Intensidade da cantora Maysa é retratada em minissérie

Vida da artista estreia nesta segunda-feira (5), na Rede Globo

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  • Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2009 às 21:54

- Atualizado há um ano

A mesma impetuosidade emotiva que conduzia a vida da cantora Maysa direciona a minissérie Maysa - quando fala o coração. A convite de Jayme Monjardim, filho da cantora e diretor da produção, o autor Manoel Carlos dissecou os momentos mais relevantes na história da artista, após meses de pesquisa num extenso material guardado por Jayme.

Larissa Maciel será a protagonista da minissérie que narra a trama da cantora Maysa(Foto: Pedro Paulo Figueredo / Carta Z) 

Depois de esmiuçar desde arranjos originais a dezenas de registros de shows e entrevistas, Maneco selecionou as passagens mais tórridas da vida de Maysa. Sem nenhuma ordem cronológica, decidiu contar a história da cantora dos 15 aos 40 anos de idade, interrompidos por um trágico acidente de carro no Rio, em 1977.

Nesse mesmo ano nasceu Larissa Maciel, escolhida entre mais de 200 atrizes para interpretar a cantora na trama que estreia amanhã, na Globo. 'Me preparei mais de 20 anos para esse trabalho. A ficha ainda não caiu. Estive anestesiado esses meses de gravação e só me posicionei como diretor. No dia da estreia, me permito assistir como filho', emociona-se Jayme.

Manoel Carlos, autor da minissérie, utilizou apenas 10% de todo material de Jayme Monjardim(Foto: Pedro Paulo Figueredo/ Carta Z)

Embalada a emoção, a história de Manoel Carlos, que conta com vários elementos ficcionais, não chega a camuflar a ousada personalidade da cantora. Tanto que o autor não poupa toda a insensatez de Maysa, que será mostrada em cenas de noitadas, bebedeiras e tentativas de suicídio.

A história pretende mostrar, em nove capítulos, que, além de estar à frente de seu tempo, Maysa traduzia toda sua fossa e paixão em canções. Acordes que eram cantados em mais quatro idiomas pela inquieta poliglota, conhecida por gravações em inglês, espanhol, italiano e francês. Uma de suas mais conhecidas interpretações é a canção Ne me quite pas.

CARACTERIZAÇÃO

Para se preparar para incorporar a dama de incríveis olhos verdes, chamados de 'oceanos não-pacíficos', Larissa mergulhou por um ano neste projeto, num trabalho de dez horas diárias de aulas de corpo, voz, sessões de fonoaudiologia e uma incansável pesquisa. 'Senti que a Maysa ia aprovando o meu trabalho. Ela foi orquestrando o meu aprendizado desde o início. A cada cena, por mais simples que fosse, carregava todo um universo de emoções', explica a atriz.

Quase toda gravada em externas, a minissérie foi rodada em locações como o Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e o Hotel Quitandinha, em Petrópolis, que serviu de cenário para reproduzir shows, como o do Olympia, em Paris. Já o Palácio Laranjeiras, no Rio, virou cenário do interior da suntuosa casa da família Matarazzo. No início da trama, aos 17 anos, Maysa se apaixona pelo bilionário empresário André Matarazzo, vivido por Eduardo Semerjian, 20 anos mais velho.

Do casamento com separação de bens – por exigência dela –, nasceu o único filho do casal, Jayme Monjardim. Pouco depois, Maysa explode como cantora e enfrenta toda a resistência da tradicional família paulistana. Ao optar pela música, se separa de André, faz shows pelo mundo e torna-se uma das cantoras brasileiras mais bem pagas da época.

Para retratar com sofisticação essas imagens, Jayme convidou o diretor de fotografia Affonso Beato, que assinou trabalhos internacionais, como longas do cineasta Pedro Almodóvar. 'Com ele, apresentamos uma estética apurada para lançar esse trabalho no cinema e, em breve, também em DVD', avisa Jayme.

Outros convites também emocionaram Jayme na trama. Na escolha do elenco, o autor sugeriu que os filhos do diretor, Jayme e André Matarazzo, deveriam interpretar o próprio pai em duas épocas da história.

Nesse turbilhão de sentimentos que permeia a produção, não poderiam faltar os tórridos amores da cantora, como o compositor Ronaldo Bôscoli, vivido por Mateus Solano. Apesar do breve romance, a relação deu frutos. Foi Bôscoli quem apresentou a Bossa Nova à Maysa, que gravou diversas canções do músico, como O barquinho, conhecido internacionalmente. 'Eles tiveram um caso interessantíssimo, intenso, arrebatador. É esse o tom dessa história. Os limites de uma mulher que não se poupou na vida', destaca Maneco.

