Inglês que faz sucesso com gírias da Bahia estudou no Sartre e tem sobrenome Queiroz

Joe Wolchover tem 415 mil seguidores no Instagram, morou em Salvador e, como todo gringo, já pagou R$ 70 em pintura corporal no Pelourinho

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  • Esther Morais

Publicado em 21 de maio de 2024 às 13:10

Joe Wolchover
Joe Wolchover Crédito: Arisson Marinho / CORREIO

Um sotaque misturado, algo meio baiano, meio gringo, com um português que enrola alguma vezes, mas é certeiro no “oxe”, “barril” - e até “desgraça”. É comum gringos usarem o público brasileiro para fazer sucesso na internet, mas o inglês Joe Wolchover, que viralizou nas redes com vídeos falando ‘baianês’, tem, de fato, sangue baiano.

Filho de um britânico e uma brasileira, o “Gringo Baiano” já acumula 415 mil seguidores no Instagram - e ganhou 100 mil do total em duas semanas -, 7,9 milhões de views em apenas um post, além da interação no TikTok.

“Eu sempre falei que sou brasileiro, não nasci aqui [no Brasil], mas sou brasileiro. Meu apelido no colégio [na Inglaterra] era ‘Brazil’, mas aqui eu era gringo”, diz. Na bio das redes, ele se define, 100% gringo e 100% baiano. Os dois ao mesmo tempo.

Apesar de ter nascido em Londres, os primeiros anos de vida de Joe foram em Salvador. O nome não mente a identidade: Joseph Louis Queiroz Wolchover. Durante a alfabetização, os pais decidiram matricular ele na Escola Pan Americana da Bahia, por causa do ensino em língua inglesa.

Ainda na infância dele, a família foi morar na Inglaterra e Joe vinha durante as férias. Mas, anos depois, ao retornar para o Brasil por um semestre, o gringo queria algo "mais brasileiro" e acabou parando no Sartre.

“Estudei no Sartre pelo programa de intercâmbio, por seis meses. Eu tinha uns 13 anos, era só um vagabundo, só gostava de bater o baba no clube, piscina e [jogar] PlayStation”, relembra, rindo. "Depois eu comecei a ir pra reggae na casa dos meus amigos, mas agora eu estou aposentado, gosto de ir pra praia de Piatã ou da Barra, [comer] um churrasquinho", lista. 

"Das comidas, tudo que provei eu gostei, menos sarapatel, tava com cheiro de sangue. Mas gosto de cozido, feijoada, e acarajé já foi minha comida favorita "

Joe Wolchover
"Grino Baiano"

Como um bom gringo, Joe chegou a pagar R$ 70 em uma pintura corporal da 'Timbalada', no Pelourinho, durante um rolê. Recentemente, ele trouxe uma amiga do Paraná que pagou R$ 150 pelos desenhos no braço e na perna. “Mas agora já tô de boa, peguei as manhas”, garante.

Outro perrengue é o português. Cheio de variações, conjugações verbais e fonéticas, o idioma não é fácil de aprender. Para Joe, a sorte é que ele tem contato com a língua desde pequeno, mas foi só ao namorar uma brasileira que ele foi perdendo o “sotaque gringo” e melhorando o “baianês”.

“Meus amigos [brasileiros] ‘gastavam’ comigo, mas nunca levei como algo mal. Sempre tive sotaque de baiano, mas dava para ver que eu era gringo. Eu trocava palavras, mas o jeito sempre foi daqui porque minha única experiência com português era de Salvador”, conta.

O “Gringo Baiano” já acumula vindas para a Bahia e, além das férias durante a infância, pretende mais uma vez passar alguns meses em Salvador. A expectativa é voltar para Londres só em outubro, quando vai começar a faculdade de antropologia. Enquanto isso, Joe acumula memórias na cidade, uma delas, conhecer o staff do Bahia, time que torce.

“Eu conheci os jogadores. Fiquei bem tímido, mas foi muito massa. Muitas coisas estão acontecendo e ainda não caiu a ficha. Fui convidado pelo time. Foi muito marcante”, comemora. Torcedor também do Arsenal, ele nota uma diferença nos estádios. “A atmosfera na Fonte Nova é muito boa, muito massa. O Arsenal lota os estádios, mas não é assim”, compara.

"As pessoas daqui e da Inglaterra são muito diferentes. Aqui você conhece alguém na rua e parece que já conhece, não demora muito para ficar confortável, lá em Londres só bêbado o povo consegue interagir"

Joe Wolchover
"Gringo Baiano"

Sem planos de se tornar influencer

Das coisas que ainda não parecem reais está o fato de ser parado e reconhecido na rua. Tanto na Inglaterra, quanto no Brasil. Para Joe, no entanto, manter a vida de influencer não faz parte do projeto de vida. “Vou embora quando flopar”, brinca.

A ideia de fazer vídeos começou a ganhar corpo em dezembro de 2023 e, apesar dos números expressivos em uma carreira inferior a um ano, o "Gringo Baiano" revela que a vida de influenciador não é para ele. Pelo menos por enquanto.

“Eu recebo muitos comentários positivos mas eu não faço nada o dia inteiro, o que gosto é criar conteúdo bem feito com meu pai ou eu mesmo. Mas meu desejo não é ser influencer porque é desgastante manter um ritmo nas redes sociais”, diz.

O pai de Joe não tem uma rede social própria, mas faz sucesso nas aparições que faz ao lado do filho. A representação é de um típico britânico: pontual, engomadinho e amante de chá. Foi um vídeos dos dois juntos que fez o jovem inglês viralizar. Só depois, com um comentário nas redes falando sobre a mistura do português e inglês de Joe que veio a marca “Gringo Baiano”.