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Paulo Leandro
Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 05:08
- Atualizado há 3 anos
Ensina o professor Jeferson Bacelar como uma das táticas para ler o mundo, o conceito de “racismo de classe”, aquisição preciosa do invicto curso de Antropossociologia do Futebol no Ceao/Ufba.>
Não vale ódio étnico, pois a desigualdade alcança maioria preta, mas há brancos não-proprietários de meios de produção, acrescida a impossibilidade de se dizer “preto” ou “branco”, dada a mestiçagem.>
Noves fora estas arestas, o racismo vem sendo enfrentado, no futebol contemporâneo, pelo campeão Vinicius Júnior, em sorridente pretitude capaz de deter o nazifascismo em seu retorno mundial via futebol.>
Vinicius é uma expressão da resistência ao racismo de classe e seu “novo” perfil vomitativo, o neoliberalismo, um disfarce para hitlers e mussolinis, agora vestidos em roupinha de primeira comunhão.>
Confirma o craque-melanina uma hipótese incessantemente testada (como deve ser) pelos pesquisadores independentes do Grupo de Estudos de Futebol, Cultura e Sociedade (Gefucs).>
Em seus estudos inéditos, verifica a agremiação anarco-epistêmica a condução de aspectos da história de fatos confirmados do futebol baiano à luz do “racismo de classe”. Senão vejamos:>
A primeira organização teve clubes da elite branca, o Victoria, o Internacional de Cricket, o São Paulo-Bahia e o Bahiano de Remo.>
Esta juventude da burguesia do Corredor da Vitória, da comunidade de origem britânica, estudantes paulistas de medicina e adeptos da eugenia (“melhoria racial”) fundaram a liga-mãe em 1904, na Mouraria.>
Durou até 1912 o campeonato branco, cedendo à pressão de ex-escravizados, retirando-se ou extinguindo-se os clubes fundadores, insatisfeitos em misturar-se a pretos e pobres (racismo de classe).>
Surge, então, uma frente ampla, pois os burgueses brancos de boa vontade uniram-se aos excluídos, criando ambiente plural. Ou seja, não basta a epiderme, tem de contextualizar.>
É o tempo do Fluminense, antagônico ao tricolor do Rio, duas vezes campeão, todo formado por pretos de semblante sério, conforme revelam as poucas fotos deste admirável team.>
Quem tinha dinheiro para comprar bolas e uniformes uniu-se a quem sabia jogar: surge o Ypiranga, alcançando a hegemonia, ao aceitar dirigentes de elite, após duas falências consecutivas.>
Notem o quanto a suposta “realidade” é troncha a ponto de nos exigir paciência e capacidade de pensamento para navegar em seus “leandros” sinuosos, muito ao invés da “coerência” de concluir “isso” ou “aquilo” a partir de pressuposto fenotípico de aparência.>
Reúnem-se outra vez os eugenistas para atacar a feição multiétnica ao investirem na construção do Campo da Graça, em 1920.>
Pensavam recuperar a hegemonia, os adeptos do Victoria, Yankee, Athletica (Associação), campeã de 24, e Bahiano, campeão de 27, mas só que não, pois mantiveram-se hegemônicos o Ypiranga e o Botafogo do Corpo de Bombeiros.>
O domínio popular seguiu na Fonte Nova, em 1951, mas sofreu revés no modelo Arena, prevalecente em escala planetária, sugerindo a volta dos supremacistas e seu asqueroso “racismo de classe”.>
O futebol teria reaberto a porta do inferno ao oferecer o espetáculo apenas a quem pode pagar, banalizando o absurdo de uma torcida com direito a viver e todas as outras condenadas ao extermínio.>
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.>