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Canção busca lançar luz a figuras que "resistem nas margens" da história
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2024 às 12:12
O cantor e compositor Xaium lança a canção "Maria Felipa", que revisita a luta pela independência do Brasil, com um enfoque especial no contexto da Bahia e na data simbólica de 2 de julho. A música destaca histórias de resistência e coragem frequentemente apagadas pela narrativa oficial da história.
“Na minha visão, Maria Felipa é a personificação das histórias que resistem nas margens, que não foram incluídas no projeto oficial de nação, mas que permanecem vivas e pulsantes na cultura popular. Por isso, essa música vai além de ser um tributo a essa heroína; é também uma homenagem a todas aquelas que, como ela, foram excluídas da narrativa oficial, mas que desempenharam um papel fundamental na construção da resistência e da verdadeira identidade do Brasil", explica o artista.
Ele continua: "Quando eu falo 'Marielle vive em Maria Felipa' e inverto a ordem natural da cronologia delas, estou apontando para essa força de representação que coexiste no passado, presente e futuro. Parafraseando Glauber Rocha, eu diria: as crianças brasileiras não devem acreditar em uma independência às margens do Ipiranga. Close em Maria Felipa, a verdadeira imagem do povo brasileiro”.
Musicalmente, "Maria Felipa" mistura música baiana com influências de afro house e kuduro. O single é acompanhado de um videoclipe dirigido pelo próprio Xauim, também conhecido como Matheus L8 no cenário audiovisual. Gravado em Saubara, a 103 km de Salvador, o vídeo captura a essência de uma região marcada por cultura e resistência, que todo 2 de julho vê as ruas serem tomadas na madrugada por uma procissão de mulheres com lençóis brancos, levando facões e espingardas, além de panelas de mingau, para homenagear as ancestrais, que alimentaram combatentes durante as batalhas. Os trajes serviam ao propósito duplo de disfarce e dar susto nos portugueses, que pensavam ver fantasmas.
“Neste clipe, pude propiciar o encontro de duas forças populares pelas quais tenho profunda admiração e que participaram da mesma guerra. Reuni a heroína Maria Felipa de Itaparica com as Caretas do Mingau de Saubara. Existem algumas interseções entre elas; vou destacar duas. A primeira é a força e a habilidade popular de subverter e lutar com as armas que possuem. A segunda é o fato de que essas duas potências da história baiana foram marginalizadas e até hoje lutam em outro campo de batalha para serem reconhecidas”, conta Xauim.
O projeto inclui, ainda, o lançamento de três produtos adicionais: um vídeo de poesia em Libras com recitação de Bárbara Carine, um guia educacional para professores, e uma versão do clipe com interpretação em Libras.
“É importante para mim que esse trabalho tenha desdobramentos, e por isso decidi disponibilizar para download um guia, elaborado pela historiadora Jaqueline Machado, para que os professores possam utilizar em sala de aula. Neste material, abordamos a independência do Brasil a partir da participação e do papel da Bahia. É urgente lembrar que as tropas portuguesas não fugiram com o grito do Imperador às margens do Ipiranga em 1822, mas sim com as guerras que ocorreram posteriormente neste território", acrescenta.
A produção de "Maria Felipa" foi realizada com o apoio do edital SALCINE da Fundação Gregório de Mattos.