De vendedor de lápide a barbeiro: descubra os trabalhos dos cantores baianos antes da fama

Bell, Ivete, Claudinha e até Gil na lista

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Publicado em 24 de agosto de 2023 às 16:29

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Engana-se quem pensa que os cantores baianos já começaram a carreira com muito sucesso. Antes de alcançar a fama, artistas como Ivete Sangalo, Bell Marques, Xanddy e Léo Santana tiveram que ralar muito. Parte dos artistas locais tiveram trabalhos bem diferentes antes de se tornarem famosos.

Vendedor de lápide, de cobra, ambulante, barbeiro e até repórter estão na lista de ocupações inusitadas de estrelas da música baiana. Descubra quais foram os trampos de 10 famosos antes da fama.

Ivete Sangalo

Apesar de ter nascido em uma família de músicos e do contato com a arte desde a infância, o primeiro emprego de Ivete Sangalo foi como modelo e vendedora de roupas em um shopping de Salvador.

Após as mortes do pai e do irmão, ela precisou se virar parar ajudar a sustentar a família.

Ivete, a mãe e a irmã começaram a vender marmitas, ofício que ela dividia com as apresentações nos bares da região. “Eu entregava quentinhas. Passava dias cortando cebolas, chorando. Mas tudo mudou. Virei cantora", disse Ivete ao programa “Vídeo Show” em 2002.

Ela chegou a cursar um ano de administração e secretariado executivo. Só em 1993, aos 21 anos, a estrela veria seu destino mudar ao assumir o vocal da Banda Eva, grupo de axé que a projetou para a fama. Hoje, além de ser uma das cantoras mais prestigiadas e premiadas do país, é apresentadora da Globo e recebe um salário milionário da emissora.

Bell Marques

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Antes da fama, Bell já vendeu de tudo: cobras, galinhas e até lápides. Sim, você não leu errado: por volta dos anos 1966, ele desenhava lápides para túmulos de cemitério para vender. “Ficava na porta do cemitério e quando via qualquer enterro, chegava de mansinho e oferecia meu trabalho”, contou.

Tudo começou quando seu irmão faleceu em um acidente. Ele tinha 9 anos e ia com a mãe todo domingo no cemitério visitar o túmulo do irmão. “Passava a tarde inteira lá. Eu estudava para a admissão em cima de um túmulo. Daí eu comecei a entender que existia um negócio ali por trás, incluindo o comércio de lápides. Como eu sempre fui muito atirado, sabia negociar as coisas, fui numa marmoraria e perguntei quanto era uma pedra de lápide. Eu sempre fui muito habilidoso em trabalhos manuais, e comecei a desenhar isso. Quando tinha um enterro, eu procurava as pessoas e dizia assim: “quanto é que o cara faz lá? O cara faz por R$ 30, então eu faço por R$ 25. Aí a pessoa dizia: pô, eu quero””, lembrou Bell em entrevista recente ao canal do Pida! no YouTube.

Ainda menino, Bell fechava as encomendas das lápides, ia para casa fazê-las - com o nome do falecido, data e dizeres - e entregava aos clientes. “Isso virou um negócio na minha vida. Eu era muito jovem, um garoto, mas eu sempre fui, desde cedo, muito proativo. Buscava coisas pra fazer, pra vender, porque eu vinha de uma família de pouca condição e eu tinha que me virar de qualquer jeito”, explicou.

Xanddy

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Xanddy Harmonia trabalha desde criança. Ele já foi ambulante, e vendia picolé e pastel pelas ruas da capital baiana. "Aos 14 anos eu estudava, mas, para ajudar em casa, eu também me virava. Vendia pastel, vendia picolé, carregava compras na feira", contou no Instagram.

"Para cantar - fazer o que eu mais amava, carregava equipamento, montava. E, acreditem, mesmo não ganhando dinheiro na maioria das vezes, era ali que eu me realizava. Voltava para casa com os olhos brilhando, sorriso no rosto e sonhando com a próxima vez que ia acontecer de novo", dividiu o cantor com os seguidores.

Antes da fama, ele chegou a emprestar seu vozeirão ao Capelinha, tradicional picolé baiano, fazendo ecoar o famoso bordão pelas praias e ruas da capital baiana: “Olha o Capelinha, aê!”. Em entrevista ao programa de Pedro Bial, exibido na Globo em 2018, ele contou sua história de vida e até descreveu a infinidade de frutas que anunciava e o ajudava a vender o Capelinha pela cidade.

Léo Santana

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Assim como sua maior referência (Xanddy), Léo Santana também precisou ralar antes de virar um dos maiores nomes do pagode baiano. Já trabalhou fazendo coquetéis em bar, vendendo frango assado na praia e também já teve uma barbearia na capital baiana.

Ao Raul Gil, o baiano contou que conseguia ganhar mais dinheiro nas praias de Salvador aos finais de semana. "Eu vendia frango gritado. 'OLHA O FRANGO ASSADO', vendia bastante. No final de semana dava um dinheirinho, dia de semana era mais complicado. [E quando dava fome] tinha que arrancar uma coxa", relembrou aos risos.

