Espetáculo Inferno aquece temporada teatral no Molière

Monólogo será apresentado pela atriz Ana Paula Bouzas aos sábados e domingos do mês de agosto

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  • Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2023 às 12:28

Ana Paula Bouzas no solo Inferno
Ana Paula Bouzas no solo Inferno Crédito: Maurício Maia/divulgação

O que uma trabalhadora doméstica tem a dizer sobre o seu precioso trabalho, sobre ela mesma e, é claro, sobre suas patroas e patrões? Esta é a premissa do bem-humorado e provocativo monólogo Inferno, espetáculo que traz a atriz Ana Paula Bouzas na pele de uma diarista nordestina que reflete sobre sua controversa e secular profissão, uma certa herança maldita recebida por tradição e que faz do seu cotidiano o próprio paraíso e inferno. A peça estreia neste sábado (5), no Teatro Molière, da Aliança Francesa Salvador, na Ladeira da Barra, permanecendo em cartaz todos os sábados e domingos do mês.

O espetáculo, escrito a quatro mãos pelos dramaturgos Rodrigo de Roure e Luiz Felipe Andrade, com direção de Fábio Espírito Santo, aborda a conflituosa relação social entre trabalhadores domésticos e patrões, apresentando um dos muitos personagens que transitam em zonas de preconceito e invisibilidade na nossa sociedade, figuras que são tratadas como estereótipos e enquadradas em padrões de comportamento que acabam por subestimar a complexidade de suas existências. Para a atriz Ana Paula Bouzas, "dar voz à diarista Vânia é tentar mexer em padrões de pensamento e convivência, mesmo que eles estejam insistentemente se impondo dentro e diante de nós."

“Fazer Inferno é poder nos perguntar e nos provocar, artisticamente, meios de problematizar e despotencializar essa doença que é a desigualdade social e suas nocivas armadilhas cotidianas”, conclui.

O espaço estético onde ocorre toda a narrativa do espetáculo nos remete, simbolicamente, a uma clausura, uma prisão, o "quartinho de empregada", o lugar escondido, reservado para nossa protagonista nos contar sua história. Sobre isso, o diretor Fábio Espírito Santo explica a escolha por um espaço reduzido para atuação, apenas um quadrado medindo 2,40mx2,40m: “O espaço cênico simboliza esse lugar de opressão que está presente ainda em boa parte das habitações urbanas, um vergonhoso cômodo da casa onde se guarda os entulhos de uma vida inteira. E é este espaço opressor que, historicamente, é destinado às muitas Vânias desse país”.

 O nome do espetáculo surge a partir da ideia do espaço imaginário no qual é inserido tudo aquilo que determinada parcela da sociedade não reconhece como puro, legítimo, sagrado, válido. “Inferno como uma realidade que não muda, que se repete contínua e historicamente, fazendo a personagem viver o que lhe legaram”, observa Rodrigo de Roure, um dos autores da peça. “Mas Vânia assume esse lugar como seu locus de resistência e faz da exclusão e da invisibilidade sua arma, tornando-se ‘demoníaca’ no sentido daquele que faz mundos se comunicarem, que promove o movimento, que instaura a rebelião”, completa Luiz Felipe Andrade, coautor da obra.

SERVIÇO - Espetáculo Inferno, com Ana Paula Bouzas | Sábados e domingos de agosto, às 19h, no Teatro Molière da Aliança Francesa Salvador-Bahia (Ladeira da Barra) | Ingressos: R$ 60 / R$ 30, Vendas exclusivamente pelo WhatsApp: (71) 99921-2368