Exposição de baiano traduz luz e matéria em museu da Rússia

Fotógrafo Rodrigo Sombra apresenta mostra Artifício e Raiz em museu russo de Belas Artes

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  • Da Redação

Publicado em 5 de março de 2022 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Rodrigo Sombra/divulgação

Na Rússia, mas ainda longe do clima de guerra e do boicote artístico promovido a artistas russos, o fotógrafo baiano Rodrigo Sombra, 35, ganhou sua primeira exposição individual internacional, Artifício e Raiz, que estreou no fim do ano passado e está em cartaz novamente desde o dia 27. A mostra acontece no Museu de Belas Artes de Nizhny Tagil, cidade que fica a cerca de 1.800 quilômetros de Moscou.

Curador da exposição, o galerista Evgeny Komuhin descobriu na internet o trabalho do fotógrafo e entrou em contato com ele. “Nizhny Tagil é uma cidade industrial degradada, e lá surgiu uma comunidade de artistas. É bem interessante”, conta Sombra.

A princípio, a exposição entrou em cartaz na galeria Space Place, também em Nizhny Tagil, em 30 de dezembro. “O curador me disse que o pessoal do Museu de Belas Artes esteve lá e gostou muito”, explica. Enquanto a exposição era transferida da galeria para o museu, tropas da Rússia invadiram a Ucrânia.

“Os russos também são vítimas da guerra, e milhares já se manifestaram contra o conflito, entre eles artistas e produtores culturais cuja atuação há muito serve como foco de resistência ao projeto autoritário e obscurantista liderado por Putin”, avalia Sombra, que é formado em Jornalismo pela Ufba.

Veja as fotos de Rodrigo Sombra:

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Casos de boicote a produtores de cultura russa têm acontecido ao redor do mundo. No Brasil, estátuas de Vladimir Putin foram retiradas de museus nas cidades de Gramado (RS) e Olímpia (SP). “Boicotar indiscriminadamente artistas russos por conta da guerra me parece um equívoco. Não se deve cultivar uma ideia monolítica a respeito da Rússia e de sua gente”, pondera.

Objetos e pessoas Com temática livre, resumindo seus mais de 10 anos de atuação, estão expostas 29 obras do baiano no Museu de Belas Artes de Nizhny Tagil. São fotografias feitas por ele em Salvador, Ipiaú (sua cidade natal), São Paulo, Havana, Nova York e São Francisco. “Isso não é algo em que pensei muito enquanto escolhíamos as imagens”, diz Sombra, sobre a mostra na Rússia contar com fotos tiradas nos EUA.

As images incluem objetos e pessoas em lugares como praias, parques e  zonas rurais. “Espero que esta exposição possa, de alguma, forma transmitir uma sensação de como a fotografia tem sido uma ferramenta para reencantar a vida ao meu redor. Acima de tudo, Artifício e Raiz é uma exploração muito pessoal de luz e matéria, sombra e gesto, alteridade e amor”, escreveu Sombra no texto de apresentação do trabalho na Rússia.

Em 2019, Rodrigo Sombra apresentou sua primeira individual, Noite Insular: Jardins Invisíveis, na Galeria São Paulo Flutuante (SP), com a curadoria da artista plástica Regina Boni. Temática, era composta por fotos tiradas durante as quatro viagens que fez a Cuba. No mesmo ano, virou um fotolivro.

O texto de apresentação daquela exposição foi escrito por Caetano Veloso, com quem Sombra foi visto há poucos dias no Porto da Barra. “Sombra revela-se um artista verdadeiro e um observador sensível. A beleza de suas fotos reside na aventura humana de quem capta e de quem é captado. Isso leva quem as vê a pensar mais longe e sentir mais fundo”, escreveu, na época.

Recentemente, Rodrigo Sombra codirigiu o videoclipe de A Rota do Indivíduo (Ferrugem), versão de Zeca Veloso, filho de Caetano, para uma música de Djavan e Orlando Morais. Agora, o fotógrafo baiano está preparando uma exposição com imagens feitas em Salvador.