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Roberto Midlej
Publicado em 7 de março de 2024 às 06:00
Não estranhe se, enquanto estiver assistindo a Farofeiros 2, bater aquela sensação de que voltou aos anos 1980, num daqueles filmes dos Trapalhões. A receita não é muito diferente das antigas produções do quarteto que alcançou seu ápice nos anos 1970/80: piadas escatológicas ou envolvendo minorias; uma pitada de humor pastelão, muito barulho nas cenas e situações completamente caóticas envolvendo os personagens. >
Foi pensando nisso que o repórter, ao entrevistar parte do elenco, perguntou se Farofeiros 2 - sequência do sucesso de 2017 que levou 2,5 milhões de pessoas aos cinemas - não corria o risco de soar "anacrônico" em alguns momentos (na verdade, todo o filme parece anacrônico, mas o jornalista não queria ser indelicado). >
Charles Paraventi, que interpreta o personagem Rocha, como no primeiro filme, reagiu ironicamente à pergunta e fingiu dar um Google: "Deixa eu ver aqui: anacrônico...", disse, enquanto mexia no celular. Também falou ao repórter, rindo, em tom de apelo: "Não ofende a gente não...". Sejamos claros: uma pergunta, desde que feita com o mais absoluto cuidado, jamais ofenderá alguém. O que pode ofender são piadas tirando sarro de idosos - trocando em miúdos: etarismo -, gordos e pobres. E é isso que Farofeiros 2 faz durante quase todo o filme.>
Essa, já sabemos, é a velha receita da dupla Roberto Santucci (direção) e Paulo Cursino (roteiro), que já trabalhou junta em comédias esquecíveis como Até Que a Sorte Nos Separe (2012) e O Candidato Honesto (2014). E, justiça seja feita, acertaram, por exemplo, com Tudo Bem no Natal Que Vem (2020), da Netflix, comédia ingênua para ver com a família. >
E Cursino, como roteirista, levou para as telas no ano passado a sua melhor criação da carreira: o sensível Mussum, o Filmis (2022), sobre a vida do comediante que integrava os Trapalhões. Portanto, quando Cursino e Santucci querem, também acertam e já mostraram capacidade disso.>
Piadas óbvia e preconceituosas>
Mas em Farofeiros 2, claramente, optaram por um caminho um tanto preguiçoso, com piadas que, quando não são preconceituosas, são óbvias. Tanto que, antes mesmo de serem concluídas, o espectador já vai ser capaz de prever o desfecho delas.>
A história é mais ou menos a mesma do primeiro filme. Em resumo: famílias se reúnem para ter as férias dos sonhos, mas acabam descobrindo que o lugar onde vão se hospedar é um pesadelo: os quartos estão caindo aos pedaços, são sujos, mofados e invadidos por animais como mosquitos ou até um lagarto. As praias, que prometiam ser paradisíacas, estão lotadas e, em vez do sol que os personagens esperavam, cai uma chuva torrencial. O elenco é praticamente o mesmo do filme de 2017: Cacau Protásio, Maurício Manfrini, Danielle Winits e quase todos estão de volta.>
Há ainda a chegada de dois baianos integrando o elenco coadjuvante: Sulivã Bispo - conhecido como a Mainha de Na Rédea Curta - e Evaldo Macarrão, que estava na primeira fase da novela Renascer como Jupará e pouco aparece no filme. >
Sulivã é o dono da pousada onde os protagonistas se hospedam. Na verdade, também não podemos dizer se é o "dono" ou a "dona" do estabelecimento, afinal a personagem se chama Darci - nome usado tanto para homem como para mulher - e os personagens fazem piada sobre o visual andrógino dele/a. >
"Darci traz uma dúvida pertinente, porque nos perguntamos: é ele ou ela?", diz Sulivã, para quem o filme não chega a depreciar ninguém: "Tudo que tem no filme não digo que seja apenas 'leve'. Mas é um humor tranquilo, que não deprecia, que não ridiculariza. Tem, por exemplo, o cuidado de trazer atores realmente baianos para não trazer um estereótipo do baiano. E tem uma construção bacana dos personagens", elogia o ator.>
Em cartaz: UCI (Shopping da Bahia, Paralela e Barra); Cinemark (Salvador Shopping); Cinépolis (Salvador Norte e Parque Shopping Bahia); Cineflix (Bela Vista) e Glauber Rocha>