Beba, sim. Mas aprenda a cuidar bem de você

Flavia Azevedo é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 23 de junho de 2018 às 13:14

- Atualizado há um ano

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(É São João e eu tô doida pra ir ali tomar meu licor, mas antes bora ter uma conversinha.)

Vamos assumir as nossas responsabilidades? Sim, mulheres ficam mais vulneráveis quando alcolizadas porque saímos do estado de alerta (infelizmente) necessário para a nossa sobrevivência. É quando estamos bêbadas que homens nos tratam exatamente como gostariam de nos tratar todos os dias, uma forma toda escrota que nos desrespeita, ridiculariza e agride. E por mais que isso seja injusto (e é!), a sua indignação não lhe protege nem vai proteger durante um pileque.

(Quem fala aqui é uma sacerdotisa nascida e criada no império de Baco. Creia em minhas palavras, irmã. Trata-se de sabedoria ancestral acumulada com acertos e erros fenomenais.)

O que lhe protege é, se você gosta de beber, antes do primeiro gole, avaliar se a situação favorece soltar o freio. Ou se é caso de apenas um ou dois drinques.  Porque, sim: a depender da qualidade e quantidade, o álcool entra e as armas caem. Inclusive aquelas que afastam abusadores e transeuntes que se sentem no direito de passar a mão. Depois de umas doses, a gente fica nenê. E tem que ver direitinho quando e onde a gente pode ficar assim.

(Se você não consegue decidir, talvez seja o caso de procurar ajuda profissional.)

"Mas os homens tem que respeitar". Sim, mas não respeitam. E não estão respeitando nem quando a gente tá de cara segurando sacola de supermercado que dirá quando a gente tá chamando cachorro cacho. Sendo que isso não vai mudar antes da sua próxima festa e, portanto, a responsabilidade de não se expor cabe exclusivamente a você. Vitória na guerra, companheira! E bem vinda ao inferno que existe, independente do mundo em que sonhamos viver.

O que nos acontece depois do goró é problema nosso, sim. Sabemos como eles agem e muita coisa pode ser evitada. Inclusive aquele sexo mal feito em que a gente se sente usada. Inclusive as merdas de quando entramos ébrias em taxis sem sequer saber explicar o endereço ou andamos nas ruas sem conseguir distinguir amigos de passantes anônimos. O mundo não é feito só de gente boa e se você ainda não entendeu, beba em casa (ou não beba), até conseguir compreender.

Tome um caso recente e real: fim de noite, Carnaval de Salvador, ponto de mototaxis ali perto do Vitória Center. Ao me ver suada e com o copo na mão, o mototaxista com quem eu iria (cadastrado e legalizado) dá uma risadinha e diz todo cheio de ousadia: "deu perda total?". Só que eu tinha bebido a minha "cota certa para festas de rua" e o ponto inteiro pôde escutar um longo discurso que começou com "me respeite, moleque", terminando com ele envergonhado e dispensado. Fui com um outro, na maior moral. Obviamente que, se eu estivesse fora de mim, a situação teria um desfecho não tão legal.

(Algum outro homem ali resoveu me defender? Não. Era só eu por mim.)

Já deu tudo errado em outras ocasiões, claro. Nada traumático, felizmente. Mas chato, sim, diversas vezes. E em nenhuma delas adiantou o meu texto "ele não me respeitou" ou "ele se aproveitou porque eu tava bêbada" ou "você só fez isso porque eu bebi demais, seu babaca". Mas a gente aprende e as chances de dar merda diminuem drasticamente.

Liberdade não devia ter limite, mas tem. E nem a mulher mais libertária (presente!) está livre de ser "aquela bêbada" que vai ser desrespeitada e sofrer com isso depois. Sem moralismos, na boa. Todo mundo tem o direito de exacerbar. Mas um dia a gente aprende: até a maior discípula de Baco tem que saber onde, quando e com quem pode, de fato, relaxar.

(Resumindo: beba, sim. E muito, se achar que deve, em algumas situações. Ninguém tem nada a ver com isso. Mas aprenda, urgentemente, a cuidar bem de você.)

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