MÚSICA

Em novo álbum, Céu troca digital por analógico

No disco 'Novela', cantora optou por gravar voz e instrumentos de uma vez só em estúdio. Para ela, o resutado é um som de mais 'peso'

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  • Roberto Midlej

Publicado em 6 de maio de 2024 às 06:00

Céu gravou o álbum em Los Angeles
Céu gravou o álbum em Los Angeles Crédito: Fernando Mendes/divulgação

Em seu novo álbum, Novela - já disponível nas plataformas de música -, Céu conta com a participação de um velho conhecido, Pupillo, como produtor do disco e integrante da banda que a acompanha no novo trabalho. Com ele, a cantora já tem uma sintonia bem antiga, afinal já trabalharam juntos em diversas ocasiões. Mas, a despeito das virtudes de Pupillo como produtor e músico, o responsável por dar uma arejada no som da intérprete neste novo trabalho é mesmo o americano Adrian Younge, realizador de projetos com artistas como Snoop Dogg e Kendrick Lamar.

Foi por insistência dele, que Céu decidiu pela primeira vez na carreira gravar ao vivo em estúdio. A gravação, portanto, aconteceu com os músicos e a cantora juntos, como se estivesse num show sem público. Isso vai na contramão do que se vê em quase todos os registros contemporâneos, em que se gravam separadamente a voz e os instrumentos.

Essa experiência, para ela, fez toda a diferença no resultado do som e, claro, no “calor humano” envolvido nas gravações. O trio-base da banda é formado por Adrian Younge (piano, guitarra, vibrafone, órgão e baixo), Lucas Martins (baixo, violão e guitarra) e Pupillo (bateria e percussão). “Gravar ao vivo faz muita diferença! Nós estamos caminhando para um mundo que se distancia demais disso e, na verdade, isso é o que a gente tem de especial e a gente pode fazer. Ainda mais em tempo de inteligência artificial: daqui a um tempo, vai ser muito complexo um ser humano se sobressair”, afirma Céu.

O produtor Adrian também evita usar computadores nas gravações, o que, para Céu, dá mais “peso” ao som do disco: “O analógico deixa o som mais encorpado, quente e robusto. Eu ouço o álbum no streaming e, em Novela, o som ‘pula’ em relação a outros discos. Não sabia que fazia tanta diferença. Ele me remete ao Vagarosa [segundo álbum dela, de 2009], no sentido de que o menos é muito”. Os dois álbuns anteriores de Céu, Tropix (2016) e Apká! (2019), ambos em formato eletrônico, eram produzidos por Pupillo junto com Hervé Salters e tinham um acabamento sintético.

Os fãs de Céu já tinham experimentado um pouco do novo álbum com o lançamento do single Gerando na Alta, composição da própria Céu, gravada por ela junto com Anaiis, cantora franco-senegalesa. As demais faixas apresentam elementos de soul, canção, rap e bolero, numa mistura feita com muita qualidade, como de praxe na obra da cantora.

Entre as participações especiais, tem ainda LadyBug Mecca, MC e compositora norte-americana que é filha de pais brasileiros e integra o trio de rap Digable Planets.

A única faixa que não tem assinatura de Céu é Corpo e Colo, assinada por Nando Reis e Kleber Lucas, cantor, compositor e pastor associado à música evangélica. O veterano Marcos Valle participa de Reescreve. Valle é coautor de Um Novo Tempo, canção que marca todo final de ano na Rede Globo (Hoje é um novo dia / de um novo tempo / que começou..) e também compositor da clássica Samba de Verão.

Filha Coruja

Filha do compositor e letrista Edgar Poças, Céu, quando incitada a falar do pai, revela nas entrelinhas ter muito orgulho dele. Poças foi o responsável por criar as versões em português de quase todos os sucessos da Turma do Balão Mágico e já compôs também para bandas destinadas aos adolescentes, como Polegar e Dominó.

"A música é a linguagem de vida dele. Ele prefere mil vezes ficar em casa compondo, em vez de entrar num avião e viajar"

Céu
sobre o pai, Edgar Poças, compositor

“Tenho certeza que o mundo ainda vai descobri-lo e a importância dele vai crescer com o tempo. Tem uma obra muito importante para as crianças”, acrescenta.

Céu, no entanto, nunca gravou composições do pai em seus álbuns. “É que ele tem a linguagem do universo infantil. Mas quem sabe um dia gravo um disco pra crianças...”.