Os primeiros a chegar e os últimos a sair; como os cordeiros se divertem no Carnaval

Muitos arranjam um jeito de aproveitar a folia

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  • Yasmin Oliveira

  • Gilberto Barbosa

Publicado em 14 de fevereiro de 2024 às 06:45

A diversão por dentro das cordas esconde o cansaço das longas jornadas de trabalho dos cordeiros
A diversão por dentro das cordas esconde o cansaço das longas jornadas de trabalho dos cordeiros Crédito: Yasmin Oliveira/CORREIO

Os cordeiros são os primeiros a chegar na concentração dos trios elétricos e os últimos a deixar o trio. Uma das maneiras de aguentar a jornada de trabalho - que pode chegar a 12 horas - é descontrair durante o percurso.

“Carnaval para mim é uma maravilha porque a gente brinca. Eu gosto de trabalhar, mas a gente ganha muito pouco. São mais de dez anos sendo cordeira e além do pagamento, só recebemos uma merenda, é algo puxado”, contou a cordeira Nailde de Duarte, 60.

Somada a experiência de Pedro de Moura, 60, e Márcia Silva, 54, são mais de vinte anos puxando cordas no Carnaval de Salvador e os dois não conseguem lembrar a quantidade de trios elétricos que já puxaram, neste domingo (12) estavam com a farda do bloco Me Abraça de Durval Lelys. “De barriga cheia dá para ir o dia todo e descontrair dançando e brincando com as músicas”, disse Pedro.

Durante o bloco de Ivete Sangalo, a animação dos cordeiros era maior. A corda se tornava sinônimo de diversão com todos os cordeiros dançando e aproveitando a seleção musical da Mainha. Outro artista que fez os profissionais descontraírem da jornada de trabalho foi Xanddy Harmonia, onde o swing do artista não deixava ninguém parado.

No Bloco da Anitta, houve momentos para tirar fotos com os famosos que desciam para aproveitar a noite dentro da corda, enquanto outros cordeiros se divertiam ao som das músicas da cantora carioca.

Há três anos puxando corda junto as amigas, Alessandra Alves, começou a jornada na sexta-feira e já perdeu a conta de quantos trios puxou ao longo dos últimos anos. “A gente se distrai dançando porque não pode deixar o cansaço tomar conta no circuito. No final conseguimos nosso dinheiro e vamos embora, mas já tiveram vezes que foliões deram refrigerante ou água e isso ajudou a aguentar as horas em pé. Esse ano não está acontecendo como antes, precisa ser alguém mais mão aberta”, explicou a cordeira.

Cordeiro se diverte durante o Carnaval
Cordeiro se diverte durante o Carnaval Crédito: Marina Silva/CORREIO

Antes da saída do bloco Camaleão, os cordeiros aproveitavam para descontrair ao som dos trios de Hiago Danadinho e Felipe Escandurras. “É um trabalho de intensidade braçal muito grande, mas dá para se divertir e ganhar um dinheirinho me dedicando o máximo possível”, conta o cordeiro Edson Conceição, 53.

Ele conta que os foliões contribuem com o trabalho dos cordeiros. “O folião do Camaleão é o melhor que tem. Eles sempre ajudam com uma cerveja, um refrigerante ou um lanche. Isso nos ajuda bastante durante o serviço”, completou.

Jailson Pereira, 41, estava com um grupo de cinco cordeiros se preparando para a jornada. Eles ficam no setor de abre alas, liberando o caminho para a passagem dos trios. “A gente tá trabalhando, ganhando o nosso pão de cada dia, participando da folia e fazendo a segurança do povo. A galera tá chegando junto com a gente, sempre dando água, mantendo a gente hidratado. Bell é a nossa vida, se não fosse ele, eu acho que não teria carnaval”, afirmou.

Leandro Oliveira, 37, estava com os óculos característicos do bloco. Ele conta que o serviço demanda bastante atenção. “Infelizmente tem muitas brigas. É um bloco que é grande e muito falado. Tem aqueles que gostam de briga e ignorância, mas tem que tratar todo mundo bem. São vários tipos de pessoas, sentimentos e alegrias diferentes”, afirmou.

Com os atrasos nos trios elétricos, a jornada de trabalho dos cordeiros é aumentada. De acordo com o representante do Sindicato dos Cordeiros (Sindicordas), Mateus Santos, o circuito da Barra é onde mais acontece esse tipo de situação. “Muitas vezes não tem diversão e, sim, muito trabalho. Muitos aguardam a saída do trio no chão da calçada para descansar”, disse Mateus.

O atraso desanima, mas a maioria não desiste. “É cansativo, porque o percurso é longo, mas vale a pena no final. Quando atrasa, o pé começa a doer. Mas não tem o que fazer, tá na chuva é pra se molhar”, Reginalva Santos, 40, que há 7 anos trabalha no Camaleão.

“O bloco vai sair de qualquer jeito. Se disser que não vai é outra coisa. Mas se vai sair até 22h, eu vou atrás”, disse Leandro.

Em janeiro, os cordeiros e os blocos do Carnaval de Salvador fecharam um acordo com o valor da diária para a categoria durante a folia em 2024. Ficou acordado que a diária dos trabalhadores aumentaria para R$ 80, reajuste de quase 34% em relação a 2023, quando os trabalhadores receberam diária de R$ 60, incluindo o transporte. Cerca de 15 mil pessoas trabalham como cordeiros no Carnaval soteropolitano.

Leandro com os óculos do Camaleão
Leandro com os óculos do Camaleão Crédito: Marina Silva/CORREIO

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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