ENTREVISTA - MANOEL CARLOS

Manoel Carlos conversa com a serenidade dos sábios. Mas não explicita sua erudição. Prefere manifestar a experiência de mais de 50 anos como ator, diretor e autor de tevê reciclando o cotidiano em suas histórias contemporâneas.

Quase sempre conduzidas por intensas e humanizadas protagonistas batizadas de Helena, muitas vezes traidoras ou mentirosas, mas sempre inspiradas na mitológica Helena de Troia. Mas, na contramão de suas novelas passadas no Leblon, Maneco foi pego de surpresa com um inusitado pedido de Jayme Monjardim.

O diretor sugeriu que o autor transformasse em minissérie a vida da cantora Maysa, mãe de Jayme. Diante do convite, o paulistano de 75 anos não só se deparou com o ineditismo em sua carreira de escrever sobre a vida de alguém que já existiu, mas com o dilema de configurar em folhetim a vida polêmica da cantora na trama Maysa - quando fala o coração, que estreia amanhã, na Globo.

Jayme disponibilizou todo o acervo da Maysa. O que você priorizou para a minissérie diante do vasto material?

Fiquei admirado quando recebi o arquivo porque tinha coisas aparentemente insignificantes. Ela guardou tudo, tinha todos os arranjos originais de tudo que gravou. Fiquei bobo. Ela parecia tão porra-louca, mas não era não! Essa organização inicial foi o mais duro de enfrentar, porque sabia que usaria só uns 10% de tudo.

Minhas colaboradoras, Angela Chaves, Mariana Torres e a minha filha, Maria Carolina, fizeram uma relação pelos acontecimentos da vida dela. Eram tópicos de tentativas de suicídio, bebedeiras, festas, shows. Diante disso, via o que mais me atraía.

Mas é importante lembrar que não é uma biografia da Maysa. É uma minissérie escrita por mim e baseada na vida dela.

Na trama, que não obedece uma ordem cronológica, você inseriu vários elementos ficcionais. Por quê?

Queria ter a liberdade de fazer o que eu quisesse com a vida dela. Claro que não há nenhuma deturpação. Mas mudei coisas, não obedeci ordens. Se você perceber, o filme Piaf - um hino ao amor é absolutamente ficcional. Onde está o (cantor) Charles Aznavour, que era o grande amor de Piaf?

Tem acontecimentos que são chatos na vida de qualquer pessoa. E alguns pequenos episódios rendem muito. Para você ter uma ideia, o marido André Matarazzo, primeiro grande amor dela, fica na história até morrer. Mas o (Ronaldo) Bôscoli, com quem ela teve uma relação de quatro meses, está em oito capítulos.

O Carlos Alberto, que viveu com ela anos, está em um capítulo porque só havia a chata rotina do casamento. Valorizei a relação dela com o Bôscoli porque é muito mais rica e intensa.

Diante dessas escolhas, em algum momento você receou a reação do Jayme?

Não. Só aceitei fazer esse trabalho porque ele me deu carta-branca. Fiquei muito envaidecido. Pensei bem, conversei com a minha mulher, falei: 'Tenho uma relação tão boa com o Jayme, tão pacífica. De repente, vou mexer num negócio que é da mãe dele, podemos ter algum atrito'.

Mas não tive coragem de negar. Conversei com ele e estabeleci algumas condições. Iria fazer como se fosse a vida da Angela Maria. Não posso ficar pensando que ela é a mãe do Jayme. Numa cena, ela toma um porre e corta os pulsos e eu vou falar: 'Poxa, mas é mãe do Jayme'. Ele disse que o que eu fizesse seria gravado. E não fez uma mudança.

Nesta minissérie, você retrata a força da figura feminina, que está presente em todas as suas tramas. Por que você sempre cria personagens femininas com tanta intensidade?

Só trabalho com mulheres, que são mais fáceis de se relacionar. Como a maioria das minhas personagens é feminina, quero estar cercado delas para conviver com as mais variadas experiências. Elas são mais interessantes, mais fortes, mais confessionais. Fornecem mais subsídios para um autor.

Quando uma mulher é traída pelo marido, reúne as amigas e todas choram. Quando um homem é traído por uma mulher, se fecha, não fala para ninguém. Leva um fora e diz que foi ele quem deu. A mulher é mais verdadeira, se expõe, chora.

