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Daniel Silveira
Publicado em 21 de abril de 2018 às 10:47
- Atualizado há 2 anos
Sexta-feira, por volta de sete da noite. Enquanto ruas e calçadas do centro da cidade vão ficando vazias, os bares começam a ficar movimentados. Durante o dia, o Largo do Rosário é ponto de vendedores ambulantes.>
À noite, recebe cadeiras, mesas e se torna point de happy hour. Um observador desatento pode até não perceber que, aos poucos, senhoras e senhores perfumados e muito bem vestidos - alguns até de paletó e gravata - compram ingressos, passam por uma porta e sobem uma longa escada. (Foto: Renato Santana/Divulgação) No primeiro andar da casa de número 5 é onde o couro come, ou melhor, onde a sola do sapato é gasta. É o Lugar Comum, onde grupos animados, uma galera com pelo menos 50 anos, se joga na dança de salão.>
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“Esses locais são os melhores para tomar uma cerveja”, afirma, categoricamente, uma das frequentadoras, Dalva Sacramento, de 60 anos. A aposentada conta que, por receio da violência das ruas, passou a frequentar clubes e bares da cidade que têm como atração serestas e bandas que tocam bolero e forró. >
Os espaços estão em diversos bairros da cidade. Além do Lugar Comum, nas Mercês, tem o Clube Comercial, que fica na Avenida Sete, o Mousa, na Liberdade, o Bogary, na Ribeira, o Kantarerê em Patamares, o Kitutes de Yayá, no Campo Grande, o Clube Espanhol, na Barra. Esses são os mais famosos e populares. Ramigton Santana dá aulas de dança para quem frequenta serestas (Foto: Renato Santana/Divulgação) Mete dança O aposentado Ramigton Santana é praticamente viciado no dois pra lá e dois pra cá. “Comecei a dançar quando me aposentei, em 1996. Fiz um curso na Uneb e há seis anos dou aula”, conta. Ramigton mantém turmas de dança toda segunda e quarta-feira em que o público é basicamente de meninos e meninas’ acima dos 50 anos.Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração, tecnologia, bem estar, pets e as melhores coisas de Salvador e da Bahia: Assim como ele, os alunos são vezeiros nas serestas da cidade. “Há mais de seis anos eu frequento para dançar, conhecer a praça e olhar se tem passos novos para aprender”, diz. Outro motivo que o leva às serestas é a tranquilidade: “Dificilmente tem confusão e é uma oportunidade de encontrar amigos que não vemos há muito tempo”, afirma. A música é ótima, gosto muito porque pegam MPB e colocam no ritmo de seresta. Jô Castro e o marido, Roberto José, saem para dançar juntos e costumam ir ao Lugar Comum Mas dá para conhecer gente nova, pelo menos para Vânia Coutinho. “Faço amigos em tudo que é lugar”, comenta a aposentada. Durante o tempo em que a reportagem conversou com ela, Vânia parou algumas vezes para falar com passantes e pessoas de mesas próximas.>
“Todo mundo me faz bem, me dá prazer”, conta. Ela também se atrai pela dança e arrisca uns passos, mesmo sozinha. “Gosto muito de dançar, me preenche. Tive momentos difíceis na vida e o que me revitalizou foi a música. Para mim estar aqui é uma terapia”, completa. Eu acho aqui bem seguro, o segurança acompanha a gente na hora de ir embora, não tem briga. Diz Angelina Lisboa, agricultora e frequentadora do Lugar Comum e de outros clubes de seresta em Salvador. E a paquera? Em um lugar com damas e cavalheiros dançando, claro que isso não falta, né? O pintor de automóveis Jairo Santos (nome fictício porque ele preferiu o anonimato) une o prazer de bailar com a arte de flertar. >
“A dança é o que mais me atrai nesses bares. A gente vem para se divertir, mas se tiver de paquerar, paquera também”, comenta aos risos, porém na entoca. Seu Jairo, de 66 anos, é casado, mas não dispensa galanteios.>
O processo é simples, segundo ele. “Você dança com a menina. Se ela encostar a cabeça em seu peito, está a fim”, conta. Depois de entender o sinal, o segundo passo é começar a papear com a dama. “Joga uma conversa agradável. Se ela quiser, fica. Se não tiver gostando, volta para a mesa dela”, explica. E se a resposta for negativa, é só começar tudo de novo com outra pretendente. E ele confessa: “já arranjei algumas namoradas assim”. Aqui não é o melhor local para buscar relacionamento, mas para dançar e criar novas amizades. A gerente comercial Hercília Lisboa comenta que não gosta de sair para paquerar, prefere se divertir Mas tem gente que não gosta muito desse esquema, principalmente algumas moças. A gerente comercial Hercília Lisboa, 54, é uma delas. “Acho que aqui não é o melhor local para buscar relacionamento, mas para dançar e fazer novas amizades”, afirma.>
