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Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2023 às 08:30
- Atualizado há 2 anos
Vou dizer logo: a ÚNICA vantagem que eu vejo no machismo é que, para as que gostam, não falta sexo heterossexual. Tem de ruma. Basta a gente querer que tem, mesmo que, boa parte das vezes, de baixa qualidade. Em mulher dando condição, nem que seja só pra mostrar que é "macho", algum homem vai comparecer. As vezes, bastam duas encaradas, de cinco segundos, cada. O resto da aproximação eles fazem.>
Triste pra eles que, muitas vezes, vão "pro abate" sem qualquer tesão específico. Bom pra nós que, querendo "objetificar", temos muitas opções, pinto de tudo que é tipo e tamanho, em quantidade. Problema não é meu. Homem já tem muito privilégio, deixa essa desvantagem assim mesmo. Se eles não se incomodam, não sou eu que vou problematizar. O que é de gosto é regalo da vida.>
"Ah, mas pra relacionamento, tá faltando homem". Não está, nunca esteve nem nunca estará. Gostam de tirar onda, mas a coisa que eles mais procuram é relacionamento firme, fixo, oficial. É só dar "colinho", você sabe. E topar certo padrão, claro. Em qualquer idade, com qualquer tipo físico, com qualquer escolaridade ou nível social, a mulher que quiser se casar com um homem, vai conseguir se casar. >
Se está solteira é porque quer. Podia estar casada, desde que aceitasse "edificar o lar", ou seja: cuidar da casa, cuidar do homem, cuidar das crianças (inclusive nas visitas das que vieram do casamento anterior dele), marcar os exames médicos dele, cuidar do cardápio das festas em família e, muitas vezes, até fazer o prato. Dele ou da sogra, como já me propuseram, uma vez.>
Também tem que topar ser monogâmica, mas sem questionar a "monogamia" dele. "Se comportar" em público e não fazer aquelas coisas que "mulher minha não faz". Topar ser "mulher de". Dar apoio psicológico e logístico, ajudar na vida profissional, atender às demandas emocionais e sexuais, além de disfarçar a comuníssima inferioridade intelectual. Deles. Preste atenção nos casais. >
Na maioria das vezes, as mulheres são infinitamente mais inteligentes e cultas do que os homens com os quais acasalam. Porém, se fingem de bobas para eles sobressaírem. Muitas, em superioridade financeira, até pagam as contas e ainda fingem que são eles os "provedores" para não melindrar "masculinidade". Conheço casos. Você também. Se não, pode observar que você vai perceber.>
Isso tudo e o fantasma da violência física contra a mulher que, também, é muitíssimo comum. Esta, muitas vezes, escondida sob "o sagrado véu do matrimônio" e fachada de casal perfeito. Com a psicológica, conforme sabemos, nem esse esforço de esconder se faz. Sim, é verdade que muitos casamentos podem até não ser esse "pacote completo", detalhes podem mudar. >
Seja com que customização for, o que eu nunca vi foi relação hetero que seja mais fácil e confortável para a mulher do que para o "companheiro". Nunca vi um relacionamento que, analisado friamente, fosse mais vantagem pra ela do que pra ele. No máximo, depois de muito trabalho dela, o casal chega perto de algo que pode ser considerado "de igual pra igual". Mas é raro e você sabe. É aí que a porca torce o rabo.>
Nilma me mandou o link de uma matéria do minabemestar.com.br que diz, basicamente, o óbvio: cada vez mais mulheres desistem de entrar nessa roubada. Ou, pelo menos, de contar com "relacionamento" como parte importante da vida. É um movimento crescente e interessantíssimo, vale a pena você ler. Há depoimentos com visões diversas, mas todos convergem para a opção pelo celibato. Triste? Não acho. Pelo contrário, acho o máximo.>
Pessoalmente, aos 48 anos, tenho mais memórias felizes de momentos em que estive solteira do que daqueles em que estive acasalada. Posso namorar/casar de novo? Posso. As vezes, a pessoa se apaixona e fica "rezada", achando que "agora, vai". Mas, racionalmente, toda mulher que pensar direito vai ver que, em nossa estrutura social, é muito mais vantagem seguir em carreira solo, ainda que com feats eventuais.>
Por que tantas mulheres estão escolhendo o celibato? Porque é mais rico, livre e confortável. Porque números - e telejornais - mostram, todos os dias, que é mais seguro. Também porque sem a demanda de um homem "do lado", temos mais disponibilidade para investir - tempo, dinheiro e energia - no que nos importa, de fato. Ficamos mais bonitas, mais vivas, mais leves. Avançamos mais na carreira. Podemos cuidar de nós, saca? Com afeto, com amor. >
(Sugiro que sem açúcar, claro.)>
Porque já cuidamos de tudo (inclusive de filhos) sozinhas, mesmo quando estamos casadas. Porque já sentimos solidão, mesmo com eles do lado. Porque sabemos cuidar das nossas casas e pagar as nossas contas. Porque temos amigos e amigas pra dividir sofás, mesas e viagens. Porque, se você procurar ler e pesquisar, vai ver que - pelo menos neste país e neste tempo - homem na vida de mulher, menos ajuda e mais atrapalha. >
Há exceções? Há. Principalmente, entre os mais jovens, especificamente aqueles criados por mães solo, já mais donas de si e libertárias. Aqueles que viram mães renascerem depois de separações traumáticas. Que cresceram vendo mulher de palavra forte, em casas felizes sem nenhum macho. Esses podem ter sido salvos. Aí, é possível alguma parceria. Mas, até pra reconhecermos essas raridades, é necessário que mais e mais mulheres descubram que "ter" um homem não é necessidade. Porque boas escolhas só se faz com calma.>
Nem pra sexo a gente precisa, portanto pare. Ou, se você é mulher e ainda acha que tem essa "necessidade", me diga: qual foi a última vez que um deles lhe deu (mesmo, por exclusiva competência dele) um estupendo orgasmo? Sendo sincera, você vai perceber que, também pra isso, podemos escolher ter ou não ter, na maior tranquilidade. A maioria deles nem conhece direito o que temos lá em baixo. Mas sempre tivemos nossas mãos e, agora, uma infinidade de brinquedos. Ambas as possibilidades com zero riscos e cem por cento de aproveitamento, ou seja: tecnicamente, muito mais seguras e eficazes>
*Flavia Azevedo é articulista do Correio, editora e mãe de Leo>