Em sua próxima novela, ‘Viver a vida’, que vai ao ar após ‘Caminho das Índias’, você vai continuar valorizando as mulheres através da protagonista Helena. Você teme se repetir?

As personagens são bem diferentes. Mas vou fazer a história que sempre escrevi. Sempre faço a mesma novela. Não gostam? (risos). Pela primeira vez, vou ter como protagonista uma Helena jovem, entre 30 e 35 anos.

Mas, como todas as outras, vai ser uma mulher do Leblon, contemporânea. Quando Maysa sair do ar, vou sentar no computador, escrever a sinopse em uns dez dias. Depois, trabalhamos elenco, figurino e começo a escrever.

Provavelmente após o Carnaval, para que o Jayme inicie as gravações em junho. E o nome não deve mudar. Já tinha registrado há mais de 20 anos, quando fiz uma minissérie na Manchete, Viver a vida. Mas esse trabalho não tem nada a ver com o antigo.

Você renovou seu contrato coma Globo até 2015. Nesse período, pensa em retomar os planos de fazer um 'remake' de ‘A sucessora’, num recomeço de fazer adaptações literárias, como no início de sua carreira?

Tenho vontade de pegar minhas colaboradoras e dar A sucessora para elas. Tenho todos os capítulos. Ficaria com a supervisão. A Globo me pediu um remake de Baila comigo, mas não quero. Se eu refizer, não vou ficar satisfeito.

Uma novela é mágica, pertence a um período da nossa vida. Não sou mais a pessoa que escreveu aquilo. Vou ter um trabalho filho da mãe para mudar e acabo fazendo uma novela nova. Isso é um problema. Quando me pediram para refazer A sucessora, disse que ela tinha 126 capítulos de meia hora cada. Agora, transformar esses 126 capítulos em 210 capítulos de 40 minutos é escrever uma novela nova. Teria de criar mais 140. Aí eles me deram razão. É melhor uma novela nova.

QUEM É QUEM

Maysa (Larissa Maciel)

A cantora vivia intensamente, se entregando à paixão e a todos os seus vícios, como o cigarro, a bebida e os remédios para dormir. Determinada e destemida, se separou do marido para poder continuar a carreira.

Jayme Monjardim (André Matarazzo/Jayme Matarazzo)

Filho de Maysa, guardou rancor da mãe por ela ter se ausentado de sua vida no auge do sucesso. Aos 15 anos, depois de viver num internato na Espanha, decide se emancipar ao voltar ao Brasil.

Inah Monjardim (Ângela Dip)

Mãe afetuosa de Maysa. Sempre se preocupou com o futuro da filha e com suas ideias inovadoras.

Alcebíades Monjardim (Nelson Baskerville)

Conhecido como Monja, é o pai da cantora. Tinha um estilo de vida boêmio e sempre promovia atividades artísticas em sua casa.

André Matarazzo (Eduardo Semerjian)

Primeiro marido de Maysa e pai do seu único filho. André era um importante empresário da indústria mundial. Os 20 anos de diferença entre eles vieram à tona diante das ideias retrógradas do marido, que tentava impedi-la de cantar.

Amália Matarazzo (Denise Weinberg)

Sogra de Maysa, nunca foi a favor do casamento de seu filho com a cantora.

Andrea Matarazzo (Rogério Falabella)

Sogro de Maysa.

Ana (Priscilla Rozenbaum)

Personagem que sintetiza as três secretárias que assessoraram a cantora ao longo de sua carreira.

Ronaldo Bôscoli (Mateus Solano)

Umdos namorados mais intensos de Maysa. Teve um breve e tórrido caso de amor com a cantora e influenciou suas opções artísticas. Foi um dos precursores da Bossa Nova.

Miguel Azanza (Pablo Bellini)

Espanhol que viveu com Maysa por dez anos após o fim do casamento com André Matarazzo. Se conheceram quando a cantora fez sua turnê pela Europa.

Gabriela (Melissa Vettore)

Ex-mulher de Miguel Azanza. Desistiu de seu casamento quando descobriu a traição do marido.

Carlos Alberto (Marat Descartes)

Ator de tevê e um dos últimos romances de Maysa. Apresentou-lhe a pequena cidade de Maricá, na região dos lagos. Maysa se apaixonou pelo lugar e comprou uma casa onde passava longas temporadas

(Notícia publicada na edição de 04/01/2009 no CORREIO)