O cantor também foi proprietário de uma barbearia na capital baiana aos 15 anos. Antes de abrir o negócio, Léo aprendeu a cortar cabelo e foi auxiliar em um salão de beleza. "Comecei a trabalhar como ajudante aos 13 anos", disse o artista, que sempre ajudou nas despesas da casa.

Gilberto Gil

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Você sabia que Gilberto Gil quase seguiu a carreira de administrador em uma grande empresa?

Antes de se dedicar à arte, Gil estudou na faculdade de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), entre 1961 e 1964.

Logo depois da formatura, o artista baiano chegou a participar de um programa de trainee na multinacional Gessy Lever, atualmente conhecida como Unilever.

No entanto, ainda nos anos 1960, Gilberto Gil abandonou a carreira de administrador de empresas para lançar seu primeiro single oficial chamado “Procissão”.

Durval Lelys

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Acredite se quiser, mas, antes de fazer sucesso na música baiana, Durval Lelys era arquiteto. Ele é formado em Arquitetura pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em seu currículo como profissional consta até mesmo uma coordenação nacional de projetos do Banco Econômico da Bahia, onde comandava um grupo de 13 arquitetos.

“Fui coordenador nacional de projetos do Banco Econômico, participei de projetos de mais de 200 agências no banco, fiz muitas casas, clínicas, edifícios. Uma parceria também numa sociedade com Marcelo Brasileiro, que era meu ex-sócio do Asa de Águia, Júlio Olímpio (já falecido), em que fizemos um escritório de arquitetura. Foi muito badalado na época em que eu estava na transição entre arquitetura e música”, contou Lelys em entrevista ao Jornal Correio*, em 2022.

Ao mesmo tempo em que projetava espaços institucionais, Lelys já arriscava seus acordes como músico. Com o sucesso do seu bloco, a arquitetura foi ficando para trás e o Carnaval tomou conta da sua vida.

Apesar de não exercer mais a profissão, Durval Lelys ainda está à frente de projetos para familiares e amigos. Segundo o cantor, o fato de não ter abandonado totalmente a arquitetura é por ela está intimamente ligada à arte. Em contato com o Alô Alô Bahia, a assessoria do cantor confirmou que a arquitetura é como um hobby para o cantor. Ele ainda projeta móveis e reformas pessoais. Também pensa na estrutura de seus trios e palcos de shows.

Claudia Leitte

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Baiana de coração, Claudia Leitte ingressou na faculdade de Direito e Comunicação Social, aos 18 anos, saindo das duas para fazer Música. Em 2002, antes de ficar conhecida no cenário nacional com a música, a então vocalista da Babado Novo foi convidada pela Band para ser repórter especial na cobertura do Carnaval, então intitulada “Farol Folia”.

Claudinha subiu no trio da Banda Eva, onde Ivete Sangalo cantava “Prefixo de Verão”. Num dado momento, Ivete estendeu o microfone à loira, que cantou um trecho da música e tomou o microfone das mãos da entrevistada e disse: “Agora, você entrevista e eu canto”. Claudia mandou ver na música, deu uma desafinadinha, dançou e e, por fim, devolveu o microfone à dona.

Ela não deu certo como repórter, mas conseguiu visibilidade com a Babado Novo.

Daniela Mercury

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Antes mesmo de ser reconhecida em todo o mundo pelo canto, Daniela dedicou-se a dança. Ela é licenciada em dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), tendo iniciado nessa arte aos quatro anos de idade. A Rainha do Axé foi professora de jazz, dança moderna e ballet clássico, além de ter se especializado e atuado em outros gêneros, como dança afro e dança contemporânea.

Daniela começou a cantar profissionalmente aos quinze anos, mesma idade em que subiu em um trio elétrico pela primeira vez, integrando a carreira de cantora e bailarina.

Margareth Menezes

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A atual ministra da Cultura do Brasil tinha forte contato com a arte desde criança. Ela cantou no coral da igreja e depois iniciou uma carreira promissora como atriz. No teatro, Margareth ganhou um prêmio de melhor intérprete em 1985, pela peça “Banho de Luz”, e continuou atuando em outros trabalhos nos anos seguintes. Foi aí que passou a conciliar a carreira no teatro com a carreira musical.

Com a ajuda do músico e produtor musical Silas Henrique, com quem já tinha firmado parceria no teatro, Margareth começou a se apresentar em bares, o que lhe ajudou a ganhar reconhecimento, conseguindo uma presença consolidada no cenário musical baiano da época.

Tom Zé

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Pequenos detalhes sempre mexeram com a cabeça de Antonio José Santana Martins, nascido em 11 de outubro de 1936, em Irará, interior da Bahia, a 120 quilômetros de Salvador. Em 1961, Tom Zé trabalhou em uma loja de presentes aberta pela família. Por influência de sua tia Gilka, esposa do tio e deputado Fernando Santana, mudou-se para Salvador para se iniciar profissionalmente como músico.

Aos 26 anos, em 1962, passou em primeiro lugar no vestibular da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde teve o privilégio de ser aluno da nata da vanguarda musical europeia, como H. J. Koellreutter e Ernst Widmer. No mesmo ano, o jornalista Orlando Senna apresentou-o a Caetano Veloso.