'Não há quem cale essa voz fortíssima do pagode', diz Ivete Sangalo

Cantora aposta em um pagode para hit do Carnaval e fala sobre influências do gênero no axé music que a consagrou

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  • Fernanda Santana

Publicado em 4 de fevereiro de 2024 às 07:00

Ivete Sangalo no Festival de Verão
Ivete Sangalo no Festival de Verão Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Em três décadas de carreira, Ivete Sangalo, 51 anos, virou um dos símbolos da música baiana. "Me considero polivalente", diz. Para o Carnaval deste ano, ela decidiu investir no pagode – "Macetando", em parceria com Ludmilla –, gênero cada vez mais forte durante a folia. "Flertar com isso é um direito. Não há quem cale essa voz fortíssima do pagode", afirma a cantora.

A uma semana do início da folia, Ivete falou à reportagem sobre as demandas do mercado musical, como o pagodão baiano influencia seu trabalho, e compartilhou qual é, na sua opinião, a grande música recente de axé - spoiler: a canção é de janeiro de 2020.

Você tem conseguido, em três décadas de carreira, renovar a própria trajetória - com incorporação de sonoridades que vão surgindo - como o público. Li, recentemente, você falando "que é uma cantora do povo e toca o que o povo quer ouvir". O que o povo tem pedido para ouvir?

Eu não só sou uma cantora do povo, eu faço parte do povo. Os sons que inebriam a massa, inebriam a mim também. Eu sou parte dessa massa. E tem um prazer muito grande quando você vê a massa correspondendo ao que você faz. Eu sou uma cantora que me considero muito polivalente no meu trabalho. Eu tenho a oportunidade de cantar tudo aquilo que eu gosto.

Desde as coisas mais carnavalescas e populares até coisas mais intimistas, ou mais românticas, enfim, que contam outras histórias que não a do Carnaval. Se eu tenho, dentro da minha vida como artista, esse potencial e essa possibilidade, eu vou, sem dúvida nenhuma, explorar tudo o que puder para viver essas emoções.

Porque não tem nada melhor do que você cantar para a massa e a massa retribuir. Isso aí é um presente de Deus. Então seria louca se eu não usufruísse dessa oportunidade.

É notável, nesse sentido, a sua aproximação com o universo do pagode. Compositores a empresários têm afirmado que o pagode tende a ser cada vez mais forte no universo do axé e da música baiana. Para você, essa influência tende mesmo a ser mais frequente com o tempo? E por quê? 

Veja bem, eu não queria ser tão míope falando do pagode, do samba baiano, dos pagodões que a gente fala. Porque o pagode sempre foi uma grande referência dentro da Bahia, da música da Bahia. Sempre foi muito forte. Gera Samba, Terra Samba, É o Tchan, e tantos outros grupos de pagode. E o samba dentro da Bahia, a Harmonia do Samba, enfim, Riachão, Batatinha e Panela. Isso é uma influência muito forte que a gente tem na música da Bahia.

Então, assim, não é uma coisa de agora, é uma coisa de sempre. Isso faz parte, culturalmente, de um comportamento musical da Bahia. É bem verdade que o tempo vai passando e as coisas vão se estabelecendo a partir de novas ideias dentro desse segmento. Sempre foi uma potência. Eu, graças a Deus, sempre fui entusiasta disso.

A minha primeira cantoria em casa foi com samba. Meu pai era um apaixonado por samba. Samba de todas as ordens, samba carioca, samba paulista, samba baiano, samba do Recôncavo, samba de roda, samba duro. Então, sempre gostei muito. E flertar com isso é um direito.

Eu sou baiana, é um direito que eu tenho. E eu acho sensacional poder flertar com isso e vivenciar as experiências que tenho vivido. E isso é prazeroso. E é importante, gente, é importante.

Não há quem cale essa voz fortíssima do samba do pagode. Não há. E essa força existe na Bahia, existe nas periferias, nos guetos, nas grandes festas, na rádio, no radinho, nos lugares mais longínquos. Todo mundo gosta de um bom pagode.

Recentemente, nas redes sociais, surgiram comentários sobre como você é uma das compositoras da grande música recente de axé - O Mundo Vai. Você concorda que O Mundo Vai é a grande música recente do axé?

Concordo demais. Eu sou louca por essa música. Hoje mesmo eu estava, por acaso, zapeando no celular e vi o clipe. Essa música é um retrato de um comportamento da emoção do Carnaval. Acho essa música genial.

Ela foi feita com um grupo de amigos, nos sentamos na minha casa, eu, Samir, Ramon, Tierry, Radamés, Gigi, nos sentamos, e eu falei, eu quero fazer uma música de Carnaval que tenha uma relação com as fanfarras, tenha uma relação com os galopes e tenha uma relação direta com esses riffs de Timbalada, que é uma grande influência minha.

Então, fizemos e não foi à toa que foi um grande sucesso. Essa música faz jus a isso, a essa interpretação do povo. É uma música linda, é uma fanfarra de Carnaval que não tem como ficar parada e não tem como traduzir o Carnaval sem falar de O Mundo Vai.

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