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Luiza Gonçalves
Publicado em 11 de junho de 2024 às 09:28
Às vezes é preciso deixar-se ir para enfim se encontrar, já diria Cartola. Ou, quem sabe ainda, se reencontrar. Doze anos atrás, o cantor capixaba Lúcio Silva se lançou como Silva com seu primeiro álbum de estúdio, Claridão, de maneira autoral e independente. Depois foram trabalhos dos mais diversos: de sua consagração enquanto intérprete com Silva Canta Marisa (2017) à popularização entre diferentes públicos com Brasileiro (2018); além dos feats com Anitta, Ludmilla e um projeto de verão, Bloco do Silva, que, cantando clássicos do carnaval, lhe rendeu dois álbuns e rodou as festas do Brasil.>
Seis anos sem lançar trabalhos autorais deixaram saudade no seu público - que fazia cobranças nas suas redes sociais - e um aperto no peito de Silva, um desejo de retornar às suas bases e de se reapresentar após tantos fluxos e aprendizados. Assim surgiu o novo álbum do cantor, Encantado: “È um recomeço. Mas não é uma coisa estratégica de carreira: é pessoal mesmo. Eu realmente precisava voltar para essa essência, para a composição. Compor para mim é uma necessidade. É tipo uma terapia mesmo. Estou muito feliz de voltar a fazer meu próprio som. Não falo isso cuspindo no prato que eu comi, porque o Bloco foi muito importante para mim, me tirou de uma caixinha, me obrigou a sair da minha zona de conforto. Mas eu sabia que em algum momento precisava retomar a criação”, disse Silva em entrevista ao CORREIO.>
“O álbum é um recomeço. Mas não é uma coisa estratégica de carreira, é pessoal mesmo. Eu realmente precisava voltar para essa essência, para a composição. Compor para mim é uma necessidade. É tipo uma terapia mesmo. Estou muito feliz de voltar a fazer meu próprio som. Não falo isso cuspindo no prato que eu comi, porque o bloco foi muito importante para mim, me tirou de uma caixinha, me obrigou a sair da minha zona de conforto. Mas eu sabia que em algum momento precisava retomar a criação”, observa o artista. >
Uma felicidade que se traduziu em sorrisos durante toda a conversa com o CORREIO. De seu habitat favorito, o estúdio, Silva detalhou o caminho de produção e composição que resultou no Encantado, já nas plataformas de música. Criar, mesmo depois do hiato, não foi tão difícil, principalmente por sua parceria inseparável com o irmão, Lucas Silva: “A gente ligou a caixa da composição e foi atrás da outra. No final entraram 16, mas se deixasse ia ser um álbum de 30 músicas”, brinca.>
Romantismo >
Romântico por natureza, Silva decidiu viver o sentimento sem medo nas letras de Encantado. “Eu realmente gosto de cantar sobre o amor e eu não vou lutar mais contra isso, faz parte de mim. A gente fala sobre o amor de várias formas nesse álbum”, pontua. As faixas vão do romance escancarado em Vou Falar de Novo até um fora em Risquei Você. Um dos destaques na temática e na interpretação é a música Carmesim, unindo beleza em sua letra densa e nas vozes de Silva e da cantora portuguesa Carminho.>
A faixa também chama atenção pela sua sonoridade, que conta com um sample de O Preço de uma Vida, de Erlon Chaves, de quem Silva é fã: “Sou apaixonado pelo Erlon Chaves, pela música que ele criou. Poderia passar horas falando dele”, conta animado. Encantado passeia pelo samba, rock, funk, clássico, com direito a participações de luxo como Marcos Valle, Arthur Verocai e Leci Brandão. “Como produtor, eu tenho uma visão muito aberta em relação à música. Quando vou fazer música hoje em dia, eu tento não me prender a um gênero, então o álbum tem várias vertentes, mas passando meu jeitinho de fazer. O importante no final é imprimir a sua identidade”, garante o cantor.>
O nome Encantado surgiu durante o carnaval de 2022, quando ele e o irmão foram maravilhados pelo desfile ‘Fala, Majeté! Sete chaves de Exu', da Grande Rio. Posteriormente, ganhou ainda um novo significado: “Estamos cercados de países que falam espanhol e eu sempre achei lindo que no espanhol a gente fala o nome + encantado, que é um jeito de se apresentar. Então, quando eu pensei que seria um álbum que eu me apresentaria de novo para as pessoas, seria ‘Silva, Encantado’”, explica. Os girassóis na capa vieram à mente do cantor por conta de uma campanha da Comme des Garçons dos anos 1990, que ganharam materialidade pelas pinceladas do artista plástico Elian Almeida.>
Para Silva, Encantado representa um amadurecimento profissional nas suas composições e também marca uma volta às turnês 100% autorais. Em agosto, o cantor inicia uma série de shows passando por 11 cidades, dentre elas Salvador, no dia 12 de outubro. “Vai ser lindo e eu tô com sangue no olho, porque estou com muita vontade de fazer show”, revela.>
Com um toque existencial, reflexivo e esperançoso, como na canção A Vida é Triste Mas Não Precisa Ser, Encantado marca ainda um objetivo simples e honesto de Silva: ser feliz na música. “Para mim, música é a coisa mais importante da minha vida e esse álbum é um retorno que eu estou fazendo para as coisas mais importantes para mim. Vale a pena lutar por isso”, finaliza.>