No entanto, ela confessa que vez ou outra pode pintar um namorico. “Mas é claro que rola. A gente olha ao redor, o rapaz vem na mesa, chama para dançar e pode até trocar um zap”, diz. A irmã dela, Angelina Lisboa, 60, concorda: “Namorei por oito anos com uma pessoa, mas aqui é realmente para dançar”, conclui.>
Leva de casa Se encontrar o amor da vida na seresta é difícil, o segredo é já chegar ao local com companhia. É assim quando o casal Jô Castro, 58, e Roberto José, 60, resolve sair para se divertir.>
“A gente gosta de dançar, mesmo não sendo bailarinos. E a música daqui é ótima, gosto muito porque eles pegam MPB e colocam no ritmo de seresta”, comenta a aposentada. Os dois se conhecem há 30 anos, são casados há 24 e fazem questão de estar juntos na balada.>
Iê, infiel... As serestas dos clubes e danceterias da cidade recebem um público bastante diverso, que gosta de dançar e paquerar. O flerte pode dar certo e a noite acabar na casa de algum dos parceiros ou mesmo num quarto de motel próximo.>
“É muito comum, se der certo aqui, a gente vai para um lugar mais tranquilo”, comenta Antônio Silva (que pediu anonimato por ser casado). “Venho aqui há muitos anos e tenho muita história. Minha namorada atual, eu conheci aqui”, comenta, lembrando que já se separou quatro vezes. >
“De vez em quando rola de uma mulher vir aqui atrás do marido, mas não chega a ter briga”, relata uma funcionária de um desses clubes, que também preferiu não ser identificada. Decidi começar a dançar para não ficar em casa só vendo televisão e me enferrujando. Conta dona Bernadete Magalhães ou Bel, como é conhecida. Ela tem 87 anos, faz aulas de dança e é figura carimbada nas serestas. Pés de valsa Saber dançar não é pré-requisito para ir às serestas, mas faz toda a diferença. Jairo Santos conta que fazia aulas de dança numa academia e por isso começou a frequentar essas festas. “Como sei dançar, não costumo levar fora”, comemora o pintor.>
A aposentada Bernadete Magalhães também não fica para trás. Aos 87 anos, Bel, como é chamada pelos amigos, faz dança de segunda a quinta-feira para arrasar nas pistas dos clubes no fim de semana.>
“Comecei há 15 anos, fiz dança moderna, flamenca, de salão e vou às serestas. Me sinto maravilhosa” , comenta. Os clubes são incentivos para mostrar o resultado das aulas, como é o caso da também aposentada Vanda Monteiro. “É bom pra mente, para o corpo e a gente não fica em casa perdendo tempo”, completa.>
VÁ LÁ DANÇAR>
Lugar Comum Fica no Largo do Rosário, nas Mercês, no centro da cidade. Funciona às terças-feiras e de quinta a sábado a partir das 19h. Aos domingos, a partir das 17h. A casa tem shows com três bandas todos esses dias com ingressos variando entre R$ 10 e R$ 20. Telefone: 71 3329-1294.>
Clube Comercial Fica na Avenida Sete de Setembro, 710, próximo à Paróquia de São Pedro. Funciona com a Noite Dançante às sextas-feiras, às 19h, com ingresso a R$ 18, e a Tarde Dançante aos domingos, com ingresso a R$ 15. Aos sábados, o local pode ser alugado para festas particulares. Telefone: 71 3329-4816. >
Mousa Music Fica no final de linha do Guarani, na rua de mesmo nome, na Liberdade. As serestas acontecem às segundas e quintas-feiras, a partir das 19h30, e domingos a partir das 15h.>
Na segunda, o ingresso custa R$ 10 e no domingo varia entre R$ 15 e R$ 20 a depender das atrações. Às quintas, a entrada é gratuita. Telefone: 71 98809-9400.>
Kitutes de Yayá Fica no Campo Grande, também funciona como restaurante e pizzaria. Às sextas, às 19h, sábados e domingos, às 16h, se tranforma em casa de show, com entrada a R$ 10. Desde o dia 20 de abril, também vão acontecer apresentações de forró no espaço, todas as quintas-feiras, também às 19h. Telefone: 71 3328-0538.>
Cubanakan O restaurante fica na Avenida Otávio Mangabeira, no Jardim de Alah, e tem shows de quarta a domingo. Durante a semana, as apresentações começam às 19h30 e aos sábados, às 16h.>
Aos domingos é comum ter dois shows diferentes, um às 16h e outro às 20h. O valor da entrada varia entre R$ 15 e R$ 25, a depender das atrações. Telefone: 71 3342-0481. >
Cabana Bogary Na Avenida Beira-Mar, na Ribeira, o clube dos Sub-Oficiais e Sargentos da Marinha recebe, toda sexta-feira, a partir das 19h, e domingo, às 12h, a Grande Seresta Romântica, com entrada a partir de R$ 10 para sócios e R$ 15 para não-sócios. Telefone: 71 3316-5171.>
Kantarerê O bar fica na Rua Manoel Antônio Galvão, em Patamares. A casa apresenta shows de sexta a domingo com ingressos a R$ 15. Sexta e sábado, a partir das 21h, e aos domingos às 16h. Telefone: 71 3363-4015.>
Clube Espanhol O espaço fica na Avenida Oceânica, em Ondina, e tem um encontro dançante que acontece, uma vez por mês, às sextas-feiras, a partir das 20h, com ingressos a R$ 40. Sócio não paga. Telefone: 71 3194-0250. >