de tecnologia financeira, lamentou a ausência e afirmou que a medida é “crucial para a efetiva redução de custos para empresas” e para a “livre escolha dos trabalhadores na gestão de seus próprios benefícios”.>
Reações do setor>
A plataforma iFood, que também atua no mercado de benefícios, elogiou a decisão. Em nota, afirmou que o decreto “devolve ao PAT o seu propósito de garantir uma alimentação barata e de qualidade para o trabalhador brasileiro” e que a modernização cria “um mercado de benefícios justo e aberto, com reflexos positivos para toda a economia”.>
A empresa também destacou que a redução das taxas trará ganhos para milhares de restaurantes e mercados, e que a interoperabilidade entre bandeiras ampliará o alcance dos cartões.>
A Zetta reforçou o apoio à abertura do mercado, afirmando que “assegurar uma competição justa e aberta entre as empresas é um importante passo para a modernização e a descentralização do mercado de benefícios”.>
Segundo a entidade, a mudança permitirá que os vales sejam aceitos em mais de 3 milhões de estabelecimentos, gerando uma economia estimada em R$ 5,36 bilhões por ano.>