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Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2020 às 18:08
- Atualizado há 2 anos
Duas teses produzidas por doutoras formadas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) foram premiadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). >
As teses vencedoras são: “Princípios de design para o ensino de biologia celular: pensamento crítico e ação sociopolítica inspirados no caso de Henrietta Lacks”, desenvolvida por Ayane de Souza Paiva, e “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e reemergentes”, produzida por Jaqueline Goes de Jesus.>
O reconhecimento do Prêmio Capes ao trabalho da doutora Ayane de Souza Paiva na área do Ensino, “é uma oportunidade de apontar caminhos do ensino de ciências e biologia numa perspectiva, tanto crítica quanto virtuosa, visando uma formação mais abrangente que contextualize ciência com sociedade, ética e política e dar visibilidade ao caso da professora Henrietta Lacks”, afirmou Paiva.>
De acordo com ela, que, atualmente, é professora do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Mato Grosso a tese é fruto de uma trajetória de muita implicação com a pesquisa acadêmica e com a docência, então, a conquista tem muitos sentidos e um significado especial”.>
A pesquisadora não enxerga a premiação “apenas como uma conquista individual, mas uma vitória coletiva. Como mulher, nordestina e periférica da classe trabalhadora, essa premiação significa uma conquista não só minha, mas de todas as pessoas que vieram antes de mim e que me proporcionaram a materialidade desse prêmio. Como uma cientista, Ayane Paiva estende seu prêmio para todas as mulheres que lutam para ocupar espaços semelhantes, num ambiente ainda marcado pelo masculino e pelo machismo”.>
Ela comemora dizendo que “receber essa premiação é dizer que o Nordeste venceu, a universidade pública venceu, as mulheres venceram e a favela venceu. O prêmio é nosso!”. Além disso, tem “a esperança de inspirar mais pesquisadores em formação a valorizar suas pesquisas, não apenas como um produto do mestrado ou doutorado, mas como um marco de suas vidas”.>
Experiência do doutorado no mapeamento genômico do novo coronavírus Com a tese intitulada “Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e re-emergentes”, a doutora formada pela Ufba, Jaqueline Goes de Jesus foi premiada na área Medicina II. O trabalho é resultado da participação de Jaqueline no projeto Zika in Brazil Real Time Analysis (Zibra), que teve como objetivo compreender a origem, eventos de introdução e dispersão, bem como a identificação de cepas ou genótipos com maior potencial epidêmico dos arbovírus Zika, Chikungunya e Febre Amarela.>
De acordo com a pesquisadora vencedora, a experiência obtida com as pesquisas ao longo do doutorado, permitiu-lhe trilhar os caminhos que a levariam a ser a pioneira no mapeamento genético do novo coronavírus, na América Latina, no mês de março de 2020.>
Jaqueline Goes teve participação como primeira autora na equipe que sequenciou, em tempo recorde de 48 horas, o genoma do SARS-CoV-2, no primeiro caso brasileiro da doença. O trabalho teve uma grande repercussão no meio científico, com ampla divulgação na imprensa e períodos científicos. >
Jaqueline também considera que “o prêmio é de toda a equipe do Projeto Zibra”, realizado através de consórcio entre a Fiocruz e as Universidades de Oxford e de Birmingham, na Inglaterra, onde Jaqueline também realizou treinamento durante o período de doutorado sanduíche. >
Em seu trabalho, foi utilizado de forma pioneira, no Brasil, um sequenciador portátil em tempo real (MinION) que integrou um laboratório itinerante que percorreu o Nordeste brasileiro. Além do impacto direto para a população estudada, a tecnologia utilizada foi transferida para o diagnóstico de arboviroses nos Laboratórios Centrais Estaduais (LACEN), ratificando a importância da ciência aberta para as emergências em saúde pública.>
Os resultados obtidos a partir dos experimentos foram divulgados em cinco publicações relevantes, sendo duas destas na Nature e Science. A tese que foi defendida em 2019, também recebeu o Prêmio Gonçalo Moniz de Pós-Graduação, na categoria Egresso – Doutorado (1º lugar), e no XIII Encontro de Pós-Graduação das Áreas de Medicina I, II e III da CAPES, com o Prêmio de Melhor Trabalho de Tese.>