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Estadão
Publicado em 1 de abril de 2024 às 06:00
A vasta obra de Frida Kahlo (1907-1954) pode ser definida, à parte seu rico universo artístico, como um relato de suas experiências de vida. Não faltam exemplos disso em seus escritos pessoais - que serviram como um bom ponto de partida para a cineasta Carla Gutierrez fazer Frida, um competente filme sobre sua vida. >
Foi a estreia de Gutierrez como diretora de longas. Ela combinou narração em primeira pessoa com imagens de arquivo e animações interpretativas do trabalho da pintora no documentário, que já está disponível no Amazon Prime Vídeo.>
Peruana, mas que bem cedo se mudou para os Estados Unidos, a diretora lembra que sua primeira conexão com as pinturas de Frida foi na faculdade. “Eu era uma jovem imigrante e havia uma pintura específica que realmente me apresentou à sua voz, em que ela aparece como artista na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Vi minha experiência vivida naquele momento refletida na pintura. Então, ela se tornou parte da minha vida”, diz ela.>
Novos planos>
Gutiérrez trabalhou antes em projetos importantes, como os documentários RBG (2018) e Julia (2021), o que lhe permitiu envolver-se a fundo com a criação. Mas quando um amigo diretor lhe sussurrou o nome de Frida Kahlo, ela voltou aos livros da faculdade. Em poucas horas, estava fazendo planos para dirigir: “Essa história realmente me disse que eu precisava dar um passo a mais e dirigi-la. Percebi que ela mesma poderia contar muito de sua própria história e senti que isso ainda não havia sido feito. Espero que seja uma nova maneira de entrar em seu mundo, em sua mente e em seu coração e de realmente entender a arte dela de uma forma mais íntima e crua”.>
Gutiérrez explica que Kahlo não deu muitas entrevistas durante sua vida, mas escreveu cartas muito íntimas e pessoais. E ficou impressionada com seu senso de humor, com seu sarcasmo e ironia, bem como com “o quanto ela era explícita em suas opiniões”. “De certa forma, é como uma confiança bagunçada e um feminismo desordenado”, resumiu.>
A equipe de filmagem teve de pesquisar em museus de todo o mundo para encontrar as cartas que seriam compiladas para criar uma imagem completa da artista - o que incluiu o Museu Frida Kahlo na Cidade do México; o Museu Nacional de Mulheres nas Artes, em Washington (onde foram achadas as correspondências com sua mãe); e o Museu de Filatelia, em Oaxaca, onde estavam as cartas que ela escreveu sobre diversos assuntos para seu médico, desde seu casamento complexo até seu aborto espontâneo.>
Animação >
Uma das decisões criativas mais importantes foi animar a arte de Kahlo, o que se mostrou um pouco controverso desde que o filme estreou no Sundance Film Festival. Alguns adoraram, outros não pareceram convencidos. Mas isso fazia parte da visão do filme desde seus estágios iniciais. A esperança de Gutiérrez era transportar o público do real para o mundo interior de Frida.>
“Sempre pensei em seu coração e em suas veias passando de suas mãos para a tela”, enfatiza a diretora. “Queríamos respeitar as pinturas, mas, ao mesmo tempo, introduzir uma animação lírica, para que parecesse que estávamos mergulhando em seus sentimentos”, completa.>
Gutiérrez está especialmente orgulhosa pelo fato de seus colaboradores serem, na maioria, latinos e bilíngues. O compositor Victor Hernandez Stumpfhauser é mexicano. A equipe de animação é formada por artistas mexicanos e inclui a diretora de arte Renata Galindo: “Injetar essa compreensão cultural do país no filme é fantástico.”>