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'Fui criada para realizar': Val Benvindo fala sobre identidade, afeto e representatividade negra no Muncab

Conferencia com jornalista baiana acontece nesta sexta-feira (11) e é parte do projeto Porto dos Saberes

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 10 de julho de 2025 às 14:47

Val Benvindo será a sexta atração do Porto dos Saberes
Val Benvindo será a sexta atração do Porto dos Saberes Crédito: Reprodução/Instagram

Espaço de arte, cultura e reflexões pautadas na negritude, o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) recebe, neste sábado (12), a jornalista, apresentadora e produtora cultural Val Benvindo para o bate-papo “Gênero, Raça e Comunicação: Territórios de Afetos”. O encontro faz parte do projeto ‘Porto dos Saberes’, que já trouxe para o museu nomes como Erika Malunguinho, Dra. Lívia Vaz e Vilma Reis, propondo uma plataforma de ideias, trocas e disseminação da produção intelectual negra contemporânea.

Nascida e criada no Curuzu, em Salvador, Val Benvindo tem uma trajetória marcada pela comunicação e pelo ativismo negro. Atualmente, é gerente do Afropunk Brasil e idealizadora do Festival Humor Negro, no Globoplay e Multishow. Em entrevista ao CORREIO, Benvindo compartilhou sua abordagem para o encontro de sábado, destacou a importância do pensamento negro no fortalecimento da identidade e da valorização de espaços como o Muncab e das potências de narrativas contadas por corpos dissidentes.

Pode dar um resumo de como será a conferência neste sábado?

Minha ideia para sábado é que seja um papo sobre gênero, sobre raça, sobre esse momento do afeto, mas a partir da minha visão, das minhas experiências. Eu cresci num ambiente familiar muito poderoso e, com um olhar atento, entendi isso muito nova, e isso fez total diferença na minha vida. Então, eu quero muito falar a partir desse lugar mesmo. Sempre gostaria de me apresentar como soteropolitana do Curuzu, porque dizer que eu vim desse território já diz muito sobre mim.

Qual a importância, para a sua identidade, de ter sido criada num bairro demarcadamente negro?

Ter sido criada no Curuzu foi o grande diferencial da minha vida. Eu me reconhecia ali dentro, entendi a importância e todo o poder de ser uma pessoa preta. Entendi também todas as agruras, porque, infelizmente, ser preto nesse nosso país é, de fato, muito difícil. Mas foi dentro do Curuzu, com as músicas do Ilê, dentro do terreiro Axé Jitolu, que eu entendi o que era ser uma pessoa preta no nosso país. Foi ali que eu me reconheci nas rainhas do Ilê, nas deusas do Ébano, nas associadas, em todos os participantes do Ilê e também nesses convidados. A Noite da Beleza Negra, a saída do Ilê... são pessoas do mundo inteiro que saem de suas casas para assistir. E eu conheci muita gente ali. Eu conheci Naomi Campbell, uma modelo internacional, na casa da minha avó, literalmente, na casa da minha avó. Assim, sabe? Então compreendi que o Curuzu foi o meu mundo, e é um mundo para muita gente, e se torna um mundo nesses momentos também. Todos os olhos do mundo inteiro se voltam para o Curuzu em determinados momentos, como esse da vinda de Naomi e de tantas outras pessoas que são potências mesmo, são ícones do mundo negro. Então, conhecer essas pessoas e não precisar sair do meu mundo para conhecê-las foi, de fato, transformador.

Qual a importância de promover a reflexão sobre a sociedade brasileira a partir do pensamento negro contemporâneo?

Eu acho que é sempre importante a gente falar sobre pensadores negros, sobre o pensamento negro, né? Eu acho que hoje a gente pode falar sobre a gente. A gente, por muito tempo, ouviu as nossas histórias sendo contadas das formas que as pessoas queriam, a partir dos livros de história, do olhar de pessoas brancas. Poder hoje trazer reflexões a partir do olhar de autores pretos, de pessoas pretas, de vivências de pessoas pretas, é importante demais. Acho que isso acaba se tornando exemplo para que as pessoas entendam que somos corpos dissidentes, com potências, com nossas diversidades entre nós, mas que a gente pode realizar muitas coisas, e muitas coisas diferentes, num corpo só e nessas diferenças entre esses corpos. Então, acho que é importante demais.

Qual o papel de um espaço cultural como o Muncab para a cidade de Salvador?

Eu acho que o Muncab cumpre um papel muito importante: um papel de formação de admiradores de arte, de explicação, de trazer a arte preta para o protagonismo mesmo, para o centro dos debates também. Acho que ter um espaço como o Muncab ali, pensado por Capinam, liderado por Capinam durante muito tempo, e hoje liderado por duas mulheres pretas, é algo muito importante para a nossa cidade, muito importante para a arte preta brasileira de forma geral. É também um espaço de potências, sabe? E, eu acho, de formação. A gente chega ali, a gente se reconhece, a gente entende aquela arte. Aquela arte é nossa, é para a gente também, e, a partir dali, a gente vai compreendendo mesmo.

Ao longo da sua trajetória, você transitou entre o jornalismo, a produção cultural e a criação de conteúdo. O que te move na escolha de como e por onde contar essas histórias?

Eu acho que a escolha de como e por onde contar as minhas histórias está muito ligada a esse ambiente em que fui criada. Eu fui criada para realizar. Meus pais nunca diminuíram as minhas vontades e os meus desejos. Então, acho que tudo o que eu decidi fazer foi me espelhando em pessoas que eu via fazendo e pensava: “Nossa, é possível”. E a minha vontade de fazer diferente, de realizar, de fazer para a gente, de fazer de um jeito em que outras pessoas olhassem e se reconhecessem, e a vontade de falar e de contar a história a partir da minha ótica, do meu jeito, acho que tudo isso perpassa pelo ambiente em que fui criada.